Paquistão: blá,blá,blá e um país submerso

A dívida ecológica é um dos assuntos mais controversos no panorama internacional. Porém, as cheias que submergiram um terço do Paquistão encerram a discussão: a ajuda humanitária não passa de demagogia barata do Norte Global.

Com uma população de cerca de 200 milhões de habitantes, o Paquistão regista-se como o quinto país mais populoso do mundo. Ao mesmo tempo, é responsável por menos de 1% das emissões globais de CO2. Deverão estar a perguntar-se: “E o Norte Global?”. Ora, 12% do total da população mundial e 50% de responsabilidade histórica de CO2. Ligeiramente paradoxal, não acham?

O paradoxo torna-se ainda mais irónico quando se retrocede até 2015 - ano em o Acordo de Paris é assinado. Os líderes dos países do Norte Global prometeram uma doação de 100 mil milhões de dólares (o mesmo valor em euros) por ano aos países do Sul para que estes conseguissem investir na adaptação e mitigação dos impactos da crise climática.

Atualmente, apenas 25% do prometido foi cumprido, reforçando a inutilidade das Conferências das Partes e os compromissos estipulados no próprio Acordo de Paris. O Princípio das Responsabilidades Comuns mas Diferenciadas, o conceito de loss and damage (perdas e danos, numa tradução livre) e as promessas de materialização da dívida ecológica não passam de mecanismos de desinformação dolosa. Tanto para os países do Sul Global como para aqueles que são convencidos que os nossos Governos estão a agir face à dimensão do problema.

Enquanto os países do Norte Global dançam ao som da mão invisível e do mercado fóssil, o Paquistão é um dos muitos que suporta as milhares de pessoas mortas, casas e terras destruídas. E não se deixem cair no cinismo e inocência: o Norte Global e as empresas fósseis prevêem e premeditam estas mortes há décadas, com base em evidência científica que decidiram deliberadamente ignorar. Na verdade, a mão nunca foi invisível - sempre esteve manchada pelo sangue dos mais vulneráveis.

A população paquistanesa necessita de assistência internacional urgente - não sob a forma de empréstimo ou ações de caridade, mas sob a forma de reparações climáticas. O Fundo Monetário Internacional deve cancelar a dívida soberana do Paquistão imediatamente. Os Estados devem assumir um compromisso vinculativo para com o Mecanismo de Perdas e Danos, tendo consequências legais caso falhem no seu cumprimento.

Do mesmo modo, as empresas e corporações fósseis devem ser penalmente responsabilizadas pelos seus crimes e, ainda, taxadas pelos seus lucros extraordinários obtidos sob a falácia da guerra e da inflação - a receita seria canalizada para o fundo de perdas e danos. Afinal, o capitalismo fóssil não é só feito de Nações.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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