FBI procura responsável por quatro homicídios na comunidade muçulmana do Novo México

Quatro homens muçulmanos de ascendência paquistanesa e afegã foram assassinados a tiro, desde Novembro, na cidade norte-americana de Albuquerque. Os últimos três crimes aconteceram nas últimas duas semanas, e há cada vez mais pessoas com medo de sair de casa.

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As quatro vítimas tinham idades entre os 25 e os 62 anos DR

No dia em que foi morto a tiro por um desconhecido, pouco antes da meia-noite da passada sexta-feira, Naeem Hussain, um jovem refugiado paquistanês de 25 anos que estava nos Estados Unidos desde 2016, assistira aos funerais de dois outros muçulmanos na mesquita de Albuquerque, a maior cidade do estado norte-americano do Novo México.

Durante a cerimónia, Hussain manifestou o seu receio de andar sozinho nas ruas de Albuquerque, um sentimento partilhado pela generalidade da comunidade muçulmana da cidade. Nas duas semanas anteriores, primeiro a 26 de Julho e depois a 1 de Agosto, outros dois muçulmanos paquistaneses — Aftab Hussein, de 41 anos, e Muhammad Afzaal Hussain, de 27, cujos funerais se realizavam nesse dia — tinham sido mortos a tiro nas ruas da cidade norte-americana.

“Ele veio perguntar o que estava a acontecer e estava preocupado”, disse Tahir Gauba, o porta-voz da mesquita de Albuquerque, em declarações à CNN. “Pensávamos que isto ia acabar depois dos dois funerais, mas sentimo-nos perdidos, na manhã de sábado, quando soubemos de mais uma morte. Há muito medo, as pessoas estão a ficar desesperadas.” Na noite anterior, a polícia tinha encontrado o corpo de Naeem Hussain numa rua de Albuquerque.

A polícia do Novo México e a polícia federal norte-americana (o FBI) ainda não afirmaram de forma taxativa que os casos estão ligados, mas deixaram claro que as investigações estão a seguir nesse sentido. E avisaram que a série de assassínios dirigidos à comunidade muçulmana de Albuquerque pode ter começado em Novembro de 2021, com o homicídio de Mohammad Ahmadi, de 62 anos — um caso ainda por desvendar.

Todos eles foram “vítimas de emboscadas sem aviso, baleados e mortos”, disse o vice-comandante da polícia de Albuquerque, Kyle Hartsock.

"Pânico controlado"

A notícia já foi comentada pelo Presidente dos EUA, Joe Biden, que disse estar “irritado e desolado” com os acontecimentos recentes em Albuquerque. Numa mensagem publicada na rede social Twitter, Biden manifestou solidariedade com os familiares das vítimas e afirmou que a sua Administração “está ao lado da comunidade muçulmana”.

No terreno, as autoridades locais anunciaram uma recompensa de 20 mil dólares (19.600 euros) por informações que levem à detenção dos responsáveis, e a polícia partilhou a imagem de um veículo que pode ter sido usado nos crimes — um Volkswagen cinzento-escuro com vidros fumados, possivelmente modelo Jetta.

Num comunicado, o CAIR — a maior organização de defesa da comunidade muçulmana nos EUA — salientou que os homicídios em Albuquerque “afectam todos os americanos”.

“Temos de estar unidos contra o ódio e a violência, seja qual for a raça, a fé ou a ascendência das vítimas e dos perpetradores”, disse o director do CAIR, Nihad Awad.

A série de homicídios deixou a comunidade muçulmana “numa espécie de pânico controlado”, segundo Ahmad Assed, o presidente do Centro Islâmico do Novo México, que é a principal mesquita de Albuquerque — e que era frequentada pelas quatro vítimas.

As organizações locais já se disponibilizaram para levar refeições a pessoas que têm medo de sair de casa, e a direcção da mesquita apelou aos membros da comunidade para redobrarem a atenção nas ruas.

“Tentem perceber se estão a ser seguidos no caminho para casa e evitem andar sozinhos à noite”, lê-se num comunicado publicado no Facebook pelo Centro Islâmico do Novo México. “O cuidado deve ser ainda maior no caso dos habitantes da zona sudeste da cidade, onde aconteceram estes homicídios.”

As quatro vítimas foram recordadas como exemplos de integração nos EUA. Mohammad Ahmadi, de 62 anos, foi morto à porta da empresa que geria com o seu irmão; Aftab Hussein, de 41 anos, trabalhava num café; Muhammad Afzaal Hussain, de 27, tinha um mestrado em planeamento comunitário da Universidade do Novo México e trabalhava na câmara municipal de Española, uma cidade a 150 quilómetros de Albuquerque; e Naeem Hussain, de 25 anos, abrira uma empresa de camionagem há poucos meses e era cidadão norte-americano desde Julho.

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