Guerra na Ucrânia já atingiu mais de 170 sítios do património cultural, diz a UNESCO

O mais recente levantamento dos danos provocados pela guerra identifica 171 sítios, de museus e monumentos a bibliotecas, universidades ou igrejas.

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Ucrânia tenta proteger estátuas e outros monumentos. Adriano Miranda

Desde a invasão russa de 24 de Fevereiro, 171 monumentos e sítios históricos foram já destruídos ou danificados pela guerra, anunciou a Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura (UNESCO) no seu mais recente relatório.

A lista de sítios atingidos abarca museus, bibliotecas, universidades e diversos edifícios históricos e de interesse cultural, como as igrejas da Natividade e da Santíssima Trindade, em Kyiv, o Memorial do Holocausto, em Kharkiv, o Museu de Belas Artes de Odessa, ou ainda os museus de Mariupol e Melitopol, ambos sujeitos a destruição e saque, como as autoridades ucranianas tinham denunciado, e uma reportagem do jornal The New York Times pôde confirmou em Maio.

Os números agora divulgados pela UNESCO relativos ao património cultural atingido identificam 74 sítios de natureza religiosa, 13 museus, 33 edifícios históricos e 26 edifícios destinados a actividades culturais, contando-se ainda 17 monumentos e oito bibliotecas.

O levantamento da UNESCO, actualizado este mês, contabiliza, entre outros, 47 sítios danificados ou destruídos na região de Donetsk, a maioria em Mariupol, 42 na área de Kharkiv, 26 locais na área de Kyiv, 18 em Lugansk, e 14 sítios atingidos na região de Chernihiv, identificando ainda mais de duas dezenas de casos de património cultural atingido ou destruído nas regiões de Zaporizhzhya, Zhytomyr, Sumy, Mykolaiv e Vinnytsya.

Até à data, no entanto, nenhum sítio classificado como Património Mundial pela UNESCO “parece ter sido danificado”, afirma a organização.

A UNESCO tem estado a efectuar uma avaliação preliminar dos danos em bens culturais, cruzando os incidentes relatados com várias fontes fiáveis, mas alertando para o facto de os dados publicados, que são actualizados regularmente, não comprometerem a organização.

Em paralelo, a UNESCO está a desenvolver, com organizações parceiras, um sistema para avaliação independente dos dados na Ucrânia, incluindo análise de imagens de satélite, de acordo com as disposições da Convenção de Haia de 1954 para a protecção de bens culturais em caso de conflito armado.

Entretanto, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) e o Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens Culturais (ICCROM) empreenderam uma missão conjunta, que decorreu na primeira quinzena de Julho, para dar apoio aos esforços do Ministério da Cultura e da Política de Informação da Ucrânia, assim como às organizações do património e profissionais no país, na actual conjuntura de conflito bélico, divulgaram esta segunda-feira aquelas entidades.

Numa reunião com o ministro ucraniano da Cultura e da Política de Informação, Oleksandr Tkachenko, foram debatidas as possibilidades de “assistência técnica e formação para a protecção do património cultural, que enfrenta um risco iminente devido à guerra em curso”, lê-se no comunicado divulgado pelo ICOMOS.

Nesta reunião participaram outros responsáveis, como a directora-adjunta do Ministério da Cultura ucraniano, Kateryna Chuieva, e representantes da Fundação ALIPHI, uma organização internacional cujo trabalho se centra na protecção da herança cultural em zonas de conflito. O ICOMOS e o ICCROM “ofereceram a sua assistência na estabilização do património que foi danificado”.

No seu portal na Internet, a ALIPH afirma que, “desde as primeiras horas do conflito na Ucrânia”, se mobilizou “para ajudar a proteger o património cultural e os profissionais do património” ucranianos. “A Fundação entrou rapidamente em contacto com organizações internacionais de património e autoridades ucranianas e, por meio de redes polacas e moldovas, a ALIPH abordou profissionais ucranianos para avaliar e responder às necessidades no terreno”.

Em Março, a ALIPH adoptou o Plano de Acção Ucraniano, com um fundo financeiro inicial de dois milhões de dólares norte-americanos (cerca de 1,96 milhões de euros, ao câmbio actual) para projectos, e desde então aumentou o valor para três milhões (cerca de 2,94 milhões de euros).

A delegação internacional reuniu-se ainda com autoridades locais, organizações não-governamentais e académicos nas cidades de Kiev, Chernihiv e Lviv, incluindo membros do ICOMOS-Ucrânia e do ICCROM. E visitou ainda cidades da região de Kiev, como Hostomel, Borodyanka e Bucha, e aldeias da região de Chernihiv.

Estas visitas “não foram limitadas aos principais sítios do património cultural, como a Catedral de Santa Sofia e os edifícios monásticos associados, KyivPechersk Lavra, que faz parte da Lista do Património Mundial, mas também áreas urbanas e rurais, assim como zonas naturais, designadamente a floresta de Mykulychi, na região de Kiev”, adianta o site do ICCROM.

No comunicado do ICOMOS é realçada a acção da Iniciativa de Resposta a Situações de Emergência do Património (HERI), “que está activamente envolvida nos primeiros socorros e na recuperação do património afectado na Ucrânia”.

Da delegação internacional fizeram parte a arquitecta portuguesa Teresa Patrício, presidente do ICOMOS, a turca Zeynep Gül Ünal, vice-presidente da organização e coordenadora da sua equipa de intervenção e acompanhamento e resposta à crise na Ucrânia, e Aparna Tandon, um quadro do ICCROM com vasta experiência em missões de protecção de património cultural em zonas de conflito.

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