Madrid estende passadeira vermelha a Evenepoel na Volta a Espanha

Jovem Remco quebra “jejum” de 44 anos do ciclismo belga em grandes voltas. Lançado por Ivo Oliveira, Juan Sebastian Molano carimbou, no encerramento, ao sprint, o segundo triunfo da UAE.

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EPA/Javier Lizon

Chegou ao fim, com o sprint triunfal de Juan Sebastian Molano (UAE), à chegada a Madrid, a 77.ª edição da Volta a Espanha, encerrada com a etapa de consagração de Remco Evenepoel (Deceuninck-Quick Step). Sem surpresa, o belga consumou o primeiro triunfo da carreira numa grande volta, em que o português João Almeida foi quinto classificado.

Luke Plapp (INEOS) e Julius Johansen (Intermarché) ainda tentaram a fuga para a vitória, mas a dupla foi alcançada dentro do último quilómetro, altura em que os sprinters abriram as hostilidades para o último fôlego na Vuelta, lançado por Ivo Oliveira para o segundo triunfo da UAE em etapas, com Mads Pedersen (Trek) em segundo e Pascal Ackermann (UAE) em terceiro.

Evenepoel interrompeu o reinado do três vezes campeão - e um dos grandes azarados desta Vuelta -, Primoz Roglic, para retomar uma velha tradição iniciada por Gustaaf Deloor (1935 e 1936) e continuada por outros ciclistas belgas, como Edward van Dijck (1947), Frans de Mulder (1960), Ferdinand Bracke (1971), o monstro Eddy Merckx (1973) e Freddy Maertens (1977), o último a ser feliz em Espanha até a entrada em cena do ciclista da Flandres.

Mais... O jovem de 22 anos, natural de Schepdaal, um bairro de Dilbeek com pouco mais de cinco mil habitantes, é o primeiro ciclista belga a vencer uma grande volta desde 1978, quando Johan de Muynck se impôs no Giro de Itália. Uma proeza que demorou 44 anos a ser repetida por um “descendente” do “Canibal” Eddy Merckx.

A 21.ª etapa, 96,7 quilómetros reservados a uma última discussão privada entre especialistas de chegadas ao sprint – apesar de já nada para além do orgulho próprio haver para decidir neste domínio, face à autoridade absoluta de Pedersen (Trek-Segafredo) – resumia-se à colocação da passadeira vermelha para a passagem do pelotão liderado por Evenepoel até Madrid, cidade onde Tom Boonen, compatriota de Remco, foi campeão do Mundo em 2005.

Depois da vitória de Alberto Contador em 2014, a Vuelta terá, assim, de continuar a aguardar por um novo campeão da casa, não obstante as tentativas de Enric Mas, que pela terceira vez nas últimas cinco edições foi vice-campeão. Realidade dura numa altura em que Alejandro Valverde sai de cena, despedindo-se do ciclismo em Madrid, marcando uma era que Espanha deseja recuperar rapidamente.

Para além do maiorquino da Movistar, Evenepoel teve ainda a companhia de outro espanhol no pódio da Vuelta, com o jovem Juan Ayuso (a cinco dias de completar 20 anos), colega de João Almeida na UAE, a vestir a pele do esloveno Tadej Pogacar, que ao abdicar de uma participação na corrida espanhola abriu caminho para o catalão, segundo na Juventude, atrás de Evenepoel e à frente de João Almeida.

A UAE foi, apesar de até Madrid só ter conseguido uma vitória em etapas, por Marc Soler (na quinta tirada), a vencedora colectivamente. Em crescendo de forma, surgindo mais forte na terceira semana, João Almeida acabou por ficar refém do adiantamento de Juan Ayuso e do compromisso colectivo, que não deu espaço para o português tentar a sorte em alturas cruciais para poder aspirar a um lugar no pódio. Quinto da geral, Almeida acabou por beneficiar de algumas desistências, nomeadamente do esloveno Primoz Roglic, o que ajudará o ciclista da Emirates a processar todas as emoções desta Vuelta e a crescer para continuar a ser um nome de referência entre a elite.

Mais longe dos holofotes, Nélson Oliveira - que assumiu papel importante na Movistar, no apoio a Enric Mas - terminou no 37.º posto a pouco mais de uma hora e meia do vencedor. Ivo Oliveira, da UAE, pagou o preço do compromisso colectivo e foi 131.º, a mais de cinco horas do primeiro.

Mas a Vuelta teve outras figuras, a começar por Richard Carapaz (INEOS), vencedor da camisola “polkadot”, prémio de melhor trepador da prova que o equatoriano assegurou com um extra: três vitórias em etapas que salvaram a prestação da INEOS, que teve em Carlos Rodríguez o único homem no top 10.

Capaz de dividir opiniões e paixões no próprio país, fruto de uma rivalidade com o compatriota Wout van Aert, Evenepoel, ex-companheiro de João Almeida, viu compensado o sacrifício de ter abdicado do projecto futebolístico, mas também dos últimos tempos, depois de uma queda violenta em 2020, na Lombardia - após ter vencido a Volta ao Algarve -, o ter marcado.

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