França continua irredutível contra gasoduto nos Pirenéus

A ideia de um novo gasoduto a atravessar os Pirenéus entre Espanha e França continua a não agradar ao governo francês, que defende mais terminais de gás natural liquefeito na Europa.

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A ministra da Transição Ecológica, Agnès Pannier-Runacher, e o presidente de França, Emmanuel Macron EPA/LUDOVIC MARIN / POOL

Apesar das palavras do chanceler alemão Olaf Scholz a defender a criação de um corredor de gás entre Portugal e o centro da Europa, o executivo francês mantém-se contra o projecto, noticiam a espanhola Cadena Ser e o El País, citando uma nota do Ministério da Transição Energética de França, liderado por Agnès Pannier-Runacher.

França já tem dois gasodutos que fazem a ligação ao País Basco e a Navarra e que funcionam à capacidade máxima desde o início da guerra russa contra a Ucrânia, mas uma terceira ligação pelos Pirenéus seria um projecto demasiado complexo e demasiado moroso para fazer a diferença nesta crise, defende o ministério francês.

A nova ligação “demoraria anos até ficar operacional e não daria resposta à actual crise”, defende a nota citada pelos meios espanhóis.

A melhor alternativa, “a solução mais rápida”, é a que alguns Estados-membros com fachadas marítimas, como a Alemanha, já empreenderam, que “é a que permite importar gás [natural liquefeito] dos países do Golfo e dos Estados Unidos”, construindo terminais portuários de recepção e regaseificação.

Se forem flutuantes, estes terminais até representam investimentos menores e de mais rápida concretização, frisam as autoridades francesas, em contraste com o entusiasmo das declarações recentes da ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera, que na semana passada afirmou que a ligação entre Hostalric (Catalunha) e Barbaira (Aude, sul de França) poderia ficar concluída em “oito a nove meses”, se Paris quisesse.

Além da disponibilidade manifestada por Ribera, também o primeiro-ministro António Costa salientou que a Alemanha poderia contar com o empenho total de Portugal na construção de um novo corredor de gás na Europa, admitindo que a ligação entre Espanha e Itália poderia ser uma forma de ultrapassar as reticências francesas, que também recebe gás natural liquefeito (GNL) nos seus quatro terminais (dois no Atlântico e dois no Mediterrâneo).

De acordo com a Cadena Ser e o El País, o ministério de Agnès Pannier-Runacher recorda igualmente a forte oposição das populações e grupos ambientalistas à construção da nova linha de transporte de gás e questiona a necessidade de uma infra-estrutura desta natureza quando a Europa quer acelerar a transição energética para uma economia neutra em carbono, em 2050.

E nem o transporte futuro de hidrogénio verde parece convencer o governo de Emmanuel Macron. “As incertezas sobre as capacidades de produção e consumo de hidrogénio são muito elevadas”, o que torna também incerto que seja necessária “uma infra-estrutura desta envergadura com tanta antecipação”, refere-se.

Assim, a oposição francesa mantém-se, mesmo com a tomada de posição da Alemanha a favor do projecto, que propiciaria a construção de uma terceira interligação entre Portugal e Espanha, entre o Vimioso e Zamora, orçada em pelo menos 115 milhões de euros.

Em 2019, quando os reguladores de Espanha e França decidiram chumbar a construção deste primeiro troço de um projecto maior conhecido por MidCat, concluiu-se que seria muito dispendioso face aos benefícios que daí poderiam advir para os cidadãos espanhóis e franceses.

De um investimento total 442 milhões de euros, a maior factura, de 290 milhões, teria de ser paga por franceses.

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