Trabalhadores da TAP protestam, Governo pede “responsabilidade”

Pilotos, tripulantes de cabine e técnicos de manutenção de aeronaves manifestam-se em frente ao Ministério das Infra-estruturas. Gestão da TAP avisa que acordos já celebrados com os sindicatos são para cumprir. Governo apela ao sentido de compromisso.

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A injecção de fundos na TAP deverá chegar aos 3200 milhões de euros. Daniel Rocha

Várias centenas de trabalhadores da TAP estão em protesto na manhã desta terça-feira, em Lisboa, em frente Ministério das Infra-estruturas para reclamar uma melhoria na qualidade do serviço da companhia aérea portuguesa e uma estratégia de sustentabilidade para a transportadora.

Pilotos, tripulantes de cabine e técnicos de manutenção de aeronaves, maioritariamente fardados ou vestidos de preto e branco, começaram a concentrar-se na praça do Campo Pequeno pelas 8h30, de onde seguiram em silêncio para a sede do ministério, que fica próximo do local, para protestarem e entregarem uma carta ao Governo.

Entre os cartazes levados pelos trabalhadores lêem-se frases como “se agora contratam a peso de ouro, porque é que despediram?”, ou “os despedimentos na TAP saem caros a todos”.

A contestação motivou uma reacção da liderança da TAP, com a comissão executiva da empresa a repudiar, em comunicado, o que considera ser uma “constante tentativa de ataques à sua credibilidade e competência, os julgamentos de intenções e a cada vez mais frequente apresentação de ‘factóides’ avulso, propositadamente descontextualizados, distorcidos e até, nalguns casos, completamente falsos, com que alguns sindicatos bombardeiam constantemente a comunicação social”.

O Governo lembra que o plano para a injecção de fundos na TAP foi aprovado há menos de um ano e pede aos trabalhadores “sentido de responsabilidade e de compromisso”, reconhecendo, ao mesmo tempo, o “momento difícil por que passam todos aqueles que, todos os dias, permitem à companhia operar”, onde se mantêm cortes salariais.

O protesto dos trabalhadores foi organizado pelas direcções do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) e do Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA). A manifestação tem o objectivo de apelar à “melhoria contínua da qualidade do serviço que presta aos seus clientes” e à “sustentabilidade da própria empresa”, para que a empresa mantenha “os elevados padrões de segurança da operação pelos quais” os trabalhadores afirmam que a companhia sempre foi reconhecida.

“Os trabalhadores e os passageiros estão juntos quando viajam e estão juntos nesta luta pelo alinhamento entre as opções de gestão e aquilo que o país necessita da TAP”, dizem os três sindicatos, afirmando ainda que “os aviões [da TAP] não voam sem pilotos, sem pessoal de cabine e, sem uma boa manutenção, nem chegam a sair do chão”.

Gestão quer “diálogo sério”

A gestão da TAP lembra que, até 2025, os acordos já celebrados com os sindicatos são para cumprir. A direcção da companhia diz manter “sempre as portas abertas para o diálogo sério e construtivo, de uma forma que contribua para uma melhoria efectiva das condições de trabalho de todos os trabalhadores”, e garante estar “bem consciente do esforço que é pedido a todos os trabalhadores da companhia, nomeadamente com o corte de 25% no valor dos salários acima dos 1410 euros”.

Sem esse “esforço”, diz, “não teria sido possível obter a autorização da Comissão Europeia para o plano de restruturação que permitiu a sobrevivência da TAP” e, por isso, essa “sobrevivência só foi conseguida também através do esforço de todos os contribuintes portugueses e do Estado português”.

Para a comissão executiva, os sindicatos da TAP, “bem conscientes deste facto, de forma responsável e cumprindo a sua função de defesa dos trabalhadores e dos seus postos de trabalho, acordaram” com a companhia aérea “os cortes salariais mencionados, assumindo assim um compromisso que produz os seus efeitos até 2025, ano a partir do qual, cumprindo-se o plano de restruturação, a TAP estará finalmente em condições de repor os salários na íntegra”. Por isso, reafirma, “até lá, não pode ser feita tábua rasa dos acordos firmados, nem a sobrevivência da companhia poderia resistir se isso acontecesse, como facilmente se poderá compreender”.

Também o Ministério das Infra-estruturas veio dizer, em comunicado, que “é preciso não esquecer que a companhia aérea atravessa ainda aquele que é o momento mais desafiante da sua história” e que “a TAP vive as consequências do ano dramático de 2020, quando o encerramento da empresa foi apenas travado pela injecção de fundos públicos, por parte do Estado português”, num valor que vai atingir os 3200 milhões de euros.

Essa injecção, lembra o Governo, “só foi autorizada pela Comissão Europeia por estar sujeita a um plano de reestruturação exigente” que só termina em 2025.

“Este plano — que foi aprovado há menos de oito meses — só foi autorizado porque contou com um substancial contributo por parte dos trabalhadores, traduzido na redução do número de efectivos na empresa (um processo já encerrado) e na redução dos salários dos trabalhadores que permaneceram na TAP. O processo de redução de custos laborais na empresa resultou de acordos assinados com 14 organizações representativas dos trabalhadores, que demonstraram enorme sentido de responsabilidade e de compromisso com a recuperação da empresa”, nota o ministério liderado por Pedro Nuno Santos.

O ministério diz contar “com o mesmo sentido de responsabilidade e de compromisso por parte dos trabalhadores para transformar a TAP numa empresa rentável e sustentável no futuro”.

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