Alto Minho admite corte do abastecimento de água para consumo humano já neste mês

Os concelhos da região vivem situação de seca severa. Melgaço já recorre a cisternas de água dos bombeiros

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Previsão do prolongamento de um Verão seco está na origem do plano de prevenção JORDAN VONDERHAAR/REUTERS

É só em situação “extrema”, mas o presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho, Manoel Batista, assume que poderá haver um corte do abastecimento de água para consumo humano já este mês e possivelmente em Setembro.

Rejeitando “dramatizar cenários”, o responsável pela comunidade intermunicipal assume que, perante a previsão já apontada para o prolongamento de um Verão seco com temperaturas elevadas e sem chuva em todo o país, “é possível que, nalgum momento, alguns sistemas não tenham capacidade de se abastecer de água”.

“Sabemos que há municípios na nossa vizinha Galiza onde o consumo de água já é controlado, e é cortado o abastecimento em períodos do dia. Isso ainda não aconteceu no Alto Minho porque temos procurado que cada um dos reservatórios consiga dar resposta aos respectivos sistemas de abastecimento, mas, em última análise, poderá haver alguma medida mais grave”, alertou Manoel Batista esta segunda-feira, em Ponte de Lima, no final de uma reunião com o vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), José Pimenta Machado, durante a qual a CIM do Alto Minho apresentou medidas futuras para acautelar “situações de seca extrema como esta”.

Para já, o presidente da CIM, da qual fazem parte os municípios de Arcos de Valdevez, Caminha, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Ponta da Barca, Ponte de Lima, Valença, Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira, revelou que as localidades onde a escassez de água gera maior preocupação, e que já estão sob monitorização, ficam junto a zonas montanhosas.

“As aldeias das montanhas que têm sistemas fechados, compactos, e que não estão ligados em rede a sistemas mais abrangentes, poderão ser as mais vulneráveis”, disse, sinalizando que os serviços intermunicipais já identificaram que os caudais de água registados em meados de Julho “só se registam, habitualmente, em finais de Agosto”.

Melgaço já recorre a cisternas

A reunião entre a CIM do Alto Minho e a APA serviu para o desenho de medidas futuras, mas a seca que assola o território minhoto exige “respostas urgentes”, reforçou Manoel Batista. Adiantou mesmo que em Melgaço, município a que preside (PS), já existem corporações de bombeiros do distrito de Viana do Castelo a “levar cisternas de água a reservatórios”.

“Neste momento, a colaboração com os bombeiros municipais já acontece e muitas corporações já estão a apoiar no abastecimento de água nos reservatórios onde ela vai diminuindo, porque as captações existentes não conseguem abastecer convenientemente os reservatórios”, acrescentou, salvaguardando que o recurso aos bombeiros “não é uma “novidade”, mas que este ano está a “acontecer mais cedo e de uma forma mais intensa”.

Entre as medidas a implementar, além da colaboração com os bombeiros, os dez municípios do alto Minho vão constituir um grupo de trabalho intermunicipal, que terá o objectivo de “fazer um acompanhamento exaustivo de toda a situação, e que vá desenhando, pontualmente, respostas mais agressivas para o controlo do consumo da água”; utilizar “água menos qualificada” para os sistemas de rega pública e para a lavagem de contentores do lixo e das viaturas municipais, e promover “campanhas de sensibilização, porta a porta, para alertar as pessoas para a responsabilidade da gestão da água”.

Plano com a APA prevê elaboração de plano de contingência

Entre as propostas apresentadas à APA a implementar no futuro, a CIM do Alto Minho recomendou a elaboração de um plano intermunicipal de contingência, adaptado às alterações climáticas, para períodos de seca, que identifique as zonas e as populações “mais vulneráveis” e “estabeleça mecanismos de informação e alerta”.

O plano passará por “criar condições adequadas para que o sector de abastecimento de água aos residentes, ao sector industrial, mas sobretudo ao sector agrícola – que está a crescer de forma interessante no território , esteja devidamente acautelado”, referiu o autarca de Melgaço.

Além do plano de gestão, a comunidade intermunicipal quer implementar “pequenas albufeiras, informais, que permitam reter água para abastecer sistemas de rega”. No final de um mês de Julho em que as bacias hidrográficas de todo o país registaram uma descida de água armazenada, estando apenas cinco das 60 albufeiras monitorizadas com um volume hídrico superior a 80%, Manoel Batista sugeriu a utilização de “captações, minas e furos que secaram, que podem ser aproveitados para reter água ao longo do ano”, estando também em cima da mesa a possibilidade de os projectos serem submetidos a fundos comunitários.

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