Nauru lança projecto de mineração e divide nações do Pacífico

27 milhões de toneladas de nódulos polimetálicos, fundamentais para descarbonizar a economia, encontram-se perto da ilha de Nauru, no Oceano Pacífico. O país quer minerar o fundo do mar e outros opõem-se à acção que pode “destruir habitats oceânicos”.

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As escavadoras são colocadas entre 4000 e 6000 metros de profundidade Nautilus Minerals

A pequena nação insular de Nauru, no Oceano Pacífico, planeia iniciar um projecto de mineração em alto mar, na região de encontro das placas tectónicas de Clarion-Clipperton. Ainda pouco se conhece sobre esta indústria, nomeadamente as suas consequências, mas existe a certeza de que esta zona contém largos milhões de euros em metais. A Nauru juntaram-se mais países da região para estabelecer parcerias exploratórias, enquanto outros optaram pelo protesto activo.

O Presidente de Nauru, Lionel Aingimea, notificou a Autoridade Internacional de Fundos Marinhos (ISA, na sigla em inglês) sobre os planos de mineração a serem realizados pela empresa The Metals Company, sublinhando que planeava accionar a chamada “regra de dois anos”. Com esta exigência, a ISA terá apenas dois anos para concluir as negociações sobre as regras que regem esta nova e controvérsia indústria.

Os alvos destas empresas são pequenas rochas denominadas pelos cientistas como nódulos polimetálicos e, só na região de exploração proposta por Nauru, encontram-se cerca de 27 milhões de toneladas. Ricas em cobre, níquel, cobalto e manganês, acredita-se que possam vir a ser fundamentais na construção de baterias, para electrificar os transportes e para descarbonizar a economia, numa altura em que a revolução tecnológica verde dá passos largos.

Contudo, para recolher estas rochas é necessário minerar e recorrer à extracção industrial por escavadoras que, tipicamente, têm 30 vezes o peso de bulldozers tradicionais. Estas máquinas são colocadas entre 4000 e 6000 metros de profundidade e percorrem o fundo do mar, aspirando as rochas, esmagando-as e enviando uma lama de nódulos e sedimentos para os navios na superfície. Estes aglomerados podem levar mais de três milhões de anos a formarem-se.

Kiribati e Tonga, regiões próximas da zona de potencial exploração, são as nações que já se juntaram activamente ao pedido de Nauru e que já fizeram parcerias exploratórias com a Metals Company, tendo como objectivo financiar o processo e recolher os seus próprios lucros.

A ilha de Palau foi, por sua vez, a primeira nação na região a mostrar-se contra esta decisão e a dar início a uma campanha anti-mineração na recém-concluída Conferência dos Oceanos da ONU, em Lisboa, liderada pelo primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama. A ela juntaram-se, posteriormente, estados-nações vizinhos, como Samoa, Tuvalu e as Ilhas Salomão.

“A mineração em alto mar compromete a integridade do nosso habitat oceânico e deve ser desencorajada o máximo possível”, disse Sylvia Earle, ex-cientista da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), em Lisboa.

“Estamos perante rochas vivas, não apenas pedras mortas. Vejo-as como milagres. Para além disto, a mineração, onde quer que ocorra, é conhecida por ter custos ambientais. Se ocorresse em terra, poderíamos, pelo menos, monitorizar o processo e corrigir eventuais problemas, minimizando os seus danos, mas a seis mil metros abaixo da superfície quem é que está a controlar?”, questionou a cientista.

Do seu lado estão outros biólogos marinhos, conservacionistas dos oceanos, reguladores governamentais e empresas, que fizeram soar os alarmes sobre uma variedade de preocupações ambientais, de segurança alimentar, financeiras e de biodiversidade.

Estes críticos estão preocupados com o facto de os navios que efectuam a exploração mineira poderem deitar ao mar as enormes quantidades de resíduos tóxicos e sedimentos produzidos pela trituração e bombeamento das rochas para a superfície, desequilibrando a vida marinha. Argumentam, até, que a exploração mineira pode ser contraproducente para o combate às alterações climáticas.

Mais de uma dúzia de outros países, incluindo a Rússia, o Reino Unido, a Índia e a China, têm já contratos de exploração e mineração de 15 anos. O Governo da Índia reservou, inclusivamente, cerca de 544 milhões de dólares para financiar os investimentos no sector. Mas é Nauru que está a assumir a liderança porque os líderes do país acreditam que podem retirar maiores benefícios se forem os primeiros a avançar.

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