Imagine que lhe dizem que vai passar 20 minutos numa sala sem nada para fazer. A maioria das pessoas, quase por reflexo, tiraria o telemóvel do bolso para se entreter. Mas, neste caso, tem de deixar todos os pertences fora da sala, telemóvel e relógio incluídos. Não pode dormir, nem comer, nem sequer levantar-se da cadeira. Tudo o que tem de fazer é esperar que o tempo passe. E, se quiser, pensar.

Se lhe perguntassem, ainda antes de entrar na sala, quão interessantes antecipava que seriam aqueles 20 minutos  qual seria a sua resposta? É natural que não estivesse entusiasmado com a ideia de estar sentado numa cadeira a olhar para uma parede. É também provável, segundo dados de um estudo académico, que, no final, a experiência tivesse sido melhor do que à partida supunha. 

Estar sozinho com os próprios pensamentos é algo que muitos parecem evitar. Nas salas de espera dos consultórios, nas mesas de um restaurante ou nas filas de supermercado, a generalidade das pessoas prefere a companhia do telemóvel à sua própria. Porém, pensar não é tão mau como se julga – é isto que conclui uma investigação publicada no Journal of Experimental Psychology, cujos autores levaram a cabo experiências em que pediram aos participantes para estarem sem nada para fazer e para classificarem o interesse dessa tarefa antes e depois de a executarem. 

A aversão a pensar, argumenta o grupo de investigadores das universidades de Kochi (no Japão), Reading (Reino Unido) e Tubingen (Alemanha), poderá ser parcialmente responsável pelo muito tempo que passamos a olhar para ecrãs.

"Tal como foi descoberto por investigações anteriores, pensar sozinho não é assim tão agradável. Contudo, não é tão mau como as pessoas ingenuamente esperam", escrevem. "A actual disponibilidade de Internet e de telemóveis faz com que seja extremamente fácil para as pessoas matarem o tempo quando não têm nada para fazer, e os nossos resultados sugerem que a interacção contínua das pessoas com dispositivos electrónicos pode em parte reflectir crenças metacognitivas sobre o valor de não fazer nada. Também é importante notar que evitar pensar pode acarretar alguns custos de oportunidade, porque estudos anteriores sugeriram uma variedade de benefícios para diferentes actividades de pensamento." 

É linguagem académica para dizer que, muitas vezes, mais vale deixar o telemóvel no bolso.

Ao todo, os investigadores fizeram seis experiências, com um total de 259 participantes (todos estudantes universitários). Todas as experiências eram uma variante de estar sentado sem nada para fazer, com os investigadores a registarem as expectativas em relação ao interesse dessa tarefa e as avaliações depois de executada. Numa das experiências, os participantes estavam numa cabine escura, com auscultadores que cancelavam o ruído. Numa outra, podiam estar 20 minutos sentados ou apenas três. 

As conclusões foram semelhantes em todas as circunstâncias: as avaliações posteriores não rebentavam a escala do entusiasmo (na verdade, ficavam sensivelmente a meio das métricas usadas pelos investigadores); mas os resultados eram consistentemente melhores do que aquilo que os participantes tinham antecipado.

Uma das experiências merece mais pormenor: alguns dos participantes não tinham nada para fazer, ao passo que outros podiam consultar notícias (e apenas notícias) num computador (que não mostrava as horas). Como esperado, os participantes que sabiam que iam ter acesso a notícias tinham expectativas mais optimistas do que os restantes. Porém, no final, estar a ler notícias foi considerado apenas ligeiramente mais agradável e menos aborrecido do que estar a pensar (a avaliar por dados recentes sobre a evolução do interesse nas notícias, o resultado é uma vitória).

Este não é daqueles estudos que abre portas a novos paradigmas de conhecimento. Mas suscita reflexão.

Na era da conectividade constante, e dos algoritmos afinados para sorver a nossa atenção, tornou-se escasso, por opção própria, o tempo para deixar o cérebro vaguear. E o estudo, feito para avaliar as percepções sobre a aprazibilidade de pensar, nem sequer entrou por outro caminho óbvio: os ecrãs não roubam apenas tempo de pensamento, mas também de observação.

Passar algum tempo a apreciar o resto da sala de espera ou os comensais do restaurante pode não rebentar a escala do interesse; mas, mesmo sem estudos académicos, arriscaria dizer que é mais interessante do que à partida se possa pensar. E, pelo menos algumas vezes, mais interessante do aquilo que o feed de uma rede social tem para oferecer.