Suécia à beira da viragem com vitória provável do centro-direita

Os Democratas Suecos, de extrema-direita e anti-imigração, deverão tornar-se na segunda força política no Parlamento.

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Magdalena Andersson à chegada à sede da campanha social-democrata Reuters/TT NEWS AGENCY

Os partidos de centro-direita da Suécia estão a caminho de conquistar uma estreita maioria de 175 assentos no Parlamento de 349 assentos depois das eleições legislativas deste domingo, derrotando o bloco de centro-esquerda, liderado pelos sociais-democratas da primeira-ministra Magdalena Andersson, a quem a autoridade eleitoral sueca atribui 174 assentos parlamentares, numa altura em que estão apurados cerca de 80% dos círculos eleitorais.

O líder do Partido Moderado, Ulf Kristersson, deverá tornar-se primeiro-ministro, enquanto os Democratas Suecos, de extrema-direita e anti-imigração, serão o maior partido de direita, conquistando pela primeira vez influência directa na política do país nórdico.

Uma sondagem à boca das urnas divulgada pelo canal público SVP deu inicialmente a vitória ao bloco de centro-esquerda, liderado pelo Partido Social Democrata da primeira-ministra Magdalena Andersson, o partido mais votado, com 30,5% dos votos expressos.

Mas à medida que os votos foram sendo contados, o bloco de direita formado pelo Partido Moderado, Democratas Suecos, Democratas Cristãos e Liberais passou para a frente, ainda que por uma margem muito ligeira.

O partido de extrema-direita anti-imigração Democratas Suecos poderá obter 20,7% dos votos, uma subida de mais de 3% em relação às eleições de há quatro anos, tornando-se assim na segunda força política no Riksdag, o parlamento sueco, à frente do Partido Moderado, com 19,0%

No entanto, um resultado conclusivo poderá não ser conhecido antes das primeiras horas da manhã desta segunda-feira e, se a corrida estiver particularmente próxima, a publicação dos resultados finais poderá chegar apenas a meio da semana.

Em causa estão pequenas mudanças na votação recolhida pelos oito principais partidos parlamentares, que poderão ainda determinar se o próximo Governo em Estocolmo será, de facto, liderado pelo centro-direita.

“A sondagem à boca das urnas da SVT acertou sempre desde que começaram a fazê-las”, dizia Mikael Gilljam, professor de ciência política da Universidade de Gotemburgo, logo após o fecho das urnas. “Não sabemos se será o caso desta vez. Mas se eu tivesse que apostar o meu dinheiro em alguém, seria na esquerda”, acrescentou.

Uma outra sondagem, do canal privado TV4, deu inicialmente aos partidos de centro-esquerda 50,6% dos votos, contra 48% dos partidos de direita.

Crime e imigração

A campanha eleitoral ficou marcada por temas favoráveis à oposição de direita, como o aumento da criminalidade violenta, a imigração e o aumento do preço da energia.

O pediatra Erik George, 52 anos, não tem dúvidas que a campanha eleitoral foi dominada pelo aumento do populismo. “Acho que vivemos tempos realmente tumultuosos e as pessoas têm dificuldade em perceber o que está a acontecer”, disse em declarações à Reuters momentos antes de votar.

“Temo a chegada de um Governo repressivo e de extrema-direita”, afirmou por sua vez Malin Ericsson, 53 anos, consultora de viagens, à saída de uma mesa de voto no centro de Estocolmo, temendo a subida dos Democratas da Suécia, liderados por Jimmie Akesson.

Com a lei e ordem a dominar a retórica da direita, o Partido Social Democrata apostou durante a campanha na economia, nomeadamente o aumento do preço da energia e as potenciais dificuldades que poderão enfrentar as famílias e as empresas.

“Votei por uma Suécia onde continuamos a apostar nos nossos pontos fortes. A nossa capacidade de enfrentar, colectivamente, os problemas da sociedade, o sentido de comunidade e o respeito mútuo”, disse Magdalena Andersson após votar num subúrbio de Estocolmo.

Andersson foi ministra das Finanças por muitos anos antes de se tornar, há cerca de um ano, primeira-ministra da Suécia. O seu principal rival era, à partida, o líder do Partido Moderado, Ulf Kristersson, que se vê como o único político capaz de unir a direita e oferecer uma alternativa ao centro-esquerda. “Se as pessoas votarem pela mudança, nós iremos cumprir”, disse Kristersson à Reuters durante um dos seus últimos comícios de campanha.

Nos últimos anos, Kristersson aprofundou os laços com os Democratas Suecos, um partido formado em 1988 nos círculos fascistas e neonazis e com supremacistas brancos entre os seus fundadores.

“Independentemente do que aconteça esta noite, a coisa mais importante para mim, para nós, para todos os Democratas Suecos por todo o país, são os malditos 175 assentos parlamentares para que possamos finalmente trazer uma mudança de poder e a nossa política pró-Suécia”, disse ontem Akesson aos seus apoiantes.

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