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Tomatina: tradição espectacular ou desperdício monumental?
Voltou a acontecer em Espanha a batalha campal, onde foram usadas 130 toneladas de tomates e muita, muita água para lavar as ruas de Buñol. O espectáculo atrai milhares de visitantes, mas há também quem critique e o considere "ridículo", especialmente em época de crise e seca.
É uma tradição que leva milhares a Buñol, na província espanhola de Valência: este ano terão sido mais de 15 mil turistas a participarem na Tomatina, que celebra 75 anos de existência, após dois anos de paragem por causa da pandemia. Foram contabilizadas 130 toneladas do divino fruto.
A participação é gratuita para os habitantes, mas os visitantes têm de pagar 12 euros para participar. Sendo uma das grandes atracções da região, e uma celebridade mundial sempre com direito a fotogalerias em explosão vermelha, a Tomatina já ostenta oficialmente a distinção de Festa de Interesse Turístico Internacional. Inclusive de interesse para produtores de tomate, sendo que este ano, pelas hesitações com a pandemia, não houve produção local suficiente de tomate que sobrasse para a fiesta e fosse necessário adquirir para lá das fronteiras da província.
Mas nem tudo são aplausos e festa. "Uma autêntica vergonha internacional disfarçada de festa turística". Assim escreve no jornal Público espanhol o jornalista David Bollero a propósito da Tomatina. "Ao desperdício de 130 toneladas de tomate soma-se uma enorme quantidade de metros cúbicos de água para limpar", escreve o jornalista numa crónica que chamou de "Bochornosa Tomatina", algo como Vergonhosa Tomatina.
Como noutros casos, a vertente económica deste evento, "os dois milhões de euros de receitas" que os dirigentes políticos afirmam que a Tomatina distribui pela província, parece ser a "única grande justificação" para um espectáculo que, diz Bollero, "analisado com frieza, é tão ridículo como vergonhoso".
Para ele, e para muitos espanhóis, desperdiçar numa batalha campal 130 mil quilos de tomates é "uma autêntica aberração", principalmente se tivermos em consideração factores como a seca extrema e a inflação "desbocada" ("o preço do tomate disparou cerca de 45%, dificultando o acesso às famílias em risco de exclusão cada vez mais numerosas em Espanha").
Da mesma forma, o cronista aponta o dedo à quantidade de água que será necessária para o trabalho de limpeza após a batalha, e particularmente em tempo de ameaça de seca extrema. "É obsceno considerando que o abastecimento de água em algumas cidades da Espanha já foi cortado. Nem todas as tradições são boas, nem tudo vale para ganhar dinheiro. Tão simples quanto isto."