Governo do Kosovo adia entrada em vigor de regras contestadas pelos sérvios após noite tensa

Comunidades sérvias no Norte do território montaram barricadas e dispararam contra a polícia, em protesto contra a decisão do executivo kosovar de exigir alteração imediata das matrículas e a emissão de novos documentos de identificação para os sérvios que entram no Kosovo.

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Governo de Kurti anunciou o adiamento das novas regras até 1 de Setembro Reuters/FLORION GOGA

Depois de várias horas de enorme tensão na região Norte do território durante a noite de domingo, que incluíram estradas barricadas e o disparo de armas de fogo contra a polícia, o Governo do Kosovo anunciou na madrugada desta segunda-feira o adiamento, por um mês, da entrada em vigor de um conjunto de regras contestadas pelas comunidades sérvias. A decisão surge após recomendação dos Estados Unidos e da União Europeia.

As autoridades kosovares pretendiam impor, a partir do dia 1 de Agosto, a substituição das matrículas dos automóveis dos sérvios por matrículas emitidas por Pristina, e a obrigatoriedade de um documento de identificação temporário, válido por três meses, para os sérvios que visitem o Kosovo.

Em comunicado, citado pela Radio Free Europe, o Governo kosovar informou que “manteve contactos e teve encontros com elementos internacionais americanos e europeus” e anunciou a a “promessa de adiar a implementação das duas decisões de 29 de Junho de 2022 até 1 de Setembro de 2022”.

O executivo liderado pelo primeiro-ministro Albin Kurti exigiu, no entanto, que “todas as barricadas sejam removidas e que a liberdade total de movimento seja estabelecida em todas as estadas do Norte do Kosovo”.

Numa mensagem publicada no Twitter, o Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE, congratulou-se com o adiamento, apelou ao diálogo e também disse que a expectativa europeia é a de que “todas as barricadas sejam imediatamente removidas”.

Esta segunda-feira, as barricadas começaram a ser desmontadas.

No final do dia de domingo, um grupo de manifestantes sérvios, residentes numa zona do Kosovo de maioria sérvia, recorreu a camiões e a outro tipo de veículos pesados para bloquear os principais acessos rodoviários às passagens fronteiriças de Bernjak e de Jarinje.

Houve relatos de agressões dirigidas a cidadãos de ascendência albanesa que tentaram furar o bloqueio e, citada pela Reuters, a polícia kosovar revelou que foram disparados tiros “na direcção das unidades policiais”. “Felizmente, ninguém ficou ferido”, esclareceu.

Fruto da tensão na região, as sirenas soaram durante mais de três horas na localidade de Mitrovica.

Catorze anos depois de o Kosovo ter declarado independência – não reconhecida por países como a Sérvia, a Rússia, a China ou a Espanha –, a maioria dos cerca de 50 mil sérvios que residem no Norte do território continua a recusar trocar os seus documentos de identificação ou as matrículas dos seus carros por documentação emitida pelas autoridades kosovares.

O Governo de Kurti estabeleceu um período transição de 60 dias para a adaptação às novas regras, que até são semelhantes àquilo que é aplicado na Sérvia para quem entra no país, vindo do Kosovo.

No domingo, o director do Gabinete para o Kosovo e Mitrovica, Petar Petkovic, considerou as medidas aplicadas por Pristina como “inaceitáveis” e disse serem movidas pela vontade de “expulsar o povo sérvio e as instituições sérvias do Kosovo”.

Já o Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, deixou uma ameaça: “Se não quiserem manter a paz, garanto, a Sérvia ganhará”, disse, citado pela N1 TV. “Não acho que tenhamos estado antes numa situação tão difícil e complicada como a de hoje”

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