Dia dos Afrodescendentes. O espaço público lisboeta “é monocromático”
No Dia Internacional para pessoas Afrodescentes apontou-se o dedo à falta de diversidade no espaço público de Lisboa.
A discriminação e a invisibilidade determinam o percurso dos afrodescendentes em Lisboa. Foi por esta razão que a jornalista Paula Cardoso desenvolveu vários projectos para promover a representatividade negra na sociedade portuguesa. “As pessoas negras são invisíveis quando se fala em pertença, e não conseguimos perceber quantas pessoas de minorias étnicas estão em Portugal para podermos criar estratégias para combater a desigualdade”, disse nesta quarta-feira, durante as celebrações da Câmara Municipal de Lisboa do Dia Internacional para Pessoas Afrodescendentes, uma data marcada pelas Nações Unidas que lembra o tratamento discriminatório e racista que as pessoas de ascendência africana ainda sofrem nos dias de hoje.
A fundadora da comunidade digital Afrolink, autora da série de livros infantis Força Africana e integrante do painel residente do talk show O Lado Negro da Força, diz que numa cidade multicultural como Lisboa são necessárias referências à comunidade com raízes africanas, não só no entretenimento, cultura e desporto, mas também nos meios de comunicação e em altos cargos. “Falta representatividade em todo o lado”, diz, considerando que o espaço público “é monocromático”.
Para solucionar este problema, acredita que é preciso recrutar pessoas com diversidade e integrá-las, “mas isso não chega”. Para haver mais abertura, há três abordagens: formação anti-racista, recrutar pessoas que trazem diversidade e colocar nas lideranças pessoas diversas e tornar as chefias o mais diversificadas possíveis. A actriz Cláudia Semedo afirma que é preciso “olharmos para o mundo à nossa volta e perceber como podemos contribuir para que ele não seja de extremos e tão dicotómico, tal como temos observado”.
A luta anti-racista é feita principalmente através da formação, reforça Paula Cardoso. Por essa razão, a fundadora da comunidade Afrolink não esconde o seu entusiasmo com o projecto “Com a Mala na Mão contra a Discriminação”, um programa Municipal para a Educação Escola Anti-racista Multicultural e para os Direitos Humanos, proposto pela Vereadora Independente Paula Marques, dos Cidadãos Por Lisboa e aprovado por unanimidade na Câmara Municipal de Lisboa em Julho.
Já em curso na Escola Básica do Castelo, implementado em 2018 pela professora e coordenadora da Escola Básica do Castelo, do Agrupamento de Escolas Gil Vicente, Ariana Furtado, a vereadora independente espera que com esta proposta se reproduza “a boa prática” do projecto e seja implementado um programa de educação anti-racista. Paula Marques diz que é preciso “começar a preparar o futuro, começando pelos mais novos e nas escolas a combater o preconceito e a discriminação”
A vereadora da câmara de Lisboa Laurinda Alves afirma que a representatividade é fundamental “porque nos permite que as decisões, as políticas, as estratégias e a visão sejam mais amplas e mais ajustadas à realidade e às necessidades”. Considera que é preciso haver mais representatividade da comunidade africana em cargos mais elevados, algo que já acontece dentro do seu gabinete.
“É preciso desocultar talento e capacidades que muitas vezes estão ocultos ou invisíveis, por uma questão de raça, cor, preconceito ou de estigma”, diz. Ver pessoas como por exemplo, o vereador da mobilidade Ângelo Pereira, a vereadora Beatriz Gomes Dias e a presidente da Junta de Freguesia de Arroios, Madalena Natividade, que representam minorias étnicas em lugares chave, “é absolutamente crítico e essencial”, considera a vereadora.
Lisboa juntou-se a várias associações e grupos afrodescendentes como a Togheter2change, Colectivo Mulheres Negras Escurecidas, Afroóis, Associação de Mulheres Caboverdeanas na Diáspora em Portugal e Colectivo SAMANE, que realizaram várias actividades durante o mês de Agosto, terminando dia 3 de Setembro.
Texto editado por Ana Fernandes