A seca deixou a descoberto uma frota de navios de guerra de Hitler naufragados no Danúbio

O mais baixo nível de água registado em 100 anos no segundo maior rio da Europa revelou mais de duas dezenas de cascos de embarcações nazis junto à vila sérvia de Prahovo. Governo diz que contêm mais de 10 mil explosivos.

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Vista aérea dos barcos nazis em águas sérvias Reuters/FEDJA GRULOVIC
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Destroços de um navio de guerra nazi, junto à localidade sérvia de Prahovo Reuters/FEDJA GRULOVIC
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Um residente local junto a um barco naufragado Reuters/FEDJA GRULOVIC
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Imagem de uma embarcação da frota do mar Negro da Marinha nazi Reuters/FEDJA GRULOVIC
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Contam-se mais de 20 barcos naquela zona do rio Reuters/FEDJA GRULOVIC

Uma das piores secas de que há memória no continente europeu está a contribuir para reduções históricas e preocupantes do nível das águas dos seus rios, afluentes, lagos e barragens. Um dos casos mais dramáticos é o do Danúbio, o segundo maior rio da Europa, que, fruto da escassa precipitação e das temperaturas elevadas, há quase um século que não tinha tão pouca água em alguns dos seus troços.

Para além do impacto nocivo da escassez de água na agricultura, na produção de energia e no abastecimento generalizado das populações dos dez países que o Danúbio serve – Alemanha, Áustria, Bulgária, Croácia, Eslováquia, Hungria, Moldova, Roménia, Sérvia e Ucrânia –, o reduzido nível do rio neste mês de Agosto deixou a descoberto detritos que jazem no seu leito e que têm tanto de impressionante como de perigoso.

É esse o caso de Prahovo, uma pequena vila portuária localizada na região Leste da Sérvia – junto à fronteira com a Roménia e a pouco mais de dez quilómetros, em linha recta, da fronteira com a Bulgária – que serve, por estes dias, de miradouro para uma arrepiante exposição dedicada à II Guerra Mundial.

A seca deixou à vista de todos mais de duas dezenas de cascos de navios de guerra pertencentes à frota da Alemanha Nazi que operava no mar Negro, onde o Danúbio desemboca, e que naufragaram ali, e noutros troços, fugindo ao avanço das forças da União Soviética, em 1944 – no total há centenas de destroços de barcos alemães espalhados pelos 2850 quilómetros de comprimento total do rio.

Reproduzidas pela imprensa nacional e internacional e partilhadas através das redes sociais por cidadãos anónimos, as imagens do “cemitério” de navios de Hitler, enterrados, há décadas, nos bancos de areia de Prahovo, mostram cascos retorcidos, mastros partidos e pontes de comando quebradas.

“Desastre ecológico”

Para além de dificultarem o tráfego de navios comerciais e privados naquela zona do Danúbio, os destroços também estão a prejudicar a actividade e a indústria piscatória da Sérvia e da vizinha Roménia.

Segundo a Reuters, as autoridades locais sérvias têm recorrido à dragagem para manter as vias do Danúbio navegáveis, mas, em Prahovo, por causa da frota Nazi, há partes do rio que têm apenas 90 metros largura para a passagem de barcos.

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Tão ou mais grave que a reduzida amplitude das vias navegáveis é o próprio material de guerra que jaz junto dos barcos de guerra alemães. Em declarações à imprensa local, um representante do Ministério dos Transportes do Governo da Sérvia revelou que há cerca de 10 mil engenhos explosivos e munições entre as toneladas de destroços.

O facto de terem ficado agora a descoberto é apenas um alerta para um problema que é conhecido há muito pelas autoridades.

Em Março deste ano, o executivo sérvio lançou um concurso para a recuperação dos destroços, assegurando financiamento do Banco Europeu de Investimento e garantias do Quadro de Investimento para os Balcãs Ocidentais, num valor total de 29 milhões de euros.

Mas enquanto esse processo se arrasta a comunidade local desespera. “A flotilha alemã deixou para trás um enorme desastre ecológico que ameaça a população de Prahovo”, insistiu, citado pela Reuters, Velimir Trajilovic, um conhecido pensionista da vila, autor de um livro dedicado aos barcos nazis que naufragaram na região.

Bomba em Itália

Prahovo não foi, ainda assim, a única localidade do continente europeu a descobrir pedaços da II Guerra Mundial por causa da seca. No mesmo rio Danúbio, mais a Norte, foi avistado outro barco de guerra da época, junto a Vamosszabadi, na Hungria.

E já depois de ter sido encontrado, há uns meses, um tanque alemão, e, há poucas semanas, um casco com 50 metros de uma embarcação naufragada durante a guerra, o rio Pó, em Itália, revelou, no final de Julho, novo objecto da guerra europeia, por causa do mais reduzido nível das suas águas em quase 70 anos.

Junto à vila de Borgo Virgilio, perto de Mântua, na região da Lombardia (Norte de Itália), um grupo de pescadores locais encontrou uma bomba da II Guerra Mundial, com cerca de 450 quilos – dos quais, 240 quilos eram em material explosivo, de fabrico norte-americano.

A operação de desarmamento da bomba, liderada pelo Exército italiano, obrigou à retirada de cerca de 3000 pessoas que viviam na região e ao encerramento tanto da navegação no rio, como de uma linha de caminhos-de-ferro e de uma estrada rodoviária ali perto.

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