EUA acusam China de “irresponsabilidade” ao suspender a cooperação em assuntos de importância global
Antony Blinken critica corte dos principais canais de comunicação entre os dois países. Pequim ensaia invasão de Taiwan no terceiro dia de exercícios militares.
A China está a fazer refém a cooperação em assuntos de importância global, como as alterações climáticas, ao cortar os principais canais de comunicação com os EUA, acusou este sábado o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken. As declarações do chefe da diplomacia de Washington coincidiram com mais um dia, o terceiro, de manobras militares chinesas em redor de Taiwan, que as autoridades de Taipé classificaram como um ensaio para a invasão da ilha.
“Suspender a cooperação climática não castiga os Estados Unidos, castiga o mundo, em particular os países em vias de desenvolvimento”, afirmou Blinken numa conferência de imprensa online com o seu homólogo das Filipinas, depois de se ter encontrado com o Presidente recém-eleito, Ferdinando Marcos Jr., em Manila.
“Não devemos manter a cooperação como refém em assuntos de interesse global por causa das diferenças entre os nossos dois países”, disse o secretário de Estado norte-americano, acusando Pequim de estar a tomar “medidas irresponsáveis”.
Na sexta-feira, a China anunciou o cancelamento ou a suspensão da cooperação com os Estados Unidos em vários assuntos, incluindo o diálogo de alto nível entre responsáveis militares numa altura em que as relações entre Washington e Pequim se deterioraram após a visita da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, a Taiwan.
A decisão do Governo chinês prevê o fim das reuniões de trabalho entre os respectivos Ministérios da Defesa sobre segurança das zonas marítimas, além da suspensão da colaboração em matéria de alterações climáticas, luta contra a criminalidade transfronteiriça, cooperação judicial e repatriamento de imigrantes clandestinos.
“O maior emissor de carbono do mundo recusa agora envolver-se no combate à crise climática”, afirmou Blinken, criticando também a interrupção dos canais militares entre os dois países, “que são vitais para evitar falhas de comunicação e prevenir crises”.
Ensaio para a invasão
Os exercícios militares chineses em volta de Taiwan continuaram este sábado, com as autoridades de Taipé a informar que vários navios e aviões militares voltaram a atravessar a linha média do Estreito de Taiwan, uma barreira imaginária que funciona como uma fronteira não oficial, no que definiram como um “possível ataque simulado”.
O Governo taiwanês emitiu alertas e destacou patrulhas aéreas e navais, activando ainda os sistemas de mísseis terrestres, tal como tinha feito na sexta-feira, para responder ao que classificou como uma “forte provocação”.
O Ministério da Defesa da ilha publicou uma foto de um marinheiro taiwanês numa fragata a olhar para um navio de guerra chinês nas proximidades da costa Leste de Taiwan. “Não é, absolutamente, photoshop!”, lia-se na legenda da publicação. “Os exercícios militares da China mudaram unilateralmente a situação actual na região e prejudicaram seriamente a paz no Estreito de Taiwan”, acusou ainda o Governo taiwanês.
Os exercícios militares da China, que devem terminar neste domingo, decorrem em seis áreas à volta da ilha, uma delas a cerca de 20 quilómetros da costa de Kaohsiung, a principal cidade do Sul de Taiwan. Embora a China tenha realizado outros exercícios no Estreito de Taiwan nos últimos anos, os desta semana são diferentes porque “cobrem uma área maior, envolvem mais elementos militares e espera-se que sejam altamente eficazes”, indicaram peritos de defesa chineses citados pela imprensa local.
A China, que chamou à visita de Pelosi uma “farsa” e uma “deplorável traição”, reivindica a soberania sobre a ilha e considera Taiwan uma província separatista desde que os nacionalistas do Kuomintang se retiraram para o local em 1949, após perderem a guerra civil contra os comunistas liderados por Mao Tsetung.