Pausas curtas no trabalho ajudam a aumentar a energia, as longas melhoram o desempenho

Estudo analisa efeitos no bem-estar e na produtividade de intercalar pausas de dez minutos em períodos de actividade. O cansaço é menor e os níveis de vitalidade são repostos.

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Como contrabalançar a produtividade e o bem-estar: eis uma das questões da sociedade actual Russell Boyce

A realização de pausas curtas de dez minutos durante o dia pode contribuir para uma redução do cansaço e reposição dos níveis de energia, de acordo com um estudo divulgado, nesta quarta-feira, pela Universidade do Oeste de Timișoara da Roménia.

Cada vez mais se tem falado sobre a importância de equilibrar a produtividade com o bem-estar em contexto laboral. Perante os horários sobrecarregados e as altas expectativas (quer das lideranças como as auto-impostas pelos próprios trabalhadores), os seis autores do estudo consideram que a sociedade de hoje se confronta com uma “crise de energia humana”.

E apesar de já existirem muitos estudos no que diz respeito à forma de recarregar as energias quando se chega a casa no final do dia, os autores observaram que o mesmo não se aplica nos períodos de actividade. Foi justamente esta lacuna que quiseram colmatar, procedendo à revisão e metaanálise de 22 estudos publicados nos últimos 30 anos que analisam o potencial de abandonar uma tarefa por breves momentos como forma de gerar bem-estar.

O objectivo era estudar o papel destas breves pausas (que designaram por “micro-pausas” por não ultrapassarem os dez minutos) na redução do cansaço e aumento da vitalidade - que foram as duas dimensões do bem-estar que avaliaram -, assim como na melhoria da produtividade.

Ainda que os estudos analisados contemplassem tipos de trabalho distintos (tanto em contexto laboral como académico, por exemplo), foi possível chegar à conclusão de que, no geral, desanuviar por momentos ajuda a repor os níveis de energia. “Os dados sugerem que as micro-pausas podem ser a panaceia para promover o bem-estar durante o período de trabalho”, escrevem os autores.

Quanto à produtividade, os resultados não foram tão claros. Apesar de sugerirem que pausas curtas podem contribuir para um melhor desempenho no caso de tarefas mais rotineiras ou criativas, os investigadores reconhecem que só um descanso mais longo é que influencia a eficácia em tarefas que puxem mais pelo cérebro. “Uma pausa com uma duração inferior a dez minutos pode reabastecer a energia, mas não restaurar totalmente os recursos necessários para realizar uma tarefa que exija maior cognição”, notam, acrescentando que é um tema que vale a pena aprofundar.

E “o que fazer durante as pausas para se sentir e ter um desempenho melhor?” Também esta é uma questão que fica parcialmente por responder. “Embora ainda precisemos de uma explicação clara para os efeitos no desempenho, pelo menos no que toca ao bem-estar a resposta parece ser ‘qualquer tipo de actividade de desanuviamento’”, referem os investigadores.

No entanto, os estudos analisados permitiram constatar que actividades diferentes produzem efeitos distintos no bem-estar. Enquanto estímulos físicos, como alongamentos, estão mais associados a um aumento de emoções positivas e alívio do cansaço, interacções sociais (contactar com a família ou amigos) geram uma subida na vitalidade. Já distracções como estar nas redes sociais ou assistir a vídeos estão ligadas a um maior equilíbrio entre a vida laboral e privada e a uma recuperação de energia mais intensa, respectivamente.

Sabe-se que cada um tem uma quantidade limitada de recursos - como capacidade de concentração ou resiliência mental -, sendo que estes precisam de ser renovados através de um afastamento total da tarefa que se tem em mãos, lembram os autores.

E caso isto não aconteça, o cansaço pode gritar mais alto, ficando a produtividade comprometida. Daí que as organizações devem repensar a estratégia “always on”, alertam no estudo – assim como, aliás, no contexto educacional, as aulas podem vir a beneficiar de “pausas de aprendizagem” para restabelecer o foco, sugerem.

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