Cancro da cabeça e do pescoço: “As pessoas devem estar alerta para certos sintomas”

Engloba vários tipos diferentes de cancro, mas é dos tumores “mais desafiantes para os médicos” e o impacto nos doentes é avassalador. A prevenção deve ser a principal aposta, considera o oncologista Rui Dinis.

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Os cancros da laringe, da cavidade oral e da orofaringe são os mais frequentes, assinala Rui Dinis Daniel Rocha / Arquivo

Todos os anos estima-se que, em Portugal, cerca de três mil pessoas, sobretudo acima dos 40 anos, sejam diagnosticadas com cancro da cabeça e do pescoço e que, por dia, morram três. Este é o sétimo tumor mais comum a nível mundial, mas “é muito negligenciado”, lamenta ao PÚBLICO o médico Rui Dinis, director do serviço de oncologia do Hospital de Évora.

Na verdade, este é um cancro que engloba vários tipos, com destaque para o cancro da laringe, da cavidade oral, da orofaringe, da nasofaringe e da hipofaringe. Os três primeiros são os mais frequentes, assinala Rui Dinis. O oncologista alerta para a importância de se ter em conta os sinais para um diagnóstico rápido. “As pessoas devem estar alerta para certos sintomas.”

No caso do cancro da laringe, por exemplo, “um dos primeiros sintomas é a rouquidão”, mas, de modo geral, uma pessoa acaba por se aperceber que pode ter cancro da cabeça e do pescoço através de “uns gânglios que estão aumentados no pescoço”, ou tumefacções, explica o especialista. É sinal de que a doença já está numa fase mais avançada.

Outros sintomas podem incluir feridas na boca, que dificultam a mastigação e a deglutição, ou “dores de ouvidos e dificuldade na audição”, tudo depende do tipo de cancro e da sua origem. Assim, Rui Dinis aconselha: “Tudo o que esteja relacionado com a cabeça e o pescoço e não passe em 15 dias deve deixar o alerta.”

Mas como podem surgir estes cancros? As principais causas conhecidas devem-se ao consumo de álcool e tabaco, sendo, por isso, fundamental reforçar “a sensibilização para os [seus] perigos”, salienta o oncologista. Contudo, no caso específico da orofaringe, a doença desenvolve-se como resultado do Papilomavírus Humano (HPV), que é transmitido por via sexual. Já o cancro da nasofaringe deve-se a um outro vírus, o Epstein-Barr.

A prevenção primária passa, sobretudo, por “evitar álcool e tabaco”, mas também pela toma da vacina contra o HPV, recomenda Rui Dinis. Se o cancro for diagnosticado cedo, a taxa de cura pode chegar a perto dos 90%.

Uma doença de grande impacto

Quando alguém recebe as notícias de que tem um tumor da cabeça e do pescoço, o tratamento tanto pode passar por quimioterapia e radioterapia como por cirurgia. O oncologista do Hospital de Évora considera que o mais importante é “aliar o sucesso terapêutico à qualidade de vida”. No caso de a cirurgia significar um nível de mutilação corporal demasiado grande, então “o doente deve ser informado de que existem alternativas”.

A operação é normalmente o tratamento ideal para o cancro da cavidade oral, mas Rui Dinis garante que se faz “tudo para conservar o órgão”, ou, no caso de não ser possível, “repor a [sua] função”. Quando a doença ainda está no início é possível não afectar muito o órgão do ponto de vista estético e funcional.

Mais tarde, recorre-se à quimioterapia e à radioterapia de forma a preservar o órgão. Nos outros tipos de cancro, esses dois tratamentos costumam ser os mais comuns. Se o benefício for o mesmo em relação à cirurgia, então é preferível, afirma o especialista.

Se o diagnóstico for tardio então é necessário recorrer a “tratamentos mais agressivos e não tão eficazes”. Rui Dinis alerta que “o cancro da cabeça e do pescoço tem um impacto muito grande”, podendo prejudicar a nutrição e dificultar a mastigação e a deglutição.

Apesar de ser “dos cancros mais desafiantes para os médicos”, o oncologista tem notado uma evolução positiva. Mesmo assim ainda verifica vários problemas, como com todo o processo médico, que considera que “tem de ser encurtado”. O cancro da cabeça e do pescoço obriga a um maior acompanhamento e isso não ajuda, ao que se soma uma diminuição da “auto-estima e da capacidade para o trabalho” por parte dos doentes.

É, por isso, essencial que se aposte cada vez mais na prevenção, antes do diagnóstico e depois. Para Rui Dinis, a prevenção ainda “é descurada pelas pessoas e pelo sistema de saúde”, critica. “Todo o investimento feito na prevenção é bem-vindo”, pois só assim se pode combater a doença, conclui.


Texto editado por Bárbara Wong

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