OMS promete que não será escolhido um novo nome “ridículo” para a varíola-dos-macacos

Há uma pressão cada vez maior para que a doença tenha um novo nome, devido a críticas que referem que o actual é enganador ou discriminatório.

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Só este ano já foram detectados mais de 32.000 casos em cerca de 80 países DADO RUVIC/Reuters

Poxy McPoxface, TRUMP-22 ou Mpox: estas são algumas das ideias enviadas pelo público à Organização Mundial da Saúde (OMS) para que possa ser encontrado um novo nome para a varíola-dos-macacos (ou monkeypox, em inglês).

Frequentemente, os nomes das doenças são escolhidos à porta fechada por um comité técnico, mas a OMS decidiu, desta vez, abrir este processo ao público. Depois de um começo lento, dezenas de submissões têm sido enviadas por vários tipos de contribuidores, incluindo académicos, médicos e activistas da comunidade gay.

Há de tudo um pouco, desde nomes mais técnicos – como OPOXID-22, que foi submetido por Jeremy Faust, da Faculdade de Medicina de Harvard – até aos mais absurdos – como Poxy McPoxface, que foi submetido por Andrew Yi numa alusão ao Boaty McBoatface, que é um veículo subaquático autónomo usado para investigação científica.

Há uma pressão cada vez maior para que a doença tenha um novo nome, em parte devido a críticas que referem que o nome actual é enganador, uma vez que os macacos não serão o animal hospedeiro original. Em Junho, um grupo de cientistas escreveu um artigo em que chamava a atenção para a necessidade dessa alteração e para que o nome escolhido fosse “neutro, não discriminatório e não estigmatizante”, para que não seja usado de uma forma racista.

Até este ano, a varíola-dos-macacos espalhava-se sobretudo em países do Centro e do Oeste de África.

“É muito importante que encontremos um novo nome para a varíola-dos-macacos porque esta é uma forma de não atacar um grupo étnico, uma região, um país ou um animal”, afirma Fadela Chaib, porta-voz da Organização Mundial da Saúde. “A OMS está preocupada com este assunto e queremos encontrar um nome que não seja estigmatizante.”

Uma das submissões mais populares é a Mpox, que foi submetida por Samuel Miriello, director da organização de saúde dos homens RÉZO, que está já a ser usado em campanhas de proximidade em Montreal, no Canadá. “Quando tiramos a imagem dos macacos da equação, as pessoas parecem compreender mais depressa que há uma emergência e que é preciso que a levemos a sério.”

A outra proposta, a TRUMP-22, é uma aparente referência ao antigo presidente dos Estados Unidos e que usou o termo controverso “vírus chinês” para nomear o novo coronavírus. Contudo, o autor da proposta diz que se está a referir a “Toxic Rash of Unrecognized Mysterious Provenance of 2022”, que em português seria algo como “Erupção Tóxica de Proveniência Misteriosa Não Reconhecida de 2022”.

Já as submissões que ridicularizavam a comunidade gay e que tinham inicialmente sido publicadas foram mais tarde removidas do site da OMS.

A OMS tem um mandato para atribuir novos nomes às doenças existentes ao abrigo da Classificação Internacional de Doenças. Na última semana, já apresentou novos nomes para as variantes do vírus, mudando os nomes de regiões africanas para números romanos. A OMS também já disse que vai decidir as propostas para o novo nome da doença “de acordo com a sua validade científica, a sua aceitabilidade, se é pronunciável e se podem ser usados em diferentes línguas”. “Temos a certeza de que não vamos decidir um nome ridículo”, disse Fadela Chaib.

A varíola-dos-macacos foi descoberta em 1958 e foi assim nomeada depois de observados os primeiros sintomas num animal. A OMS declarou como emergência de saúde pública o actual surto no último mês. Já há mais de 32.000 casos detectados em cerca de 80 países.

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