Os “humildes” são “vencedores”, diz Francisco sobre Celestino V, o primeiro Papa a renunciar

À escolha dos novos cardeais e a visita a L’Aquila soma-se ainda a reunião extraordinária de todos os cardeais, na terça-feira. Em Roma, muitos descrevem o ambiente destes dias de consistório como de pré-conclave.

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Francisco antes de atravessar a porta da Basílica e homenagear Celestino V Reuters/VATICAN MEDIA

Um dia depois do consistório em que nomeou 20 novos cardeais, incluindo vários dos que terão a cargo a escolha do seu sucessor, Francisco viajou até à cidade italiana de L’Aquila para prestar homenagem ao Papa Celestino V, o primeiro a renunciar ao pontificado, em 1294, até Bento XVI se afastou em 2013. Dois gestos consecutivos que puseram os vaticanistas a especular sobre a possível renúncia do Papa argentino, um cenário que ele já admitiu, por razões de saúde. Quatro anos antes da renúncia, Ratzinger rezou no túmulo de Celestino.

Francisco não se limitou a nomear mais alguns cardeais, fez escolhas que sublinham as suas opções para a Igreja Católica, tornando o Vaticano um pouco menos europeu e menos italiano. Com estas nomeações, o número de cardeais aumenta para 226 e o de eleitores – os que podem participar no conclave da Capela Sistina onde o novo Papa é escolhido – passa a ser de 132. Entre estes, 83 foram escolhas do Papa argentino, que imprimiu assim a sua visão, potencialmente influenciando de forma muito significativa a eleição do próximo Papa.

À escolha de novos cardeais e à visita a L’Aquila soma-se ainda a reunião extraordinária de todos os cardeais marcada para terça-feira em Roma. Pela primeira vez, todos estes novos cardeais, vindos de todo o mundo, vão estar presencialmente uns com os outros. O objectivo é debater a nova Constituição Apostólica Praedicate Evangelium (Pregai o Evangelho), que estrutura a reforma da Cúria romana e está em vigor desde Junho.

Resultado de um trabalho de quase uma década de consulta e reflexão do Papa, o documento sela a reforma protagonizada por Francisco, sublinhando a prioridade da natureza missionária da Igreja e alterando a estrutura da administração do Vaticano que auxilia o Papa no governo da Igreja Católica.

Entre as várias alterações, os jornais especializados notaram, na altura, a unificação da Congregação para a Evangelização dos Povos e do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização num único Dicastério (departamento do governo do Vaticano) para a Evangelização, que passa a ser presidido pelo Papa, e a criação do Dicastério para o Serviço da Caridade, que reforça a opção da Igreja pelos pobres, bem como a determinação de que leigos e leigas podem assumir funções de governo na Cúria.

Deixada a sua marca, Francisco parece estar agora a planear o futuro da Igreja sem ele. Em Roma, muitos descrevem o ambiente destes dias de consistório como de pré-conclave.

Na homilia de L’Aquila, Francisco lembrou Celestino V como “o homem do ‘sim’”: “Recordamos equivocadamente a figura de Celestino V como ‘aquele que fez a grande recusa’, segundo a expressão de Dante na Divina Comédia”, notou. “Mas Celestino V não era o homem do ‘não’”, afirmou. “De facto, não há outra maneira de realizar a vontade de Deus do que assumindo a força dos humildes”.

“Precisamente esses, os humildes, aparecem aos olhos dos homens como fracos e perdedores, mas na realidade são os verdadeiros vencedores, os únicos que confiam completamente no Senhor e conhecem a sua vontade”, concluiu. “L'Aquila, durante séculos, manteve vivo o dom que o Papa Celestino V deixou. O privilégio de lembrar a todos que só com misericórdia a vida de cada homem e mulher pode ser vivida com alegria”, afirmou. “Que L'Aquila seja verdadeiramente a capital do perdão.”

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