Calor não deverá afectar a produção de vinho na Bairrada

Tempo quente só deverá ter impacto, segundo a comissão vitivinícola, no calendário das vindimas, que está a ser antecipado em cerca de dez dias.

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A Comissão Vitivinícola prevê que a qualidade e quantidade dos vinhos da Bairrada se mantenha nesta vindima. Sérgio Azenha

Até ao lavar dos cestos é vindima, mas as perspectivas já traçadas permitem antever que “a qualidade e quantidade dos vinhos da Bairrada se vai manter na vindima 2022/2023”. O cenário é traçado pela Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB), numa altura em que se estima que a produção em Portugal caia cerca de 9 por cento em relação à colheita de 2021, por conta das ondas de calor que se fazem sentir pelo país. Uma quebra para a qual a Bairrada não deverá contribuir, estando prevista a manutenção dos valores do ano anterior: uma produção de cerca de 181 mil hectolitros.

Fruto da proximidade ao mar, a Bairrada — que abrange os concelhos de Águeda, Anadia, Aveiro, Cantanhede, Coimbra, Mealhada, Oliveira do Bairro e Vagos — não tem sentido tanto os efeitos do tempo quente. “As manhãs são mais frescas, com alguma humidade e isso acaba por minimizar a falta de água nos solos”, enquadra Pedro Soares, presidente da CVB. O que pode acontecer, admite o dirigente, é a vindima ser feita mais cedo que o habitual, possibilidade já confirmada “no caso do espumante, cuja colheita começou na primeira semana de Agosto, cerca de dez dias mais cedo do que o habitual”, refere Pedro Soares.

O produtor Luís Pato prevê um ano de “produção normal”, corroborando a ideia de que a Bairrada não sofre tanto quanto outras regiões com a falta de água. Ainda assim, admite ter “algumas vinhas com rega”, como é o caso das vinhas de Maria Gomes, não tanto por conta das alterações climáticas mas porque a casta a isso obriga, explica. “Com a Maria Gomes, sem rega, há duas coisas que podem acontecer: a videira entra em stress hídrico e vai buscar água ao bago, mirra a uva; ou então há muita perda de acidez”, repara.

Luís Pato estima começar a vindimar na semana de 22 de Agosto, nomeadamente para Pét-Nat e espumante branco. “Na semana a seguir, vamos fazer a primeira monda, colheita, na Baga. E depois esperamos mais uma semana, para ver como evolui a maturação, para, então, vindimar branco para vinho branco. Quatro semanas depois da primeira monda na Baga é que vindimaremos para tinto”, perspectiva. Apesar de não ser o seu caso, compreende que haja produtores a avançarem com vindimas mais precoces. “Tem-se notado um avanço na floração, por causa do chamado aquecimento global”, aponta.

Quem também afiança estar a viver uma situação dentro da normalidade é o produtor Carlos Campolargo. “Estamos a fazer a vindima na altura habitual”, atesta o também presidente da associação de vitivinicultores-engarrafadores Vinibairrada, assegurando que a Bairrada não tem sofrido com a falta de água. “Na Primavera, choveu o que era preciso”, testemunha, fazendo votos de que a chuva não chegue agora, em plena época de vindimas. Neste momento, o produtor já tem em curso, desde a semana passada, a vindima para espumante. Na próxima semana, estima dar início à colheita de uvas tintas “também para espumante”.

Também no que toca à Bairrada, 2022 fica já marcado por um aumento na certificação de vinhos. Face ao período homólogo do ano anterior, de Janeiro a Junho desde ano, a Comissão Vitivinícola da Bairrada, que tem cerca de 110 produtores inscritos, verificou um aumento de 10 por cento na certificação dos vinhos da região. Esta certificação valida e, garante ao consumidor, que os vinhos são feitos com uvas produzidas na região sob a Denominação de Origem Bairrada ou a Indicação Geográfica Beira Atlântico. A região, recorde-se, produz mais de metade (53 por cento) dos espumantes nacionais.

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