Archie, de 12 anos e em coma desde Abril, vai ser transferido para uma unidade de cuidados paliativos

A mãe, Hollie Dance, quer que o filho possa “gastar os seus últimos momentos” em família.

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O pedido tinha de ser entregue até às 9h desta quinta-feira para evitar que os médicos desligassem as máquinas a Archie EPA/ANDY RAIN

Archie Battersbee está em coma, no hospital Royal London, desde Abril e a decisão de desligar as máquinas, uma vez que se encontra em morte cerebral, tem sido adiada, numa batalha legal entre a família e o hospital. Nesta quinta-feira, os pais pediram para o rapaz ser transferido para uma unidade de cuidados paliativos, avança a Sky News. O pedido tinha de ser entregue até às 9h, para evitar que os médicos desligassem as máquinas pelas 11h.

Depois de rejeitado o recurso apresentado no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), na quarta-feira, os pais, Hollie Dance e Paul Battersbee, apresentaram um novo recurso ao Supremo Tribunal de Justiça, em Londres, nesta quinta-feira, para que o rapaz de 12 anos, que sofreu uma lesão cerebral a 7 de Abril, seja transferido.

Os pais quererem ver o filho morrer “com dignidade”, defendem. A mãe, Hollie Dance, expressa o seu desejo de que Archie possa “gastar os seus últimos momentos” em família.

Os médicos do hospital Royal London, onde o rapaz está internado, acreditam que este está em morte cerebral e por isso consideram que o melhor é desligar o suporte artificial de vida, mas os pais não estão de acordo e prometeram lutar “até ao fim”.

A mãe está convicta de que a causa da lesão cerebral do filho foi o desafio online “Blackout Challenge”, que terá viralizado no TikTok, a partir do ano passado.

O Bars Health NHS Trust, que gere o hospital onde Archie se encontra, alerta contra a transferência da criança, por considerar que a sua condição de saúde é demasiado instável. Se Archie for transportado de ambulância para outro local pode, “muito provavelmente, acelerar a deterioração prematura [do seu estado de saúde], que a família deseja evitar”, mesmo que sejam utilizados todos os meios à disposição.

A administração do hospital garante que “continua a pôr o bem-estar e os melhores interesses de Archie na linha da frente da sua tomada de decisão”. Em Julho, uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça decretou que a criança deve permanecer no hospital Royal London no processo de retirada do suporte artificial de vida.

Contudo, de acordo com a família, uma unidade de cuidados paliativos já aceitou receber Archie. Para os pais, a transferência é o que faz mais sentido: “O Archie está obviamente em cuidados paliativos, então não há nenhuma razão para não ficar os seus últimos momentos numa unidade de cuidados paliativos.”

Batalha judicial prolonga-se

Esta última quarta-feira, os pais apelaram ao TEDH para que adiasse a retirada do suporte artificial de vida ao filho, mas, como confirmou a Sky News, o pedido foi rejeitado. O tribunal europeu recusou-se a interferir com decisões dos “tribunais nacionais”. Para a mãe, foi uma decisão de “partir o coração”. Por isso, a luta continua nos tribunais para garantir a Archie uma morte natural. “Temos agora de lutar para ver se o tiramos daqui para ter uma morte com dignidade”, promete.

Segundo a BBC, a médica Alistair Chesser, do Bars Health NHS Trust, garante que vai respeitar o processo legal. “Vamos trabalhar com a família para preparar a retirada do tratamento, mas não vamos alterar os cuidados ao Archie até que as questões legais pendentes sejam resolvidas”, assegura.

A 7 de Abril, Hollie Dance​ encontrou o filho inconsciente em casa, em Southend-on-Sea, Essex. O rapaz tinha sofrido uma lesão cerebral depois de ter feito o “Blackout Challenge”, no qual os participantes são incentivados a asfixiar-se até perderem a consciência. A família conta que a criança era activa, praticante de artes marciais e ginástica. Era um “lutador nato”, descreve a mãe, citada pela BBC.

Na sequência do desafio, que já matou mais de 80 crianças e jovens, Archie acabou por ser transferido para o hospital Royal London, onde o diagnóstico é o de morte cerebral. Depois de os pais terem rejeitado um pedido por parte do Barts Health NHS Trust para realizar um teste de forma a verificar o estado da criança, o caso avançou para tribunal. Entretanto, a batalha judicial passou a focar-se na continuação do suporte artificial de vida.

Esta terça-feira, o Supremo Tribunal rejeitou um pedido submetido pela família para evitar que seja retirado o suporte de vida. Quer o Comité sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da ONU, quer o Governo britânico tinham pedido ao tribunal para considerar o pedido e prolongar o tratamento.


Texto editado por Bárbara Wong

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