Manifestantes vão instar o Zoomarine a deixar de “explorar” os seus golfinhos

Esta quarta-feira de manhã, ambientalistas vão protestar à porta do Zoomarine. Acusam o parque aquático de usar abusivamente os golfinhos como entretenimento e pedem para que sejam reabilitados “em santuário na natureza”. Zoomarine rejeita teoria de que maltrata os animais.

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Zoomarine, em Albufeira Nuno Ferreira Santos

Amanhã, quarta-feira, o Zoomarine, parque aquático situado no concelho algarvio de Albufeira, faz 31 anos. Na óptica da Empty the Tanks Portugal, faz também 31 anos que começou a “exploração circense de golfinhos em Portugal”. Essa organização sem fins lucrativos vai manifestar-se à porta do Zoomarine esta quarta-feira de manhã. Num protesto pacífico, que se iniciará pelas 9h, defender-se-á o fim da “exploração circense de golfinhos em delfinário [aquário de grandes dimensões, destinado à exibição de golfinhos treinados]” e a reabilitação destes mamíferos marinhos “em santuário na natureza”.

Os golfinhos são um dos símbolos do Zoomarine, que foi fundado em 1991 por um empresário argentino, o octogenário Pedro Lavia. O parque aquático descreve o seu programa de “interacção” com estes animais como uma “experiência educacional” no âmbito da qual os participantes entram nos delfinários e aprendem um conjunto de noções sobre o roaz-corvineiro (Tursiops truncatus) — e rejeita por completo que os golfinhos sejam maltratados.

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O empresário argentino Pedro Lavia Nuno Ferreira Santos

As preocupações relativas à forma como o Zoomarine trata os seus 28 golfinhos não são de hoje. Há três anos, um relatório de duas organizações internacionais — a World Animal Protection e a Fundação Change for Animals — acusou o parque português de usar abusivamente os golfinhos como entretenimento em espectáculos aquáticos, obrigando-os a fazer acrobacias e truques.

A World Animal Protection defendeu que manter os golfinhos fechados em tanques de pequenas dimensões corresponde a uma “vida desprovida de naturalidade”. Criticou, também, a forma como os golfinhos serão treinados: supostamente, os mamíferos recebem comida — uma “recompensa” — apenas se executarem devidamente um determinado truque.

A Empty the Tanks Portugal, que existe há sensivelmente um ano — e que é um dos braços da Dolphin Project, uma organização sem fins lucrativos que foi fundada há 52 anos pelo norte-americano Ric O’Barry e visa zelar pela protecção dos golfinhos —, tem argumentado que está na hora de o Zoomarine abandonar o “modelo de negócio obsoleto e cruel que é a exploração circense de golfinhos em delfinário”. Fundada pelo biólogo marinho Fernando Roneberg, a Empty the Tanks Portugal já fez duas manifestações à porta do parque aquático algarvio. O protesto pacífico desta quarta-feira será o terceiro.

“Não estamos a pedir o fim do Zoomarine”

“É importante dizer que não estamos a pedir o fim do Zoomarine”, sublinha Fernando Roneberg, para quem é possível o parque aquático e a Empty the Tanks Portugal trabalharem em conjunto numa solução da qual ambas as partes saiam vencedoras. “Também não estamos a pedir a libertação imediata dos golfinhos, o que seria um erro grave”, acrescenta o biólogo marinho, explicando que, uma vez que muitos dos golfinhos que actualmente vivem nos delfinários do Zoomarine “já nasceram presos”, eles não sabem o que é viver (e sobreviver) num habitat natural. Daí a reabilitação “em santuário” que a Empty the Tanks Portugal defende.

A organização considera inaceitável que os golfinhos continuem a viver “em cativeiro”, dentro dos delfinários. “Muitas vezes, os companheiros de tanque nem sequer têm laços familiares”, refere Fernando Roneberg, falando dos problemas a que isso pode levar. “Na imensidão do mar, é possível evitar o bullying (que também existe entre os animais selvagens). Dentro de um tanque, não há como fugir. Ou o tratador está atento às relações entre os golfinhos, e muda para um tanque ainda mais pequeno aquele que está a ser perseguido por outro, ou então o bullying continua.”

O biólogo marinho diz conhecer veterinários que já trabalharam no Zoomarine e que lhe contam que “muitos destes animais são medicados com antidepressivos”. “O golfinho é um animal com um cérebro muito desenvolvido. Um animal com um cérebro muito desenvolvido a nadar em círculos o dia todo não é uma boa premissa”, comenta, alegando que, no Zoomarine, os golfinhos passarão muito tempo com a cabeça fora de água. “Estão sempre à espera de que o treinador apareça. No fundo, estão sempre à espera da sua comida. A sua motivação diária fica reduzida à alimentação (sendo que eles só comem se realizarem as habilidades)”, diz.

Fernando Roneberg sustenta que, em nove países mundiais (Bahamas, Brasil, Colômbia, Coreia do Sul, Estados Unidos, Guatemala, Haiti e Nicarágua), já ocorreu a “reabilitação em santuário” de golfinhos “vítimas de cativeiro”. A Dolphin Project tem um centro de reabilitação e libertação de golfinhos na Indonésia, onde, neste momento, três golfinhos estarão a terminar o processo de reabilitação. A Empty the Tanks Portugal pede ao Zoomarine para passar da “exploração circense de golfinhos” para um “modelo de reabilitação”, “sem habilidades circenses, sem música, sem palmas e sem paredes de cimento pintadas de azul”.

Zoomarine desvaloriza manifestação — e contradiz Empty the Tanks

Ouvido pelo PÚBLICO, o director da área de conservação do Zoomarine, Élio Vicente, diz que “estamos numa democracia e as pessoas têm o direito a protestar”, mas desvaloriza a manifestação que está a ser organizada pela Empty the Tanks Portugal. “Não é a primeira vez que eles se manifestam. O que é irónico é que, normalmente, estas manifestações não chegam a juntar mais de 20, 25 pessoas. Num dia normal do início de Agosto, recebemos sete mil visitantes no Zoomarine”, refere, antes de argumentar que é falso que o parque aquático drogue os golfinhos. “Já ouvimos essa teoria. Dizem que drogamos os animais e que, para que eles não nos mordam, também lhes arrancamos os dentes. As pessoas que recebemos são testemunhas de que não há um único golfinho com dentes tirados no Zoomarine”, diz.

Élio Vicente alega que não tem existido um diálogo entre a Empty the Tanks Portugal e o Zoomarine porque a organização ambientalista “​não quer”. “Estes grupos não estão preocupados em salvar animais. O que querem é ter likes nas redes sociais. Este é um movimento radical que trabalha em prol de cliques e donativos, não em prol de acção concreta. Mas não há problema. Se eles não querem agir, agimos nós”, diz, aludindo ao raio de acção do Porto d’Abrigo, o centro de reabilitação de espécies marinhas do Zoomarine.

O director da área de conservação do parque aquático rejeita as comparações ao circo. Diz que, no Zoomarine, os treinadores não ensinam os golfinhos a fazer nada que já não façam em ambiente selvagem. E rejeita a ideia de que os mamíferos só recebem comida se executarem certas tarefas. “Se os golfinhos fizerem o que lhes pedimos, damos-lhes uma recompensa. Pode ser uma festinha. Pode ser um beijo. Pode ser um pedaço de comida. Fazemos isso porque é uma forma de incentivar comportamentos positivos. Os golfinhos não passam fome se não fizerem o que dizemos”, defende.

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