Crianças com menos de dez anos vão receber vacina de reforço contra a poliomielite no Reino Unido

Campanha lançada pela autoridade de saúde britânica surge após terem sido encontrados nos esgotos de Londres vestígios do vírus da poliomielite.

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Em Portugal, não há registo do vírus da poliomielite desde 1987 JOSEPH J. ESPOSITO, F. A. MURPHY/CDC

O Governo britânico lançou esta quarta-feira uma campanha de reforço da vacina contra a poliomielite para crianças com menos de dez anos. A recomendação é feita, para já, para habitantes da capital, Londres, depois de ser confirmada a disseminação do vírus pela primeira vez desde a década de 1980.

Só este ano, a autoridade de saúde britânica (UKHSA, na sigla em inglês) identificou 116 exemplares de poliovírus em 19 amostras de esgotos em Londres. O primeiro alerta surgiu em Junho, com a primeira detecção do vírus em amostras de esgoto. De acordo com o comunicado da UKHSA, os níveis encontrados e a própria diversidade genética destes poliovírus indicam que a transmissão está a ocorrer em vários bairros da cidade londrina.

Ainda não foi identificado nenhum caso de infecção, mas, por forma a tentar evitar um possível surto, os médicos de família vão agora convidar crianças com idades compreendidas entre um e nove anos a receber vacinas de reforço contra a poliomielite. As taxas de imunização em Londres são variadas, mas estão, em média, abaixo da taxa de cobertura de 95% que a Organização Mundial da Saúde considera necessária para manter a poliomielite sob controlo, aponta a agência noticiosa Reuters.

“Não foi identificado nenhum caso de poliomielite e para a maioria da população, que está totalmente vacinada, o risco é baixo. Mas sabemos que as áreas de Londres onde o poliovírus está a ser transmitido têm algumas das taxas de vacinação mais baixas. É por isso que o vírus está a disseminar-se nessas comunidades e coloca os moradores não totalmente vacinados em maior risco”, refere a epidemiologista Vanessa Saliba, no comunicado do UKHSA.

A poliomielite é uma doença altamente infecciosa e que afecta sobretudo crianças com menos de cinco anos. Geralmente, a infecção é contraída através da ingestão de água contaminada e do contacto com fezes. O vírus ataca o sistema nervoso e pode paralisar as crianças e, embora não haja cura, a poliomielite pode ser prevenida pela vacina.

Uma das vacinas utilizadas é oral. Esta vacina oral contém poliovírus vivos, mas enfraquecidos. Em locais onde os cuidados de higiene são mais limitados, estes vírus enfraquecidos podem propagar-se de criança para criança, imunizando-as. No entanto, à medida que se propagam, os vírus da vacina podem recuperar a capacidade provocar de paralisia. Estes casos são apelidados de poliomielite derivada da vacina.

E é precisamente aqui que se enquadram os casos que recentemente vieram a público. Os vírus encontrados nos esgotos de Londres são do poliovírus de tipo 2 derivado de vacina – portanto, proveniente de uma vacina oral contra a poliomielite usada em múltiplos países, sobretudo no continente africano. O mesmo tipo de vírus já tinha infectado uma pessoa em Nova Iorque (Estados Unidos) há menos de um mês.

Os sintomas da poliomielite incluem sintomas semelhantes aos da gripe, como dor de garganta, febre, cansaço e náusea.

Jane Clegg, directora de enfermagem do sistema de saúde britânico para a região de Londres, destaca que já começaram a ser contactados pais e cuidadores: “Já entrámos em contacto com pais e cuidadores de crianças que não têm em dia as vacinas de rotina e que podem agora marcar uma consulta de actualização através do seu médico de família.”

Fora da capital britânica, a vigilância também será mais apertada nos próximos meses, com a realização de mais análises aos esgotos de outras cidades, adianta a UKHSA.

A Organização Mundial da Saúde tinha anunciado, em 2015, a erradicação do vírus de poliomielite do tipo 2 e, muito antes disso, do tipo 3. Ultimamente, no entanto, os casos de tipo 1 (endémico no Afeganistão e Paquistão e com casos registados no Malawi e Moçambique) e os derivados das vacinas (quase mil casos em África em 2020 e com infecções pontuais noutros continentes) têm aumentado. Em Portugal, não há registo de casos de poliomielite desde 1987, também devido às elevadas coberturas vacinais mantidas há décadas no país.

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