Cartas ao director

Palpites e mais palpites

No passado mês de junho decorreram as eleições legislativas em França. Têm a particularidade de cada lugar ser conquistado individualmente, por maioria, a uma ou duas voltas, como nas nossas presidenciais. Existe uma prática de que um ministro em funções que falhe a eleição no seu círculo deve abandonar o governo, falta-lhe legitimidade. Em Portugal, o sistema é diferente e a prática também. Não quiseram eleger Fernando Medina como presidente da Câmara de Lisboa? Gramem-no agora como ministro!

Medina acabou de contratar um ponta de lança para a comunicação, um galáctico, com vencimento superior ao do ministro. Enfim, Sérgio Figueiredo pagou a Medina para dar palpites na TVI; agora este paga a Figueiredo para dar palpites no Governo. Palpite com palpite se paga.

Para lá deste antecedente, é curioso como o Ministério das Finanças necessita assim dum craque em comunicação… Medina já demonstrou no passado ter problemas em geri-la, mas não seria preferível que este Governo privilegiasse a realização em detrimento da comunicação? Por exemplo, fazer chegar os fundos do PRR às empresas que deles necessitam, de preferência ainda antes da próxima pandemia?

Carlos J.F. Sampaio, Esposende

Destruição do Pulmão do Interior

O incêndio originado no concelho da Covilhã, na serra da Estrela, aparentemente deflagrado como tantos outros em Portugal, torna-se, nos dias de hoje, a imagem da negligência estadista protagonizada pela insuficiência, pusilanimidade e exiguidade dos nossos responsáveis políticos. Por si só, o facto de estar ativo há sensivelmente uma semana assevera a irresponsabilidade no planeamento da contenção deste incidente, tanto que deu tempo e azo para se propagar para a outra vertente orográfica. A realidade descrita pelas inúmeras entidades revela, na plenitude, a atarantação com que estas se deparam.

As escassas palavras que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, bem como os seus homólogos colegas ministeriais, dispensaram a esta causa espelham a realidade socialista, perspetivando-se a protelação da luta contra os incêndios, que nos fustigam incomensuravelmente todos os anos. Infelizmente, não se futura “fumo branco”. Estamos literalmente ao “sabor do vento”, que, por estes dias, espalha cinzas por todo o território do interior.

Lucas Saraiva Videira, Viseu

Miguel Torga e o Brasil

Não!... Murilo de Carvalho não tem razão quando afirma que o Brasil não festeja os 200 anos de independência porque “não há nada a celebrar” (PÚBLICO, 5-8-2022). A confissão de Pessoa “A minha pátria é a língua portuguesa” (a língua-mãe mais falada no hemisfério sul) não é válida somente para o autor da Mensagem. Muito provavelmente, também é válida para a maioria dos Prémio Camões, prémio atribuído desde 1989, sendo que cerca de 40% dos galardoados são brasileiros. Torga, o primeiro premiado, foi ao longo da vida profundamente influenciado pela cultura brasileira. Foi ele que nos disse: “A língua que se mama no seio da mãe ou no seio da história é uma vara de condão que realiza prodígios. (...) Não há separação possível entre os eternamente unidos pelo cordão umbilical da expressão.” (Diário, 7-3-1968)

José Cymbron, Lisboa

Continuamos a não poupar em luz

Continuamos, e não só no Porto, mas também no Porto, a não poupar em luminosidade nas vias públicas. Uma situação necessária é haver luz suficiente para as pessoas poderem ver e, como não há policiamento, não serem assaltadas. Outra é, antes de anoitecer e depois de amanhecer, ter ruas, praças e pracetas em que parece “dia”.

Não é necessário – não de hoje, face à guerra na Ucrânia, e ao entrave ao fornecimento de energias da Rússia, de quem estamos demasiado dependentes, mas de há muito – gastar em tanta luz, quando o dinheiro dos nossos impostos teria mais onde ser aplicado. Noite é noite, não tem que ser igual ao dia.

Na Áustria, há muito que em Viena há poupança de luminosidade pública em ruas e monumentos. (…) Agora Linz, também na Áustria, está a fazer o mesmo. Cidade a cidade, tomam a iniciativa de poupar, de não desperdiçar. Isto em toda a Europa, excepto cá. (…)

Pena. Pena não anteciparmos situações, pena não agirmos e só reagirmos. Pena, depois, estarmo-nos sempre a queixar, a vitimizar e a atirar culpas para os outros, nunca é nossa. Nunca.

Augusto Küttner de Magalhães, Porto

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