Soltem antes Barrabás

Nos últimos dias, neste Portugal de sol e calor, descobri demasiadas pessoas que, seguramente, nunca esconderam uma bola de ábaco nos sapatos da professora. É que só isso explica chegarem à idade adulta com fraca coluna e sem qualquer espécie de vergonha.

O comportamento de que mais me envergonho na vida aconteceu quando tinha sete anos e frequentava a segunda classe. E juro que, só de pensar em contá-lo, começo a sentir o rosto a ferver e uma vontade enorme de, qual avestruz, enterrar a cabeça na areia. Mas vamos lá… Um dia, perto da hora do final das aulas, um colega de turma deixou cair o ábaco da sala que, por se ter partido numa queda anterior, era aberto num dos lados. O resultado é que tivemos uma invasão de bolas coloridas a saltitar desvairadas pelo chão. Lembro-me bem de olhar para os meus colegas na altura e de os sentir aflitos a seguir o percurso das bolas, num silêncio absoluto e aterrado, porque já não era a primeira vez que o ábaco visitava o solo naquela semana e a professora já tinha mostrado, através de uma régua de ferro à qual chamava Rita, sinais evidentes de descontentamento.

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