Bons Sons: uma homenagem aos “operários da cultura” que ergueram o festival

Quantas pessoas e quanto esforço foram necessários para tornar possível o Bons Sons, na aldeia de Cem Soldos, em Tomar? A exposição Operários da Cultura, do artista João Gigante, que esteve patente "numa casa de paredes sem tecto" no interior do recinto, revelou a "bonita e saudável azáfama" que se viveu nos bastidores do festival.

©João Gigante
Fotogaleria
©João Gigante

Quantas pessoas e quanto esforço são necessários para tornar possível um festival de Verão numa aldeia portuguesa? O artista João Gigante realizou um projecto fotográfico, em velocidade relâmpago, no Bons Sons, em Tomar, para responder a essa questão. "É importante mostrar o esforço, o trabalho árduo [que é necessário] para preparar um espaço para um festival", conta ao P3, via e-mail. Mostra, assim, através das imagens do projecto intitulado Viste?, que esteve em exposição "nas paredes de uma casa sem tecto" no recinto do festival, "todo o processo de trabalho [necessário] para que exista cultura".

"Enquanto fotógrafo predispus-me a documentar, imprimir [as imagens] e montar [a exposição] em apenas quatro dias, de 8 a 11 de Agosto", pode ler-se na folha de sala da exposição que durou tanto quanto a 11.ª edição do festival e que Gigante intitulou de Operários da Cultura. "Foi um projecto de fôlego, de instante e de construção narrativa pela soma, como se de uma acção em apneia se tratasse."

O artista recebeu, pela primeira vez em 2022, o convite para tocar num dos muitos palcos do festival Bons Sons, na aldeia de Cem Soldos, com o seu projecto Phole. "Percebendo que além do projecto musical eu tenho também um percurso profissional na área da fotografia documental, foi criada a possibilidade de eu 'viver a aldeia' antes do festival e criar uma narrativa expositiva com a sua preparação", disse ao P3. Antes de chegar a Cem Soldos, o fotógrafo e músico já sabia onde iria expor as imagens e como iria imprimi-las; a única imprevisibilidade era mesmo a do conteúdo fotográfico, que dependeria do que se plantasse diante do seu olhar. "O desafio estava no tempo, mas também no resultado."

João Gigante, natural de Viana do Castelo, chegou a Cem Soldos no dia 7 de Agosto e começou a fotografar no dia seguinte - recorde-se que o festival teve início no dia 12. As imagens que realizou ao longo dos dias que antecederam o festival espelham a complexidade do processo de montagem de palcos e estruturas de apoio, que envolveu até alguma maquinaria pesada. Cada detalhe, desde a decoração do espaço até às estruturas de abastecimento de água e electricidade, foi pensado e elaborado cuidadosamente para evitar quaisquer falhas. " estando no meio desta bonita e saudável azáfama se pode compreender", comentou Gigante.

As fotografias a preto e branco que realizou, imprimidas na fotocopiadora da associação que organiza o festival, foram coladas directamente sobre as paredes desgastadas da casa sem tecto como se fossem cartazes - o efeito é visível nas últimas imagens desta fotogaleria. "Foi bom ver a quantidade de visitantes que passaram à porta daquela casa para poderem ver as fotografias", recordou. O público do festival ficou a conhecer os bastidores, mas esse não foi o único lado positivo. "Percebi que para o festival, para quem trabalhou arduamente, foi importante também ver um 'desenho' do trabalho realizado."

Apesar do nome da exposição, Operários da Cultura, João não tem uma mensagem política particular a veicular com este projecto que diga respeito à precariedade do sector cultural, que ressurge após dois anos "de castigo" pandémico. "É importante perceber que a arte vive do esforço diário, da batalha contínua dos programadores, equipas e dos artistas." Para João, "ser político é também querer fazer mais, ampliar o campo de visão de quem visita uma exposição, deixar uma mensagem", refere, aludindo para a ideia de que "toda a arte é política".

Gigante tocou no palco Carlos Paredes no dia 15 de Agosto e chegou à conclusão de que o Bons Sons "é construído com uma energia muito especial". Foi graças a essa que a organização conseguiu coordenar 520 voluntários (a maioria residente da aldeia de Cem Soldos), gerir 270 artistas para tornar possíveis os 47 concertos que fizeram as delícias de mais de 33 mil pessoas.

©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante
©João Gigante