Secundário Tondela procura contrariar um FC Porto açambarcador de Supertaças

Beira-Mar e Leixões tentaram, sem sucesso, contrariar a lei do mais forte, acabando vergados a goleadas. Mais uma vez, ninguém parece acreditar que uma equipa de escalão secundário possa fazer frente à hegemonia portista.

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FC Porto e Tondela voltam a cruzar-se numa final MANUEL FERNANDO ARAUJO

O campeão nacional FC Porto e o despromovido à II Liga Tondela defrontam-se, este sábado, em Aveiro, pela segunda vez no intervalo de dois meses - depois da final da Taça de Portugal -, para discutir um troféu dominado pelos “grandes”, com números esmagadores dos “dragões”. Conjuntura que parece não deixar grande margem de dúvidas sobre o favoritismo que os “azuis e brancos” terão, ainda assim, de confirmar perante um opositor fragilizado, embora muito longe da rendição.

Pragmático, Sérgio Conceição substitui-se a Tozé Marreco e antecipou o “onze” do Tondela para mostrar que a equipa orientada pelo antigo avançado não difere assim tanto da que se apresentou no Jamor.

Disputada pelo 12.º ano nos últimos 14 em Aveiro, a Supertaça oferece ao treinador portista a possibilidade de alcançar Artur Jorge no topo da hierarquia de técnicos com mais troféus erguidos ao serviço do FC Porto nesta competição, com três conquistas, o que deixaria ainda os “dragões” nos calcanhares do rival da Luz no que diz respeito à soma global de títulos da história dos dois emblemas, numa altura em que o balanço é de 83-81, favorável ao Benfica.

Para tanto, depois de uma pré-época sob o signo da vitória (os campeões nacionais fizeram o pleno em oito ensaios) – considerado normal por Conceição – o técnico só pede “espírito de compromisso, dedicação e grande ambição diária para ganhar” a primeira competição da época, prova que o FC Porto domina em absoluto, com 22 troféus conquistados em 31 finais, mais um do que a soma de todos os demais vencedores.

Atento à conferência de Sérgio Conceição, Tozé Marreco resumiu pouco depois um cenário em que ninguém parece acreditar nas possibilidades do Tondela poder sequer fazer frente ao FC Porto.

Na verdade, a conferência do treinador portista foi dominada por diversos temas, desde as transferências de Vitinha e Francisco Conceição, à contratação e adaptação de Gabriel Veron, sem esquecer a polémica em torno do suposto pedido de demissão de Sérgio Conceição na sequência das críticas do líder da claque, prontamente desmentido.

Sobre negócios, o treinador remeteu para os dirigentes e para Pinto da Costa, cingindo-se ao papel de treinador. Isto depois de inicialmente ter saltado a questão para falar do próximo adversário e lembrar que o FC Porto está à espera de “apanhar um Tondela difícil, praticamente a mesma equipa que defrontámos há mês e meio, mas com um treinador diferente”, exceptuando “uma ou outra peça”, sem esquecer “o espírito de jogadores de I Liga”.

Conceição fez questão de vincar que “o foco está no adversário”. “Não sou dirigente para saber se é bom ou mau negócio determinado jogador sair ou entrar”, acrescentou.

Domínio dos “três grandes"

Apesar das diferenças óbvias entre FC Porto e Tondela, que está impedido de inscrever novos jogadores, tendo de colmatar as lacunas do plantel com jovens da formação, o FC Porto não baixa a guarda.

Sérgio Conceição não ignora os possíveis desequilíbrios do adversário, da mesma forma que não desvaloriza o impacto dos castigos impostos a quatro jogadores portistas, especialmente a Diogo Costa, Fábio Cardoso e Otávio, depois de ter preparado a Supertaça a contar com todos, exceptuando Manafá, que recupera de lesão. O reforço David Carmo cumpre castigo que transita da época anterior.

Apesar de tudo, o Tondela não está disposto a fazer concessões nem figura de corpo presente em Aveiro, com o treinador a impor “exigência, compromisso e organização”.

Tozé Marreco sente os jogadores receptivos à nova ideia de jogo e alerta o grupo para a necessidade de ser “minucioso” perante um adversário poderoso. As dificuldades estão identificadas. “Foram aceites e apesar de condicionarem fortemente a preparação da época não servirão de desculpa”, declara o técnico, pronto a enfrentar “o ano mais difícil dos últimos dez”.

Um discurso que poderia levar os observadores do fenómeno para algumas comparações, atendendo ao histórico da Supertaça, onde as finais mais desequilibradas terão sido precisamente entre um dos três grandes e um opositor dos escalões secundários. Em 2002, o Sporting goleou (5-1) um Leixões do terceiro escalão, então sob o comando técnico de Carlos Carvalhal.

Mas, ao contrário do que se verifica com o Tondela, a formação de Matosinhos disputou nesse ano as competições europeias.

Um par de anos antes, já o FC Porto levara a melhor sobre o despromovido Beira-Mar, com a diferença de os aveirenses virem de uma conquista histórica da Taça de Portugal, numa final com o Campomaiorense. Os números dessas duas finais não foram muito diferentes, embora na altura a Supertaça se disputasse a duas mãos, com os “dragões” a imporem-se por 5-2 (2-1 e 3-1).

Porém, no caso do FC Porto, defrontar equipas de estatuto inferior não tem sido sinónimo de facilidades nesta competição. O resultado mais folgado foi, de resto, obtido frente ao rival Benfica, em 1996, com um 5-0 na Luz, depois de triunfo (1-0) nas Antas.

Em 2019, o Benfica impôs uma goleada (5-0) ao Sporting, no Algarve, a vingar um 4-0 (3-0 e 1-0) de 1987. “Leões” que cinco anos antes tinham brindado o Sp. Braga com uma goleada (6-1) na segunda mão (3-7 no total), numa competição dominada pelos três grandes e em que só Boavista e V. Guimarães se intrometeram.

De resto, desde o triunfo do Boavista sobre o vizinho das Antas, em 1997, que nenhuma equipa além de FC Porto, Sporting e Benfica ergue este troféu.

E é este contexto que o Tondela, terceira equipa de um escalão secundário a disputar a final, terá que contrariar, ante o campeão e vencedor da Taça de Portugal e grande açambarcador de Supertaças em Portugal.

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