Paulino Vieira, um criador de génio, vai voltar aos palcos em 2023

Nome fundamental na música de Cabo Verde, Paulino Vieira vai regressar aos palcos em 2023, anuncia a plataforma Ao Sul do Mundo. Será no CCB, no dia 20 de Fevereiro.

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Paulino Vieira ANA VIOTTI

Ausente da ribalta há anos, o cantor, compositor, produtor e arranjador cabo-verdiano Paulino Vieira tem um concerto com banda marcado para o dia 20 de Fevereiro de 2023, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, depois de ter feito uma aparição discreta, a solo, nas Noites de Verão lisboetas, na Tapada da Ajuda, no dia 27 de Agosto.

O anúncio acaba de ser feito pela plataforma Ao Sul do Mundo, que enquadra o concerto na celebração dos seus dez anos de existência como uma cooperativa que junta profissionais da área da produção e da programação artística e que trabalha com artistas de várias áreas, como Fausto Bordalo Dias, Selma Uamusse, Conan Osíris, Filipe Sambado, Moullinex, Tristany, Lavoisier ou Paulo Flores, assegurando também a representação em Portugal de artistas internacionais como Kronos Quartet, Francisco El Hombre ou Gregory Porter.

Nascido Paulino Jesus Santos Vieira em 31 de Agosto de 1955, na vila de Praia Branca, na ilha de São Nicolau, Cabo Verde, numa família de músicos, Paulino aprendeu ainda na infância a tocar viola, cavaquinho e violino, acompanhando o pai, Matias dos Santos Vieira, em festas e serenatas. Aos 9 anos, mudou-se para São Vicente, onde estudou no Colégio dos Salesianos, aí recebendo formação musical e aprendendo a tocar clarinete, flauta, órgão e outros instrumentos. Depois de acompanhar veteranos como Ti Goy, Frank Cavaquim ou Chico Serra, integrou, ainda como jovem músico (entre os 16 e os 18 anos) o conjunto The Kings, que tocava versões de êxitos da música pop anglo-saxónica da época.

Foi a convite do célebre clarinetista e compositor Luís Morais (1935-2002) que se mudou para Lisboa, em 1973, onde veio a integrar a nova formação do grupo Voz de Cabo Verde, ao lado de Bana e o próprio Luís Morais. E foi a partir dessa data, e do Monte Cara, o “primeiro espaço” da cultura cabo-verdiana em Lisboa, que Paulino se foi evidenciando como compositor, arranjador e director musical de inúmeros projectos discográficos. O seu irmão, o também músico Toy Vieira, lembrava isso mesmo ao PÚBLICO, por ocasião do anúncio público do Projecto Re: Imaginar Monte Cara, que se concretizou num concerto e num disco: “O Paulino era número um, responsável por todo o sucesso dessa época. Na altura, nós éramos acompanhantes dele e aprendemos muito com ele.” Entre os músicos e cantores com quem trabalhou, estiveram inúmeros cabo-verdianos (Bana, Celina Pereira, Césaria Évora, Chico Serra, Dany Silva, Leonel Almeida, Lura, Maria Alice, Otis, Sara Tavares, Titina, Tito Paris, Vaiss ou Zezé Di Nha Reinalda) mas também portugueses, participando, como músico, em registos dos Heróis do Mar ou de António Variações.

A par do papel de relevo que teve no grupo que acompanhou Cesária Évora pelos palcos do mundo, bem como em vários discos por ela gravados (com destaque para o celebrado Miss Perfumado), Paulino Vieira também gravou a solo, destacando-se nessa sua produção os álbuns M’Cria Ser Poeta (1984) e Nha Primero Lar (1996). Durante a Expo’98, em Lisboa, participou no grande concerto que ali deu Caetano Veloso, no palco Sony. No livro Kab Verd Band (2006), o jornalista cabo-verdiano Carlos Filipe Gonçalves cita como epítetos aplicados a Paulino Vieira os de “monstro da música cabo-verdiana”, “músico de génio”, “poli-instrumentista” ou “grande orquestrador”, enquanto o museu virtual Cabo Verde & Música o descreve como “um ícone da música cabo-verdiana do seu tempo, na qual deixa uma marca profunda, como compositor, produtor, arranjador, instrumentista”.

No comunicado em que anunciam o concerto de Paulino Vieira, dizem, quase a terminar, os organizadores: “Em Fevereiro próximo, numa das mais importantes salas do país, Paulino Vieira terá a oportunidade de ajudar a celebrar estes 10 anos de intensa actividade da Ao Sul do Mundo, mas sobretudo de percorrer – rodeado por uma banda que está a ser preparada com todo o cuidado – uma brilhante carreira que permanece mais viva do que nunca, desfilando clássico atrás de clássico com a sua inimitável classe.” Os bilhetes para o concerto, segundo a organização, estarão disponíveis a partir das 15h desta quarta-feira.

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