Universidade de Évora aposta em novos cursos

No actual contexto em que existe uma grande necessidade de formação de professores, a Universidade de Évora decidiu apostar na criação de três novos cursos que permitem a profissionalização na docência, embora possibilitem também outras saídas profissionais. Conheça-os.

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Cheerful mood. Group of people at business conference in modern classroom at daytime. FreePik

As origens da Universidade de Évora (UÉ) remontam ao século XVI, pouco depois de Coimbra. A tradição e experiência são inquestionáveis mas em tempo de escolhas, é essencial conhecer melhor a oferta disponibilizada e o que a distingue. Este ano, a aposta em novas licenciaturas acompanha a necessidade do mercado e, no caso da profissionalização da docência, Clara Grácio, directora da Escola de Ciências e Tecnologia da UÉ, acredita mesmo que se trata de “uma responsabilidade nacional” das instituições de ensino superior.

São três as licenciaturas que abrem no ano lectivo 2022/202: Biologia e Geologia, Física e Química e Matemática, mas a verdade é que estes cursos já existiram na Universidade de Évora e formaram muitos profissionais que hoje estão no activo e recordam com orgulho o seu percurso académico. O passado ditou o encerramento destas licenciaturas, mas neste momento o futuro parece promissor.

Os novos cursos acreditados por 6 anos, sem restrições pela A3ES, Agência de Acreditação do Ensino Superior, são suportadas por um corpo docente qualificado, com variada produção científica, com o apoio de centros de investigação com boa avaliação e laboratórios de qualidade.

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“É difícil encontrar um concelho neste país que não tenha um professor formado na Universidade de Évora” Clara Grácio, directora da Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora

Apesar de os conteúdos científicos das novas licenciaturas permitirem ingressar num mestrado de ensino para a profissionalização na docência, não afunilam as possibilidades. “Não limitam o que fazer”, esclarece Clara Grácio, “se quiser seguir para o mestrado de investigação ou sair para o mundo do trabalho”. Uma das especificidades que distinguem estes novos cursos é esta, como explica a responsável, a capacidade de criarem uma base sólida que permite várias escolhas. No entanto, essa base foi pensada de forma a capacitar os alunos para terem uma preparação pedagógica, ao encontro da tradição da própria Universidade. “É difícil encontrar um concelho neste país que não tenha um professor formado na Universidade de Évora”, afirma a directora da Escola de Ciências e Tecnologia da UÉ.

Multidisciplinaridade e espírito crítico: o testemunho de quem passou pela UÉ

Ao falar com ex-alunos, percebe-se que, anos depois de terminadas as licenciaturas, há um reconhecimento da importância do currículo multidisciplinar e das aulas práticas na preparação para a via do ensino. Francisco Vasconcelos é madeirense, foi para Évora só para tirar o curso de Geologia, já lá vão uns pares de anos. A oferta na ilha não dava resposta ao que procurava, mas a UÉ foi a primeira opção pela “componente pedagógica integrada que permitia uma ligação ao ensino ainda durante o curso”, recorda. A proximidade entre professores e alunos também marcou a passagem de Francisco pela academia alentejana, e hoje, como professor conta: “Até já trouxe alunos do 12º ano para visitarem a Universidade de Évora”.

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Para Francisco Vasconcelos a UÉ foi a primeira opção pela “componente pedagógica integrada que permitia uma ligação ao ensino ainda durante o curso”. Francisco Vasconcelos, antigo aluno de Biologia e Geologia na Universidade de Évora

A história de Nazaré Caldeira, hoje professora de Física em Évora, não é muito diferente. Não sabia muito bem que universidade escolher mas a estrutura do curso não deixava dúvidas: “Ingressando pelas ciências, tínhamos que fazer a via ensino que eram mais dois anos e ainda a via profissionalizante”. O que atrasava mais a entrada na carreira de docente. Decidiu-se pela Universidade de Évora, cidade onde lecciona até hoje.

