Para Chris Rock, agredido por Will Smith e alvo de mais desculpas, “toda a gente está a tentar ser uma vítima”

O infame estalo no palco dos Óscares continua a alimentar uma conversa de directas e indirectas entre o humorista Chris Rock e o actor Will Smith. Sem se referir ao seu agressor, o comediante queixou-se da forma como as pessoas se vitimizam publicamente.

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Chris Rock CARLO ALLEGRI/Reuters

Na semana passada, o actor norte-americano Will Smith pediu desculpas publicamente a Chris Rock pela segunda vez desde que subiu ao palco dos Óscares deste ano e o esbofeteou após uma piada sobre a calvície da mulher, Jada Pinkett Smith. No mesmo dia, à noite, Chris Rock dava mais um espectáculo de comédia ao vivo em que disse que se referiu a Smith como ‘Suge’ Smith, numa alusão ao famoso produtor de hip hop e violador condenado Suge Knight: “Mesmo quando o ‘Suge’ Smith me bateu, fui trabalhar no dia seguinte. Tenho filhos”, disse.

Na sexta-feira passada, Will Smith publicou um vídeo nas redes sociais em que volta ao tema da agressão que o baniu durante dez anos de qualquer evento relacionado com os Óscares e que levou à sua própria saída da Academia que entrega os prémios de cinema mais mediáticos do mundo. “Tenho passado os últimos três meses a dar voltas à cabeça, tentando entender os matizes e complexidades do que ocorreu naquele momento”, diz Smith num vídeo em que parece responder a perguntas feitas antecipadamente por terceiros. “Nenhuma parte de mim pensa agora que aquela foi a forma correcta de lidar com um sentimento de falta de respeito ou de insulto.”

No mesmo vídeo, fala do irmão e da mãe de Chris Rock e dos danos que também lhes causou, classificando o seu comportamento como “inaceitável”.

Horas depois, Rock, que já brincou brevemente com o sucedido em palco mas que não se referiu ainda de forma directa e sem o filtro do humor à agressão de que foi alvo, subia então ao palco em Atlanta para mais um espectáculo da sua actual digressão. “Toda a gente está a tentar ser uma merda de uma vítima. Toda a gente se arma em vítima e então ninguém vai ouvir as verdadeiras vítimas”, disse. Mais à frente, acrescentou: “Qualquer pessoa que diga que as palavras magoam nunca levou um murro na cara”.

A agressão marcou não só a cerimónia dos Óscares de 2022 mas, em certa medida, a cultura popular e o sector da comédia pelo facto de ilustrar no mais mediático dos palcos algumas das tensões entre certas parcelas do público e a latitude do humor na sua escolha de temas. A postura de Smith e da Academia foram meticulosamente dissecadas nos dias após o sucedido, e o tema transbordou para a discussão sobre violência e liberdade de expressão. Meses mais tarde, um homem deitou ao chão o comediante Dave Chapelle quando este estava em palco, retomando o tema e fazendo com que os dois comediantes se unissem para espectáculos em Londres onde, em tese, abordarão os seus casos.

Will Smith, que em palco não pediu desculpas a Rock mas depois o fez por escrito, sofreu as consequências expectáveis à sua imagem pública e carreira: tem dois projectos em banho-maria e uma tentativa de regresso às boas graças da opinião pública em curso. A terminar o vídeo de sexta-feira, Will Smith confessa-se “profundamente arrependido” e diz: “Sou humano, cometi um erro e estou a tentar não pensar em mim como um merdas [‘a piece of shit’]. Por isso, o que digo às pessoas é que sei que foi confuso e chocante, mas que estou profundamente determinado a trazer luz, amor e alegria ao mundo, e que, se aguentarem um pouco, prometo que poderemos voltar a ser amigos”.

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