França tem de limitar produção de electricidade nuclear quando se agrava crise energética europeia

Onda de calor está a aquecer as águas dos rios usadas para arrefecer os reactores em França e a forçar centrais a reduzir funcionamento. Mas trabalhos de manutenção e a descoberta de problemas de corrosão afectam metade da frota nuclear francesa e o país está a importar electricidade.

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Central nuclear de Tricastin, uma das que tiveram de reduzir a produção de energia devido ao aquecimento da água do rio que arrefece os reactores JEAN-PAUL PELISSIER/Reuters

É provável que os cortes que já se estão a verificar na produção de electricidade através de energia nuclear se aprofundem, anunciou a empresa Électricité de France (EDF), porque as elevadas temperaturas deste Verão estão a fazer aquecer as águas dos rios usadas para arrefecer os reactores. É mais um factor a agravar a crise energética da segunda maior economia da União Europeia.

A França é o maior produtor de energia eléctrica na Europa, e o país é normalmente um exportador líquido de energia durante a maior parte do ano. Mas neste momento tem de importar energia, nomeadamente da vizinha Alemanha. Só metade da capacidade instalada dos reactores nucleares franceses está disponível desde há alguns meses, devido a trabalhos de manutenção e à descoberta de problemas de corrosão nalguns equipamentos.

Esta situação agrava os problemas da Alemanha, que terá de utilizar mais gás para produzir electricidade, em vez de o preservar para os meses de Inverno, quando é necessário sobretudo para aquecimento. Isto num cenário em que a Rússia está a cortar a quantidade de gás fornecida à Europa, em consequência dos embargos impostos pelo Ocidente a Moscovo por causa da invasão da Ucrânia.

A empresa eléctrica francesa anunciou que as centrais nos rios Ródano e Garonne devem produzir menos electricidade nos próximos dias, mas será mantido um mínimo de produção para manter a rede eléctrica estável. Uma onda de calor está a fazer subir a temperatura da água dos rios, o que limita a possibilidade de a usar para arrefecer os reactores.

Estas reduções fazem subir o risco de aumento dos preços da electricidade, que já estão em níveis recorde em França e na Alemanha. A Europa está a sofrer a pior crise energética das últimas décadas por causa dos cortes no fornecimento de gás russo, que estão a provocar um grande aumento dos preços. As elevadas temperaturas que se têm feito sentir na Europa e a seca que afecta uma grande extensão do continente europeu – este foi o Julho mais seco de sempre em França – reforçam o impacto que o aquecimento global está a ter sobre infra-estruturas vitais.

Os rios franceses fazem parte de um problema mais vasto na Europa, causado por semanas seguidas de tempo quente e seco.

Na Alemanha, o Reno está à beira de ter de encerrar ao tráfego comercial numa localização bastante frequentada, porque está a ficar tão seco que não tem profundidade suficiente para que passem barcaças. Isso está a entravar o transporte de carvão, que tem de aumentar porque algumas centrais vão voltar a ser activadas para este Inverno, para produzir electricidade, compensando os cortes no fornecimento de gás russo através do gasoduto Nord Stream 1.

A navegação também se tornou mais difícil no Danúbio, enquanto o Pó, o rio mais longo de Itália, está com níveis de água demasiado baixos para permitir a rega de campos agrícolas.

É esperado que o calor intenso permaneça em França e na Alemanha durante pelo menos as próximas duas semanas segundo um modelo da Bloomberg.

As regras francesas estipulam que a EDF tem de reduzir ou parar de produzir energia nuclear quando a temperatura da água dos rios alcance determinados limites, para garantir que a água usada para arrefecer os reactores não acabe por causar danos no ambiente [por estar ainda mais quente do que o tolerável], quando regressar aos cursos de água.

Durante este Verão, estas restrições já foram aplicadas várias vezes. Por exemplo, na central de St. Alban, que teve de operar a uma capacidade mínima de 700 megawatts, quando tem uma capacidade total de 2600 megawatts.

Essa limitação foi imposta nesta segunda-feira (8 de Agosto) às centrais de Blayais, Bugey, Golfech, Saint-Alban e Tricastin pela Autoridade de Segurança Nuclear francesa.

Estes problemas estão a forçar França, que normalmente exporta a energia, e importar electricidade de países vizinhos, como a Alemanha ou o Reino Unido, que estão a enfrentar as suas próprias crises energéticas.

Exclusivo PÚBLICO/Bloomberg

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