Noite de confrontos entre a Arménia e o Azerbaijão faz 100 mortos

Reacendimento da tensão entre os dois países do Cáucaso levanta receios de que possa desencadear uma nova guerra aberta. A última foi em 2020 e terminou com importantes cedências territoriais da Arménia.

Foto
Militares azerbaijanos durante os festejos em Bacu após a guerra contra a Arménia em 2020 POMAN ISMAYILOV / EPA

A tensão entre a Arménia e o Azerbaijão por causa do controlo sobre a região do Nagorno-Karabakh reacendeu na última noite e pelo menos 100 militares arménios foram mortos, segundo as autoridades dos dois países. Ambos os lados responsabilizam-se pelos ataques e Moscovo diz estar a mediar esforços para que seja alcançado um cessar-fogo.

O Governo arménio acusou as forças azerbaijanas de terem levado a cabo “bombardeamentos intensos” durante a madrugada desta terça-feira contra localidades próximas da fronteira entre os dois países. O Ministério da Defesa do Azerbaijão acusou, por seu turno, a Arménia de estar por trás de “actos subversivos em larga escala” em regiões fronteiriças e afirmou que algumas posições do seu Exército ficaram sob fogo hostil.

A Arménia disse que pelo menos 49 soldados foram mortos nas últimsa horas, enquanto o Azerbaijão indicou ter perdido 50.

Há três décadas que os dois países do Cáucaso estão envolvidos num conflito motivado pelas revindicações sobre a província do Nagorno-Karabakh. Internacionalmente reconhecido como parte do território do Azerbaijão, esta região é, contudo, habitada maioritariamente por arménios e é gerida por um governo-fantoche controlado pelas autoridades de Ierevan.

As divisões entre os dois países não se resumem a diferendos políticos, mas também religiosos: a Arménia tem uma população maioritariamente cristã, enquanto o Azerbaijão é sobretudo muçulmano. A nível internacional, a Arménia tem como aliado histórico a Rússia, enquanto o Azerbaijão tem sido cada vez mais apoiado militar e financeiramente pela Turquia.

Desde o final dos anos 1980 que o conflito teve vários reacendimentos, o último dos quais deu origem a uma guerra aberta entre os dois países em 2020, que durou seis semanas e em que houve mais de 6500 vítimas. Um acordo de cessar-fogo mediado pela Rússia pôs fim aos combates, embora tenha implicado importantes concessões por parte da Arménia.

As forças de Ierevan foram obrigadas a retirar-se de várias regiões próximas ao Nagorno-Karabakh que havia ocupado, bem como a ceder algumas partes importantes do enclave ao Azerbaijão. Em contrapartida, Moscovo enviou uma força permanente de manutenção de paz com cerca de dois mil efectivos para o território.

Os combates da última noite alimentam os receios de que venha a deflagrar um novo confronto em larga escala entre os dois países. O Kremlin assegurou esta terça-feira que o Presidente russo, Vladimir Putin, está a levar cabo pessoalmente todos os esforços para fazer reduzir a tensão entre os dois vizinhos do Cáucaso.

“É difícil sobrestimar o papel da Rússia e de Putin pessoalmente” neste conflito, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Moscovo já tinha negociado um cessar-fogo na segunda-feira, mas acabou por ser quebrado de imediato.

A Turquia disse que vai continuar a apoiar o Governo de Bacu e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu, aconselhou a Arménia a “cessar as provocações e concentrar-se nas negociações de paz e na cooperação com o Azerbaijão”.

Sugerir correcção
Comentar