Humaniza: 4 anos a fazer a diferença nos cuidados paliativos

Os cuidados paliativos têm um impacto fundamental tanto nos pacientes com doenças avançadas, e em fim de vida, como nas próprias famílias. Contudo, existem ainda algumas necessidades que precisam de ser colmatadas. É nesse sentido que surge o programa Humaniza.

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Tudo começou em Espanha, com a designação “Apoio Integral a Pessoas com Doenças Avançadas”, mas foi em 2018 que o Programa Humaniza chegou a Portugal, numa iniciativa conjunta da Fundação “la Caixa” e do Ministério da Saúde português. Desde então, muitos têm sido os esforços e os avanços neste que é o programa que pretende melhorar e reforçar a acção dos serviços públicos de saúde na prestação de Cuidados Paliativos.

Em conversa com Bárbara Gomes, directora científica do programa, tentámos perceber qual o balanço de quatro anos de implementação em Portugal. “De momento apoiamos 16 equipas, são cerca de 82 profissionais. Dessas 16 equipas, 11 são EAPS - que nós chamamos Equipas de Apoio Psicossocial -, especificamente treinados e experientes em apoio em fim de vida, e cinco delas são equipas Comunitárias de Suporte em Cuidados Paliativos distribuídas por diferentes regiões do país. Desde Outubro de 2018, estas equipas apoiaram mais de 35.000 pessoas: 16.000 doentes e cerca de 20.000 familiares”, partilhou.

​O programa conta ainda com outras iniciativas, como o apoio à qualificação de especialistas em cuidados paliativos, nomeadamente médicos e enfermeiros.

"Atribuímos bolsas a 15 futuros especialistas nesta área. Apoiamos também o desenvolvimento de outros 15 projectos - quatro de movimentos associativos, sete projectos inovadores em grupos especialmente vulneráveis. E também foram apoiados quatro projectos no âmbito do prémio rural BPI “la Caixa”. Além de tudo isto, pretendemos criar, no próximo ano, um EspaçoCaixa de apoio integral no IPO do Porto. Um espaço dentro de uma instituição hospitalar, desenhado para criar um ambiente acolhedor, mais próximo do ambiente familiar, no qual o doente e o familiar possam estar como se estivessem em casa”, acrescentou.

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“Quanto mais cedo, e quanto menos associarmos os cuidados paliativos ao fim de vida, mais benefícios podemos trazer para as famílias e para os próprios doentes.” Bárbara Gomes, directora científica do programa Humaniza

Os planos para o futuro são promissores, mas o caminho a percorrer ainda é longo. Para a directora científica do programa, a área dos cuidados paliativos em Portugal continua a ser “uma das áreas mais negligenciadas no sistema nacional de saúde e com uma necessidade de grande revolução”. Portanto, com o Humaniza o que se pretende é complementar a acção do governo nessa área.

Quanto à missão do projecto refere que se mantém a mesma desde o início, ajudar os doentes a viver até ao último instante, até porque como defende: “vida é para ser vivida até ao último instante”. De acordo com a responsável, o intuito do programa é contribuir para fornecer apoio integral, complementando o apoio nas várias dimensões da pessoa - especialmente nas áreas psicológica, social e espiritual – de forma a que os doentes possam viver confortável e pacificamente.

Para além do apoio especializado prestado aos doentes, outro dos grandes objectivos do programa é apoiar famílias e cuidadores, tanto no processo de doença, como na fase do luto. “Quando pensamos na parte domiciliária é extremamente difícil manter uma pessoa com doença avançada em casa sem um cuidador familiar. Por um lado, eles são prestadores de cuidados, quase parceiros dos próprios profissionais, mas depois também são pessoas que precisam eles próprios de cuidados”, sublinhou Bárbara Gomes.

​Problemas a resolver para o futuro

Importa também perceber o que precisa de ser feito para que algumas das falhas e necessidades que ainda existem possam ser contornadas. Para a directora do programa, a conclusão é óbvia - é necessário apostar numa maior brevidade na procura dos cuidados paliativos e fomentar a partilha de informação.

“Quanto mais cedo, e quanto menos associarmos os cuidados paliativos ao fim de vida, mais benefícios podemos trazer para as famílias e para os próprios doentes. (...) Precisamos de mais informação”, reconheceu a responsável, destacando ainda que é preciso informar as populações sobre os apoios locais de cuidados paliativos.

A directora científica do programa Humaniza reforça que a previsão é que as necessidades neste âmbito cresçam e que é por isso necessário que iniciativas como este programa continuem a ser uma aposta. “Há imenso ainda a fazer, em termos de cuidados paliativos, e estamos aqui para ajudar e alavancar esse investimento”, afirma.

A Fundação ”la Caixa” iniciou em 2018 a sua implantação em Portugal, consequência da entrada do BPI no CaixaBank. Em 2022, destina 40 milhões de euros a projectos sociais, de investigação, educativos e de divulgação cultural e científica. A Fundação mantém o seu compromisso de alcançar um investimento de até 50 milhões de euros anuais nos próximos anos, quando todos os seus programas estiverem implementados e a funcionar em pleno.