Edifício que vai acolher e expor a colecção de Julião Sarmento concluído em Maio de 2023

O Pavilhão Azul, em Lisboa, terá também uma programação própria. Andy Warhol, Nan Goldin, Marina Abramovic, Rui Chafes e Pedro Cabrita Reis são alguns dos nomes que integram o acervo privado do artista falecido no ano passado.

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Julião Sarmento Nuno Ferreira Santos

O projecto de recuperação e adaptação do Pavilhão Azul, em Lisboa, para acolher a colecção de arte privada de Julião Sarmento (1948-2021) deverá estar concluído em Maio de 2023, segundo a Câmara Municipal de Lisboa.

Anunciada em 2017, a iniciativa surgiu na sequência da assinatura de um protocolo de parceria entre o artista para cedência da sua colecção privada, com cerca de 1200 obras de artistas portugueses e estrangeiros. A pedido do próprio, o projecto arquitectónico ficou a cargo de João Luís Carrilho da Graça, com direcção do curador Sérgio Mah, visando a criação de uma programação própria naquele espaço municipal.

Contactado pela Lusa sobre o andamento da obra, sob gestão da Lisboa Ocidental SRU - Sociedade de Reabilitação Urbana, o arquitecto Carrilho da Graça considerou “realista” o prazo de conclusão indicado pela autarquia, avaliando que tudo “está a correr bem”.

“É normal acontecerem atrasos”, disse, face às iniciais previsões de conclusão do Pavilhão Azul para 2019. A obra “está a desenrolar-se, e um bocadinho atrasada por razões justificáveis”, indicou o arquitecto, que era amigo próximo do artista falecido em Maio do ano passado.

O acervo privado de Julião Sarmento, iniciado em 1967 quando ainda estudava na faculdade - não parou de coleccionar desde aí -, reúne pintura, objectos, instalações, vídeos e esculturas de artistas nacionais e internacionais que conheceu, com quem fez amizade ou conviveu. Só 5% das obras foram compradas, tendo trocado outras por peças da sua autoria, ou recebido de oferta, de outros artistas e coleccionadores. Andy Warhol, Marcel Duchamp, Robert Frank, Marina Abramovic, Cindy Sherman, Nan Goldin, Jorge Molder, Rui Chafes, Pedro Cabrita Reis, Alexandre Estrela e Vasco Araújo são alguns dos artistas representados nesta colecção.

Carrilho da Graça, vencedor do Prémio Cecil de Arquitectura em 1994, concebeu o projecto tendo em mente “o diálogo com Julião Sarmento, que organizou a colecção muitas vezes através de trocas com outros artistas”, disse à Lusa, sobre a intenção de manter, neste trabalho, o espírito contemporâneo do criador, que representou Portugal na Bienal de Arte de Veneza de 1997, entre outras exposições internacionais como a Documenta, em 1982 e em 1987, e na Bienal de São Paulo, em 2002.

“Como fui sempre muito amigo dele, gostava agora de corresponder à importância da colecção, e o que tentei fazer foi um espaço que tivesse carácter, mas também que fosse relativamente discreto, para fazer viver com grande intensidade a presença das obras, que é o seu objectivo principal”, acrescentou o arquitecto.

O edifício do Pavilhão Azul, antigo armazém de alimentos, presumivelmente edificado no final do século XIX, insere-se na Zona Especial de Protecção da Torre de São Vicente de Belém e encontrava-se devoluto. A ideia de fazer esta doação à Câmara de Lisboa surgiu depois de o artista plástico ter exposto parte da sua colecção, em 2015, na mostra Afinidades Electivas, dividida entre o então Museu da Electricidade, integrado no actual Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), e na Fundação Carmona e Costa, em Lisboa. Pela localização no eixo museológico de Belém, Julião Sarmento considerou o Pavilhão Azul “perfeito” para albergar as obras.

“A colecção é extraordinária. É única, mesmo”, salientou Carrilho da Graça, acrescentando que o “edifício municipal vai permitir uma programação de relação desta colecção com outras realidades”.

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