Doente da “Cidade da Esperança” tem 66 anos e está em remissão de VIH

Há mais de um ano que o doente tratado no City of Hope Center, na Califórnia, está em remissão de VIH, depois de um transplante de células estaminais para a leucemia. Aos 66 anos é o paciente mais velho a conseguir ficar sem sinais do vírus que causa a sida no organismo.

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Modelo 3D do vírus da sida VISUAL SCIENCE COMPANY

Há mais uma pessoa com VIH que parece ter sido curada depois de receber um transplante de células estaminais para leucemia, anunciou uma equipa de investigadores esta quarta-feira. Este é o paciente mais velho a entrar em remissão após alguns raros casos de sucesso: tem 66 anos.

Apesar de o transplante ter sido planeado para tratar a leucemia deste paciente, os médicos procuraram também que o dador fosse naturalmente resistente ao vírus que causa a sida. Este é um mecanismo colocado em prática (e que funcionou) pela primeira vez em 2007 com o “paciente de Berlim”, Timothy Ray Brown, que foi a primeira pessoa que se sabe ter ficado sem sinais de VIH no organismo.

Este é o quarto paciente a ser curado através desta técnica e, como não pretende ser identificado, é conhecido como o paciente da “Cidade da Esperança”, em homenagem às instalações médicas City of Hope Center, na Califórnia (Estados Unidos), onde foi tratado.

Além de ser o mais velho, este doente também tem o VIH há mais tempo do que os casos anteriores que foram notícia após remissões. Foi diagnosticado em 1988 com o que ele descreveu como uma “sentença de morte” que matou muitos dos seus amigos.

O doente estava em terapia anti-retroviral para controlar a infecção há mais de 30 anos.

Os resultados foram apresentados antes do congresso de 2022 da Sociedade Internacional de Sida, sendo que os médicos responsáveis afirmam que este caso abriu o potencial de tratamento para pacientes mais velhos com VIH e cancro de sangue, principalmente porque o dador das células estaminais não era um membro da família do paciente o que aumentará as possibilidades de encontrar dadores compatíveis.

Ter esperança

Sharon Lewin, presidente eleita da Sociedade Internacional de Sida, descreve este tratamento como o “santo graal”, acrescentando que o caso “dá esperança contínua e inspiração” para as pessoas com VIH e para a comunidade científica. Lewin ressalva que é ainda improvável que esta seja uma opção para a maioria das pessoas com VIH, devido aos riscos que estes procedimentos acarretam.

Os médicos explicam que o processo usado funciona porque as células estaminais do dador têm uma mutação genética específica e rara que lhes permite não ter os receptores usados pelo VIH para infectar as células do paciente.

Após o transplante realizado há três anos e meio, a que se seguiu a quimioterapia, o doente da “Cidade da Esperança” parou de tomar medicamentos anti-retrovirais em Março de 2021. Está agora em remissão do VIH e da leucemia há mais de um ano, anunciou a equipa responsável pelo tratamento.

Esta quarta-feira, uma outra equipa de investigadores em Espanha também apresentou detalhes de uma mulher de 59 anos que faz parte de um raro grupo conhecido como “controladores pós-tratamento”. Nestes casos, os pacientes conseguem manter cargas virais indetectáveis após a interrupção dos anti-retrovirais – o que também pode fornecer pistas para uma possível cura, diz Lewin.

Antes do congresso que arranca esta sexta-feira, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre VIH/Sida (UNAIDS) também apresentou dados que mostram como a pandemia da covid-19 descarrilou os esforços globais para combater o VIH, incluindo um retrocesso do progresso na região mais populosa do mundo: Ásia e Pacífico.

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