Divulgar pormenores sobre buscas à mansão de Trump causaria “danos irreparáveis” à investigação

Depois de ter pedido a divulgação do mandado de busca e do inventário do material que foi apreendido em Mar-a-Lago, o Departamento de Justiça opõe-se à abertura do documento em que explica ao juiz os pormenores da investigação. O pedido foi feito por jornais norte-americanos e a decisão vai ser conhecida na quinta-feira.

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Inventário dos bens apreendidos na casa de Trump, divulgado na sexta-feira JIM BOURG/Reuters

Um juiz da Florida vai anunciar, amanhã, se os argumentos que foram usados pelo Departamento de Justiça dos EUA para convencer os tribunais a autorizarem um mandado de busca à mansão de Donald Trump, no início da semana passada, podem ser divulgados ao grande público. O pedido foi feito por jornais e canais de televisão norte-americanos, na segunda-feira, e conta com a oposição das autoridades responsáveis pela investigação, que temem “danos irreparáveis” ao seu trabalho.

No final da semana passada, a pedido do procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, um juiz autorizou a divulgação do mandado de busca e do inventário dos documentos que o FBI retirou de Mar-a-Lago – a mansão em Palm Beach, na Florida, onde o ex-Presidente norte-americano mora desde que saiu da Casa Branca, em Janeiro de 2021.

Mas os pormenores do que levou os investigadores a acreditarem que a residência de Trump podia ser palco de um crime permaneceram em segredo. Esses pormenores constam de um documento em que são reveladas informações que, segundo o Departamento de Justiça, podem pôr em risco a segurança de várias pessoas envolvidas na investigação e comprometer a colaboração de testemunhas.

“O facto de esta investigação implicar documentos classificados reforça ainda mais a necessidade de se proteger a sua integridade, e agrava as potenciais consequências de uma divulgação pública prematura”, dizem os advogados do Departamento de Justiça numa carta enviada ao juiz responsável pela decisão.

Os responsáveis pela investigação citam, em particular, as recentes ameaças contra agentes do FBI na sequência das buscas na mansão de Trump.

Na semana passada, um homem que participou na invasão do Capitólio, a 6 de Janeiro de 2021, tentou entrar nos escritórios do FBI em Cincinatti, no Ohio, vestido com um colete à prova de bala e armado com uma espingarda semiautomática, tendo sido morto numa troca de tiros com a polícia; e, na segunda-feira, um apoiante de Trump, residente no estado da Pensilvânia, foi acusado de fazer ameaças de morte a agentes do FBI e de apelar a uma guerra civil no país.

Na noite de segunda-feira, depois de o Departamento de Justiça ter anunciado a oposição ao pedido de vários grupos de media norte-americanos — incluindo o New York Times, o Washington Post e a CNN –, o ex-Presidente dos EUA apelou à “divulgação imediata” do documento em que os investigadores justificam as suas suspeitas.

Numa outra mensagem, Trump queixou-se de que os agentes do FBI lhe tinham “roubado” três passaportes no dia em que fizeram as buscas. Mais tarde, o Departamento de Justiça anunciou que devolveu os passaportes em causa – dois pessoais já caducados e um diplomático ainda válido – e sublinhou que devolve “todos os itens apreendidos em buscas que não tenham de ficar retidos por motivos de segurança”.

Na passada sexta-feira, o FBI retirou da mansão de Trump 26 caixas com documentos e outros artigos que o ex-Presidente dos EUA devia ter enviado para os Arquivos Nacionais assim que abandonou a Casa Branca. Entre o material apreendido estão 11 documentos classificados como confidenciais, secretos ou ultra-secretos – incluindo alguns que só podiam ser consultados em instalações especiais do governo norte-americano.

Não se sabe que tipo de documentos são esses, nem se os investigadores suspeitam de que Trump pode ter partilhado segredos da segurança nacional dos EUA com potenciais inimigos; segundo o Washington Post, alguns documentos recuperados de Mar-a-Lago dizem respeito a armamento nuclear, dos EUA ou de um país aliado – mas esta informação não foi confirmada oficialmente.

Segundo o mandado de busca, o ex-Presidente dos EUA é suspeito de ter violado três leis relacionadas com a preservação de documentos oficiais da Casa Branca e com a proibição de partilha de informações que podem pôr em risco a segurança nacional do país.

Nenhuma delas – incluindo uma parte da Lei de Espionagem, de 1917 – requer que os documentos em causa tenham algum tipo de classificação para que as autoridades possam deduzir uma acusação criminal, centrando-se, todas elas, nos riscos de partilha da informação e na retenção de documentos oficiais da Casa Branca fora das instalações dos Arquivos Nacionais.

No sábado, soube-se que um advogado de Trump assinou um documento, no início de Junho, garantindo ao Departamento de Justiça que todos os documentos classificados já tinham sido devolvidos aos Arquivos Nacionais.

Suspeitando que isso não era verdade, os investigadores pediram à equipa do ex-Presidente dos EUA que reforçasse a segurança num anexo específico e exigiram, no final de Junho, a entrega de imagens das câmaras de vigilância no local relativas aos dois meses anteriores. O mandado de busca seria autorizado por um juiz federal, no dia 5 de Agosto.

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