Estudo defende novas soluções de construção para diminuir impacto dos incêndios

Investigadores da Universidade de Coimbra identificaram materiais de construção mais vulneráveis ao fogo e sugerem novas normas de edificação nas zonas de maior risco nos perímetros urbanos, que devem ser mais bem caracterizadas.

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Incêndio em Palmela, 14 de Julho: populares ajudam nas operações de rescaldo do incêndio que rondou as suas casas Daniel Rocha

É urgente alterar a forma de construção e reabilitação de edifícios e infra-estruturas nas zonas críticas de interface entre os meios urbanos e florestais, para enfrentar os incêndios florestais, dizem as conclusões preliminares de um estudo da Universidade de Coimbra (UC), divulgadas nesta segunda-feira.

O trabalho põe o foco “na promoção de um ambiente construído sustentável, resistente e resiliente para mitigar os impactos directos e indirectos, a nível económico, social e humano, dos incêndios florestais” e, para isso, junta vários grupos de investigação da UC (Engenharia, Geografia, Economia e Direito).

O estudo tem como grande objectivo “responder de forma directa aos graves problemas que surgiram nas últimas décadas por falta de planeamento e ordenamento do território”, diz Hélder Craveiro, coordenador do projecto e investigador no Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), citado num comunicado de imprensa.

Considerando que acontecem incêndios florestais junto de zonas urbanas, o estudo concluiu que é necessário “o desenvolvimento de novas soluções construtivas resistentes ao fogo em zonas urbanas de risco de exposição agravado, diz o comunicado de imprensa. Sugere-se que sejam postas em prática normas de construção para a interface entre o meio urbano e o florestal recorrendo a análises baseadas no desempenho, mitigando as vulnerabilidades dos edifícios a eventos extremos.

Além disso, a equipa da UC defende que é “fundamental” fazer a caracterização da envolvente dos perímetros urbanos, “identificando a sua susceptibilidade a incêndios florestais, para implementação de medidas mitigadoras”.

Foram também identificados os materiais usados na construção que são “mais vulneráveis” ao fogo e que, “infelizmente, proliferam no nosso país”, disse Hélder Craveiro. Por exemplo os painéis sandwich com núcleo de poliuretano (um polímero usado em espumas rígidas ou flexíveis, entre outros materiais), utilizados em revestimentos de fachadas e coberturas de edifícios.

Designado Interface Segura, o projecto “possui uma componente experimental muito forte”, incluindo “múltiplos ensaios de campo de incêndio real”, realizados em colaboração com a Escola Nacional de Bombeiros, acrescentou Hélder Craveiro. “O projecto beneficiou das práticas de treino de fogo controlado para instrumentar e monitorizar o comportamento do fogo e avaliar o seu impacto em edifícios”, adiantou.

Com base nesta informação recolhida no terreno e em ferramentas informáticas de simulação para avaliar o comportamento do fogo ao nível concelhio (macroescala) e ao nível dos edifícios (microescala), a equipa de investigadores identificou, através de um caso de estudo no concelho de Coimbra, as zonas mais vulneráveis a incêndios na interface urbano-florestal.

“Esta abordagem permite simular o desenvolvimento e propagação de incêndios e avaliar com elevado nível de detalhe o impacto de cenários extremos, como os que estamos a viver, no ambiente construído, avaliando as vulnerabilidades de edifícios e infra-estruturas”, relatou Hélder Craveiro.

Com as alterações climáticas, a “frequência e severidade dos incêndios tenderá a aumentar, frisou o coordenador do estudo. “Isto conduz à extrema necessidade de implementação de medidas e reformas estruturais ao nível do ambiente construído e da floresta nas zonas de interface urbano-florestal, mitigando impactos directos e indirectos nas comunidades”, concluiu.

Esta abordagem, segundo Hélder Craveiro, permitirá, a curto ou médio prazo, “reduzir riscos para as comunidades” e possibilitar “uma reforma florestal sólida e eficaz (reformulação da paisagem, compartimentação e valorização florestal), que naturalmente levará anos a ser concretizada”.

Após a conclusão do projecto, prevista para o final do ano, a equipa de investigadores da UC pretende elaborar e enviar ao Governo e aos municípios um documento “com recomendações para a implementação de políticas, quer do ponto de vista do ambiente construído e gestão florestal nas imediações de zonas urbanas, quer ao nível de resiliência para as comunidades”.

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