As férias do stress, da ansiedade e do burnout

As férias também nos podem confrontar com a dificuldade em perceber as nossas necessidades, com a falta de companhia, com a fase do nosso casamento ou divórcio, com a vida profissional/financeira, com a necessidade de estar “demasiado ocupado/a”que nos impede de simplesmente existir.

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"O stress e ansiedade são respostas emocionais humanas" ERIC GAILLARD/Reuters

Em consultório recebi a Joana (nome fictício), mulher de 38 anos, casada, com dois filhos, a lutar por ir de férias e sair do seu modo “piloto automático'’. Aquele modo mecânico em que entramos e simplesmente cumprimos as exigências das rotinas e a lufa-lufa do dia-a-dia.

No caso da Joana, ela encontra-se assim, desde que nasceu o seu primeiro filho (agora com 7 anos). É um modo de stress, produtivo, muito funcional, porém perigoso quando prolongado no tempo, pois a Joana, já não consegue viver sem a adrenalina do stress que nos dá alerta e energia suficiente para funcionar eficazmente.

O que ela não esperava é que começasse gradualmente a sentir ansiedade antes de ir de férias “Não me reconheço, parece que deixei de ter prazer nas coisas simples e de estar com as pessoas que gostava… Sinto-me assustada e perdida…”

Falamos em férias e idealmente os olhos brilham ao sol e a mente dispersa para mergulhos e gelados, mas a realidade pode ser bem diferente. As férias também nos podem confrontar com a dificuldade em perceber as nossas necessidades, com a falta de companhia, com a fase do nosso casamento ou divórcio, com a vida profissional/financeira, com a necessidade de estar “demasiado ocupado/a”que nos impede de simplesmente existir.

Afinal como distinguimos o stress de ansiedade e como podemos evitar o tão assustador esgotamento/burnout?

Importa relembrar que stress e ansiedade são respostas emocionais humanas, logo importantes quando estamos perante algo que representa um perigo, uma ameaça. Porém quando prolongadas no tempo levam o organismo a esgotar, pois nenhum sistema nervoso central aguenta estes níveis de alerta de forma regular e constante.

Como ambos têm manifestações mentais e físicas (somáticas) semelhantes, importa conhecer cada uma delas para saber quando deixam de ser saudáveis e passam a adoecer-nos.

O stress normalmente é causado por gatilhos externos (trânsito, uma discussão, uma entrega de trabalho…) e pode ser gatilhos de curto prazo (um prazo apertado no trabalho, uma discussão com familiar, trânsito...) ou de longo prazo (como desemprego, discriminação ou uma doença...). Normalmente termina assim que há redução da exposição ao gatilho. Ao nível de manifestações mentais e físicas: Irritabilidade, raiva, cansaço, dores físicas ou musculares, problemas digestivos, de sono ou apetite, são comuns.

A ansiedade é definida por preocupações persistentes que não desaparecem mesmo quando o stressor acaba. Normalmente trata-se de um medo/receio que algo aconteça no futuro. Ao nível de manifestações físicas é comum notar um aumento de batimento cardíaco, tensões musculares ou no corpo (aperto no corpo, especialmente na cabeça, pescoço, mandíbula), dores de de estômago, cabeça ou peito, náuseas, alterações de temperatura (calafrios, ondas de calor, suores), despersonalização “parece que não sou eu”, tonturas ou sensação de fraqueza, dormência, zumbido, falta de alterações do padrão de sono, cansaço, dificuldade de concentração/memória, desinteresse, isolamento, irritabilidade e muitos medos.

Quando reduzimos o stress, normalmente em períodos de férias, por exemplo, podemos notar um aumento de alguns destes sintomas, já que baixamos o nível de adrenalina e por isso o corpo e a mente começam a reagir.

Aqui ficam algumas dicas de como lidar com excesso de stress e/ou ansiedade na sua vida e quando procurar ajuda especializada.

Evitar automedicar, o isolamento, aumentar as exigências sobre si, ficar alerta para comportamentos autodestrutivos (aumento do consumo de álcool, tabaco ou drogas), não tomar decisões definitivas, nem deixar arrastar estes períodos por mais de três meses.

Nestas fases é essencial reforçar uma rotina, introduzir ou reforçar exercício físico, alimentação saudável e descanso (detox do sono)

Reforçar e introduzir fontes de bem-estar, como actividades que dão prazer e algumas técnicas de relaxamento ou de regulação do sistema nervoso central.

É aconselhável procurar ajuda especializada, quando reconhecemos os sinais de alerta de Stress, ansiedade prolongada no tempo e/ou não conseguimos interromper o ciclo por nós, e nada parece resultar. A psicoterapia ajuda a ajustar as estratégias e técnicas à necessidade e vida pessoal.

Partilho uma técnica de resolução de problemas para a ansiedade:

Faça uma Lista de Preocupações e para preocupação identifique:

1. O Pior Cenário que pode acontecer

2. Avalie se é de facto possível que aconteça (De 0 a 10 qual a probabilidade de acontecer na realidade).

3. Identifique duas soluções possíveis para cada problema.

Boas Férias, stress e sayonara curnout!!

Maria Palha, Psicoterapeuta, fundadora da Behuman

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