Na Vuelta jogou-se à sorte e ao azar

Depois de 187 quilómetros de quase nada, houve dois quilómetros de quase tudo. Evenepoel furou já nos últimos três quilómetros e Roglic, depois de atacar numa pequena subida, acabou no chão, a escorrer sangue. Ainda houve dúvida sobre quem ficaria de camisola vermelha, mas a organização da corrida manteve a liderança com o belga.

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Evenepoel pede assistência técnica no final da etapa Eurosport

Etapa aparentemente inócua. Remco Evenepoel tem um furo, mas dentro dos últimos três quilómetros. Primoz Roglic ataca, ganha algum tempo, mas cai violentamente em pleno sprint. Foi isto que se passou nesta terça-feira na etapa 16 da Volta a Espanha, um dia sem interesse praticamente nenhum durante largas horas, mas com cinco minutos loucos no final.

A acção começou com o furo do camisola vermelha, que por estar dentro dos três quilómetros finais sabia não ter de se preocupar com perdas grandes e rolou tranquilamente até à meta. Em todo o caso, perderia sempre qualquer coisa se algum dos rivais conseguisse um corte para o pelotão (o regulamento daria a Evenepoel o tempo do primeiro ciclista do pelotão).

Nessa fase, já Roglic estava ao ataque, aproveitando uma pequena elevação para animar uma etapa até então desprovida de motivos de interesse. Motivado pelo atraso de Remco, o esloveno foi a puxar um grupo de cinco ciclistas e estava a servir de autêntico lançador de sprinters. O campeão da Vuelta pouco se importou, já que ganhar tempo a Evenepoel era mais relevante do que guardar energias para poder vencer a etapa.

Já com o sprint perdido – e em plena recta da meta –, Roglic caiu de repente, a alta velocidade, sem se perceber exactamente o que aconteceu (talvez um pequeno toque num ciclista à sua frente).

Resumo: a organização ainda demorou a dar a classificação, já que avaliar o momento e o motivo do atraso de Evenepoel seria a diferença entre haver novo líder ou ficar tudo na mesma. E ficou tudo na mesma, com o regulamento a proteger o belga (quedas e problemas mecânicos nos últimos três quilómetros não ditam perdas para o pelotão).

Roglic ainda ganhou oito segundos a Evenepoel, mas preferia não os ter ganho para não ter as feridas que tem. Com sangue a escorrer no braço e na perna, o esloveno terá, por certo, feridas para suportar nos próximos dias de montanha. E seja por um eventual abandono ou apenas pelas dores, talvez tenha acabado aqui a possibilidade de Roglic revalidar o título.

No duelo pela etapa o mais forte foi Mads Pedersen, que bateu ao sprint Pascal Ackermann e Danny van Poppel.

Para esta quarta-feira está desenhado o regresso à montanha. É uma etapa de “sobe e desce” permanente, com um final em alto numa contagem de segunda categoria. Esta seria, em condições normais, uma etapa para fugitivos, mas o atraso de Enric Mas e Primoz Roglic, conjugado com o poder físico de Remco Evenepoel em quase todos os dias de Vuelta, pode seduzir estas equipas a usarem as várias elevações desta etapa para tentar algo criativo durante o dia.

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