Pagode Shwedagon, um esplendor dourado na Birmânia

Numa Birmânia complexa, a leitora Maria Julieta Henriques foi seduzida por um espaço de paz e luz. Haja esperança por um “dia seguinte” que seja “necessariamente belo”.

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Maria Julieta Henriques

Prometia ser um glorioso dia quando o sol nasceu em Rangum, a maior cidade da Birmânia, o maior país do Sudeste da Ásia continental.

Após longa e dura ditadura militar, somente a partir de 2010 o país começou a emergir de um longo isolamento e a abrir-se, timidamente, ao turismo. Visitámo-lo com grande expectativa, ao encontro da cultura birmanesa, seguindo a rota do seu património religioso milenar, templos, templos e mais templos budistas a povoar planícies sem fim, como nunca encontráramos igual.

De todos os lugares, um se destacou e nos aprisionou particularmente a atenção, a admiração e a emoção - o Pagode Shwedagon, localizado no cume da colina de Singuttara, a dois quilómetros do centro de Rangum. Deste ponto alto domina-se um vasto horizonte.

Seja por motivação religiosa ou turística, Shwedagon é visita absolutamente obrigatória para quem chegue à cidade. De entre os milhares de pagodes budistas espalhados pelo país, este é o mais sagrado de todos e o de maior sumptuosidade arquitectónica, estando classificado como Património Mundial da Humanidade, pela UNESCO. No seu interior guardam-se as relíquias de Budas e uns preciosos oito fios de cabelo de Buda Gautama. É, sem dúvida, um dos mais belos templos budistas do mundo, “uma maravilha que faz pestanejar quando o sol nele incide” como o descreveu o autor de O Livro da Selva, Rudyard Kipling.

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Julieta Henriques

Shwedagon possui quatro entradas, cada uma orientada para o seu ponto cardeal; das entradas norte e sul lançam-se escadas ladeadas por dois enormes leões míticos (chinthes) que levam a uma enorme plataforma, pavimentada a mármore branco, onde se localiza a gigantesca estupa dourada. Este pagode, assente numa base octogonal, apresenta uma forma cónica que se eleva a incríveis 98 metros de altura. A colossal construção assenta numa série de terraços sobrepostos e é toda coberta por placas de ouro. Bem no cimo da estrutura, na flecha sineira, fica um hit, uma espécie de coroa de onde pendem 1060 sinetes de ouro e 420 de prata, e um catavento ornado de pedras preciosas. Termina com o seinbu, uma pequena esfera de ouro, incrustada de diamantes, um dos quais, magnífico, de 76 quilates. Calcula-se que o pagode tenha cerca de 90 toneladas de ouro!

Shwedagon está inserido num vasto complexo que conta com mais setenta pagodes, pagodões, salas de oração e meditação e outros edifícios religiosos de traça arquitectónica requintada, tipicamente birmanesa. Pequenos templos repletos de riqueza, de detalhes dourados, albergam todas as representações de Buda, que são reverenciadas por milhares de fiéis e muitos monges. Um monumento notável junto ao pagode e que não passa despercebido é a Coluna de Buda, uma construção que, em vários painéis de gravuras coloridas e em relevo, narra aspectos da vida de Gautama.

É perfumado e inebriante o cheiro do incenso, das velas e flores invadindo todo o vasto espaço. De entre as muitas ofertas a Buda, as flores assumem um lugar importante, sobretudo a bela flor de lótus que, sendo o símbolo da pureza do corpo e da mente, é considerada uma flor sagrada.

Ao som do suave cântico de fiéis, que rezam sobre os joelhos com o corpo reverencialmente reclinado para Buda, passa um grupo de monges envergando túnicas cor de açafrão; mais adiante, são cor-de-rosa as túnicas usadas por meninas-monjas, de cabeças rapadas, que deixam um sorriso ao passar. O lugar e as pessoas convidam à espiritualidade. Sente-se o peso da fé!

Espaço de oração e meditação por excelência, Shwedagon é também local de agradável encontro, de convívio familiar e social. Ficamos com este admirável complexo registado na alma e na memória.

Sob o calor ainda forte do fim do dia, por entre o vulto dos pináculos dos templos e do dossel das folhas das palmeiras, põe-se o sol numa linha de horizonte em tons laranja pressagiando um dia seguinte novamente quente e necessariamente belo.

Maria Julieta Henriques (texto e fotos)

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