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Nazaré Caldeira estudou na Universidade de Évora, cidade onde hoje é professora de Física.

Por sua vez, Leonel Alegre, natural de Évora, não tinha dúvidas, sabia que queria ser professor de físico-química e que ficar era uma boa opção. Destaca o percurso “multidisciplinar” que além de uma “forte componente de lógica e da área das didácticas, passava também pela psicologia e pela história das ideias e das ciências”. Não é por acaso que o refere, apesar de ter leccionado, foi por pouco tempo: “o curso deu-me uma perspectiva e preparação em áreas muito diversificadas”. Que servem de base para trabalhar em outras áreas, como acabou por acontecer com Leonel. Acredita que o curso de Química o ajudou bastante. “Para já porque é um curso de ensino na área científica, desenvolve o espírito crítico” [mas também o] “desenvolvimento de outras competências”, na sua opinião relevantes para diferentes áreas.

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“O curso deu-me uma perspectiva e preparação em áreas muito diversificadas” Leonel Alegre, estudou Física-Química na Universidade de Évora.

Leonor Martins tem na Universidade de Évora uma referência: “o facto de juntar a vertente científica (Biologia e Geologia) com a pedagógica deu-me uma formação abrangente, sólida e motivadora”, assegura. Como professora, alerta para a actual crise que o país enfrenta por “falta de professores e pouca procura desta profissão”, que foi “descredibilizada” nos últimos anos. “É necessário formar professores e valorizar esta profissão que é primordial para o desenvolvimento do país”, afirma.

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É necessário formar professores e valorizar esta profissão que é primordial para o desenvolvimento do país Leonor Martins, professora e antiga aluna da Universidade de Évora.

Também Victor Lobo, formado em Matemática, professor há mais de 20 anos numa secundária de Setúbal, elogia o facto de não só existirem “professores formados em Évora em todas as escolas do país” como de se notar uma “formação pedagógica distinta”. Além disso, valoriza o percurso que fez na academia alentejana pela formação que lhe proporcionou “não só enquanto professor, mas também enquanto homem”.

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Elogia o facto de não só existirem “professores formados em Évora em todas as escolas do país” como de se notar uma “formação pedagógica distinta”. Victor Lobo, professor de Matemática e antigo aluno da Universidade de Évora

“Construir as mentes do futuro”

Talvez só quem tenha passado pela UÉ tenha noção de que a localização estratégica dos diferentes pólos, descentralizados, proporciona condições excepcionais para o ensino prático das diferentes áreas. Por exemplo, Biologia e Geologia, começou por explicar Clara Grácio, “têm várias disciplinas”, como a de Biologia Marítima. Nesse caso, a UÉ conta com o pólo de Sines e os alunos “vão trabalhar no mar”, em contexto de aula e não pontualmente, apenas como visita. “As aulas práticas, as aulas de campo, são mesmo nos sítios”, explica. “Se o aluno quiser trabalhar com cavalos, nós temos o pólo de Alter do Chão, onde há cavalos”, refere, acrescentando ainda que no pólo de Mitra contam com outros animais que ajudam na formação dos alunos. Para as licenciaturas, são mais-valias para o ensino prático das diferentes áreas científicas.

Recordando a questão da falta de professores e a importância de investir novamente nas áreas que agora regressam à UÉvora, a directora da Escola de Ciências e Tecnologia refere que “é das profissões mais decisivas e mais nobres”, sendo “fundamental” principalmente pela “capacidade de construir as mentes no futuro” – o que por si só justifica esta aposta.

Além disso, é importante não esquecer que para a região do Alentejo, a UÉ tem sido um motor de desenvolvimento e um factor de atractividade pelos alunos que passam mas também pelos que depois acabam por se fixar. No caso dos professores, muitos dos que leccionam nas escolas da região tiraram o curso na Universidade de Évora. Se o futuro da docência depende de cursos como estes que a UÉ agora reabre, também o Alentejo precisa desses novos professores.

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