Festival de marionetas leva Robertos e as “novas opressões” a Vila do Conde

Companhia teatral Lafontana – Formas Animadas homenageia teatro Dom Roberto na primeira edição do festival Olhó Boneco!, de 13 a 15 de Agosto. A entrada é gratuita

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Festival decorre de sábado a segunda-feira, em Vila do Conde J. Pedro Martins/ DR

O Teatro Dom Roberto, património cultural imaterial desde 2021, cativou alguns interessados nos últimos anos e, sem esquecer as raízes, procura um “caminho de modernidade”. A declaração de quase extinção passada em tempos não deve, no entanto, ser esquecida. “Neste momento, não está isento de riscos. Diria que não podemos colocar todos os bonecreiros de Robertos a viajar no mesmo avião”, brinca Marcelo Lafontana, actor e director da Lafontana – Formas Animadas, companhia teatral que este sábado, e até segunda, estreia um festival de marionetas em Vila do Conde. A primeira edição do Olhó Boneco! é dedicada aos Robertos – um “bonequinho inocente” que pode ser “ferramenta para mudar mentalidades”.

Com sede em Vila do Conde há 25 anos, a companhia teatral La Fontana, com fortes ligações ao trabalho comunitário, pôs-se, ainda durante a pandemia, a congeminar um evento ligado às marionetas que se tornasse “o ponto alto do Verão” na cidade piscatória. Reforçando um “circuito nacional em formação”, desenhou – com o apoio da Câmara de Vila do Conde e da Direcção-Geral das Artes – um festival de três dias, com entrada gratuita, com a distinção de ser temático. Este ano, o olhar vai para um teatro “mais ou menos desconhecido para a geração agora com 40 anos, mas que marcou muito a dos pais e avós” destes, contou ao PÚBLICO Marcelo Lafontana.

Em Vila do Conde, no Parque da Cidade, vão estar 11 dos 12 bonecreiros existentes em todo o país (e Macau – é de lá o artista em falta) para mostrar, em 26 espectáculos, um reportório que não se limita a beber influências do passado. “Existe uma procura estética contemporânea”, afirma Marcelo Lafontana.

Se as touradas, o barbeiro ou a rosinha e seus namorados eram os temas clássicos – e quase todos os bonecreiros aprenderam através deles –, há agora uma tentativa de abraçar os “temas fracturantes de hoje, as novas opressões”. Uma das histórias contadas em Vila do Conde será, por exemplo, sobre a pandemia. “É da maior importância procurar um caminho de modernidade. As tradições só sobrevivem quando são úteis e actuais.”

Criado em Itália, e apresentado em ruas, praças, feiras ou mesmo praias, o Teatro Dom Roberto chegou a Portugal no século XVIII. E rapidamente se tornou “muito popular”: “Respondia às necessidades de um país pobre e oprimido”, justifica Marcelo Lafontana, sublinhando o carácter de “protesto” deste teatro onde “o riso é catártico e esvazia o poder e o medo”.

Nos anos 80, recorda Marcelo Lafonatana, foi João Paulo Seara Cardoso, do Teatro de Marionetas do Porto, quem “salvou” os Robertos do desaparecimento, ao aprender a arte com António Dias, na altura um dos poucos bonecreiros em actividade.

Apesar de a abertura do festival estar marcada para sábado (11h-13h e 15h-19h30), na sexta-feira a “banda roberteira” e um grupo de Robertos gigantes (representativos das oito grandes personagens do teatro Dom Roberto) já tinham animado a feira semanal da cidade, no mercado municipal, juntamente com um dos bonecreiros convidados do festival. Tanto a banda como os cabeçudos foram criados em conjunto com a comunidade, dando corpo a uma espécie de lema da companhia teatral: “Não é só ver arte, é também fazer.”

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