Cartas ao director

Trabalhadores da construção civil no Qatar

Uma vez que o meu nome foi para a praça pública com afirmações recentemente publicadas pelo jornal PÚBLICO num artigo da autoria da colunista Carmo Afonso, quero esclarecer que:

A afirmação de que eu disse que não há racismo naquele artigo é falsa. O que eu disse, como se vê no vídeo da entrevista da SIC — e que é muito diferente — é que não vejo que seja mais evidente do que noutros países onde vivi, e esta afirmação é da minha mais pura convicção. Racismo há, de um modo geral, em todo o lado.
Acresce que é no mínimo absurdo a autora considerar-me racista por eu ter dito que quem tem mais melanina na pele suporta melhor o sol. De resto, essa afirmação foi descontextualizada da sequência da conversa com o entrevistador da SIC e referia-se unicamente à tipologia geral dos trabalhadores da construção civil no Qatar e nunca focou aspetos raciais.

Manuel Gomes Samuel, chefe da missão da embaixada portuguesa em Doha

Onde pára a tropa?

A tragédia por que está a passar metade de Portugal devido aos incêndios é impressionante, não só pela extensão da perda de importante património nacional, mas, sobretudo, pelo drama que representam o perigo real vivido pelas populações rurais e a perda dos seus bens, incluindo aqueles que não têm praticamente valor económico, mas sim enorme valor afectivo.

Os cidadãos que se dispõem a lutar contra o flagelo dos incêndios, fazendo-o de forma abnegada, corajosa e sem olhar a esforços e a perigos, são os bombeiros, sendo que 80% são voluntários, o que diz bem quanto deve o país a estes heróis que todos os anos travam uma guerra que, se não for vencida, tem custos incalculáveis, humanos e patrimoniais. Bem hajam, bombeiros de Portugal.

Tudo o que puder ser utilizado para ajudar os bombeiros na sua nobre, útil e imprescindível missão nunca é demais. Temos milhares de homens e mulheres a desfrutarem nas casernas o sossego de um país que não está em guerra. Eles são comandos, paraquedistas, fuzileiros, infantaria, unidades de engenharia, de saúde… Têm meios importantes, desde transportes, serviços de saúde, serviços de engenharia e, naturalmente, homens e mulheres treinados para missões complexas. Com todos estes meios, as Forças Armadas não podem dar uma ajuda permanente aos bombeiros, nem que seja na evacuação de populações, na vigilância de aldeias e vilas, no transporte de acidentados e até, em caso de necessidade, na prestação de cuidados de saúde e de distribuição de alimentos? Face à tragédia por que está a passar o país, fica uma pergunta pertinente: onde pára a tropa?

Elder Fernandes, Lisboa

Cui bono? Três propostas anti-incêndios

Até quando teremos de suportar a tragédia sazonal dos incêndios? Haverá melhor exemplo da absoluta falência do Estado e da sua captura por interesses privados?.
Há quem ganhe bastante dinheiro (não tenhamos dúvidas!) com a persistência, ao longo dos últimos decénios, deste desastre humano e ambiental. Ora, por muito que o poder político queira alijar as suas responsabilidades sob o capote das alterações climáticas, torna-se inegável (em especial, no que diz respeito ao ordenamento do território) a falta de visão estratégica, de que é nigérrimo sintoma o despovoamento do interior do país.

Em suma: a ausência de sentido de Estado por parte da maioria dos nossos governantes (independentemente da sua cor partidária) tem impedido que o bem comum se sobreponha, à luz da lei fundamental, aos sacrossantos direitos de propriedade.

Se houvesse, de facto, tal sentido de Estado, três medidas, pelo menos, de alcance conjuntural, já teriam sido tomadas: (i) a nacionalização dos meios aéreos de combate aos fogos florestais; (ii) a retirada dos circuitos comerciais (em prol de estaleiros públicos) de toda a madeira queimada; e (iii) a proibição de qualquer construção em terrenos que arderam.

A implantação imediata de tais desígnios legislativos teria a vantagem, desde logo, de retirar quase todo o combustível, por assim dizer, às acções criminosas que envolvem o fogo posto, cujo efectivo impacto sobre a paisagem poderá ser maior, porventura, do que aquele que se infere, é certo, das estatísticas.

Eurico de Carvalho, Vila do Conde

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