Torre do Tombo revela arquivos da vida menos conhecida de José Saramago

José Saramago e uns Documentos do ‘Diabo’ abre esta terça-feira, já a assinalar o centenário do escritor.

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José Saramago numa reunião em Lisboa em 1974 CORTESIA TORRE DO TOMBO/ARQUIVO DO <I>DIÁRIO DE LISBOA</I>

Depois da oficina, os arquivos. Cerca de dois meses passados sobre a abertura, ali perto na Biblioteca Nacional (BN), da exposição que documenta o que foi a “oficina” de José Saramago (1922-2010), o percurso da sua escrita até e depois da consagração com o Nobel, a Torre do Tombo revela, a partir desta terça-feira, outros aspectos da vida do escritor a partir da memória que dele ficou nos documentos de arquivo. “Este é o nosso contributo para assinalar já o centenário do nascimento de Saramago [que se cumpre a 16 de Novembro]”, diz ao PÚBLICO o responsável pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), Silvestre Lacerda.

José Saramago e uns Documentos do ‘Diabo’ vai ficar patente até 6 de Setembro; a Oficina de Saramago ficará na BN até 8 de Outubro.

Na lista das “revelações”, entre os documentos que a partir de amanhã podem ser vistos na Torre do Tombo, Silvestre Lacerda chama a atenção para dois itens. O primeiro é a carta que o escritor escreveu em 1973 à sua filha, Violante Saramago Matos, quando esta se encontrava presa pela PIDE/DGS por causa da sua participação nas comemorações do 1.º de Maio desse ano. “É provavelmente uma das peças revelação, senão mesmo inédita”, diz Lacerda, explicando que ela se encontrava entre os vários processos de vigilância que a PIDE promoveu sobre as pessoas com quem o escritor se relacionava.

O segundo item diz respeito ao processo que documenta a tentativa de Saramago, em parceria com Mário Ventura Henriques, relançar em 1973 a publicação do semanário O Diabo, após a primeira etapa de vida do jornal entre 1934 e 1940. “Temos a documentação da tentativa de angariação de colaborações para essa aventura junto de figuras da oposição e dos meios culturais e literários, como José Cardoso Pires, Alice Vieira, Óscar Lopes, António Borges Coelho ou Orlando Costa”, nota o director da DGLAB.

Há também uma carta enviada de Paris a Saramago pelo músico e compositor Luís Cília, com data de 21 de Janeiro de 1969, a propósito da colaboração de ambos em sucessivos trabalhos discográficos.

A exposição inclui ainda algumas fotografias do escritor captadas ao longo dos anos, individualmente ou em grupo, e que estavam guardadas no arquivo do jornal Diário de Lisboa, com quem Saramago colaborou na primeira metade da década de 1970.

A exposição dá igualmente a ver mais de uma centena de edições de livros do Nobel português traduzidos nas mais variadas línguas, tais como japonês, bengali, estónio, romeno, albanês, castelhano, entre outras, e que – lembra Silvestre Lacerda – fazem “de Saramago, ao lado de Pessoa, os escritores portugueses mais traduzidos no mundo”.

Além da visualização das peças originais, José Saramago e uns Documentos do ‘Diabo’ permite ainda ao visitante, através de um sistema de touch-screen, folhear vários dos documentos expostos.

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