Das uvas da região de Setúbal até ao copo

Na região de Setúbal produzem-se alguns dos melhores vinhos mundiais, fruto do clima único e do conhecimento histórico sobre a sua produção. Vamos explorar algumas das castas mais importantes da região – e descobrir que tipo de pratos estas fazem brilhar!

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Ricardo Palma Veiga
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A península de Setúbal não precisa de apresentações. Uma das mais reconhecidas zonas do país pela sua tradição gastronómica e pela sua beleza natural dá-nos uma mistura única entre cultura e lazer. Também pouca gente não saberá que na região de Setúbal se produzem alguns dos melhores vinhos mundiais, com vários produtores reconhecidos da zona a serem dos mais vendidos nacionalmente e dos mais exportados.

Mesmo a tradição vinícola da região sendo amplamente conhecida, continuam a haver números que impressionam. 8.000 hectares - é este o total de área dedicado à vinicultura no distrito, espalhado pelos seus 13 concelhos, mas com maior presença nas zonas de Palmela, Montijo, Setúbal, Grândola e Alcácer do Sal. Traduzido para linguagem comum, falamos de uma área total equivalente a 8.000 campos de futebol. É impressionante, mas a tradição acaba por o explicar. Em Setúbal foram plantadas das primeiras vinhas da Península Ibérica, pois nenhuma outra região na península tem tantas diferenças geográficas profícuas para a produção de vinho: com a existência de planícies, serras, encostas, para além dos Rios Sado e Tejo e a sua proximidade com o Atlântico.

A península de Setúbal permite a produção de vinhos carismáticos, fortes e com traços únicos, também fruto do seu clima quente e seco no Verão e relativamente frio e chuvoso no Inverno. Não é por isso surpresa que algumas das mais tradicionais castas estejam aqui representadas. E é disso que vamos falar hoje. Quando falamos dos Vinhos da Península de Setúbal, afinal falamos de quê?

Castelão: Os tintos e rosados que conhecemos

A casta Castelão é a casta tinta mais cultivada no sul de Portugal (quase 60% da produção na Península de Setúbal). Dito assim talvez não conheça, mas se falarmos em Periquita certamente se recorda - é assim também chamado desde 1830, altura em José Maria da Fonseca a plantou na Cova da Periquita, em Azeitão.

Esta casta destaca-se pela sua capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas, o que lhe dá versatilidade para estar presente em diferentes localizações. Contudo, é de Setúbal, nomeadamente das vinhas velhas, que saem os vinhos mais estruturados e intensos desta Casta. Os vinhos com esta origem apresentam-se estruturados e frutados e podem conter aromas como cereja, groselha, bolota, ameixa confitada, amoras e framboesa. Podem, assim, dar origem a excelentes tintos mas também a destacados vinhos rosados - o chamado Vinho Rosé.

E agora… falemos de acompanhamentos. A harmonização é uma das partes principais de qualquer vinho e pode destacar ainda mais um bom prato. Os vinhos tintos mais novos, com uma base forte de frutos vermelhos, por exemplo, acompanham bem pratos de carne, bacalhau, peixe assado e frito e comida italiana como pizzas e massas. Já os tintos mais complexos (com o sabor amadeirado, fruto do seu estágio em madeira) estão destinados a carnes vermelhas grelhadas ou assadas, a chamada “comida pesada” portuguesa (feijoadas, cozido ou carne guisada são bons exemplos), enchidos e queijos. No caso dos Rosés, o seu sabor combina bem com comidas mais exóticas ou ligadas ao mar: falamos de comida oriental, cataplana ou arroz de marisco. É também uma escolha óptima como aperitivo e em saladas (salmão fumado é altamente recomendado para combinar com Rosés).

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Fernão Pires: O branco que refresca

Fernão Pires é, a seguir ao Moscatel de Setúbal, a grande bandeira da região. Não é por isso surpresa que seja a casta branca mais plantada na Península de Setúbal e uma das mais disseminadas por todo o país. A sua versatilidade é a sua grande mais-valia. Isto significa que pode ser usada tanto em vinhos elementares (monocasta) como de lote (com mais de uma casta), trazendo a esses vinhos notas únicas - apreciadas em espumantes, vinhos licorosos ou de vindima tardia.
Mas o que significa então Fernão Pires? A resposta é: frescura. Nesta casta destacam-se as notas a frutos tropicais, mas também a rosa, tília, laranjeira, lima, limão e outras ervas limonadas. Aquilo que se procura num vinho branco por excelência, que nos transporta ao primeiro gole para outras paragens.

Quanto a harmonias, os brancos “frescos”, os mais regulares, são uma combinação perfeita quer como aperitivo, quer para acompanhamento de saladas, peixe grelhado e mariscos. No fundo, sabores simples ligados ao mar e ao Verão. Já os brancos mais elaborados, normalmente chamados por reserva ou colheita seleccionada, acompanham na perfeição bacalhau no forno, legumes salteados, choco frito ou queijos suaves.

Moscatel de Setúbal: a “marca” da região

Quando falamos de vinho em Setúbal, este é aquele de que nunca ninguém se esquece. A casta Moscatel de Setúbal é a que apresenta maior concentração de compostos aromáticos em todo o mundo, dando por isso origem a autênticos ex-líbris na categoria. O Moscatel de Setúbal traz-nos aromas que levam à casca e flor de citrinos, ao mel (uma nota destacada), à tília, rosas, líchias, pêra, tâmaras e passa de uva.

O que muitos ainda desconhecem é a existência do chamado Moscatel Roxo de Setúbal. Este tem uma produção mais limitada (tornando-se, consequentemente, menos conhecido) e esta dificuldade de garantir uma boa quantidade já o levou até perto da extinção no século passado. Comparado com o Moscatel dito “comum” os seus cachos são mais pequenos e compactos, em tons rosados e com ainda mais doçura. É um vinho com um aroma mais seco e complexo que o seu “irmão mais famoso”, num sabor onde se destacam as especiarias e as compotas tanto de ginja como de figo.

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O Moscatel de Setúbal é um vinho guardado para os pequenos prazeres da vida. Por isso, é ideal para acompanhar frutos secos, pratos principais ou sobremesas com base de laranja, café, doces conventuais, queijo e chocolate. A combinação destes dois últimos com Moscatel de Setúbal é, na verdade, um dos prazeres preferidos dos seus conhecedores.

Tinto, Rosé, Branco ou Licoroso. Setúbal tem para oferecer o melhor que a vinicultura portuguesa consegue produzir. Brindamos a isso?

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