Cartas ao director
Cinco meses depois
Cinco meses depois o mundo está muito pior do que antes fora, em todas as suas vertentes existenciais e geoestratégicas. Referimo-nos à dantesca invasão do território ucraniano pela vizinha Rússia, dirigida pelo tenebroso Vladimir Putin, que vê o Ocidente como o inimigo número um, conjuntamente com os EUA e a NATO.
Mas, se não fosse a existência deste “trio”, estamos certos, o louco que habita o Kremlin ainda seria mais ensandecido do que foram alguns dos seus cruéis antecessores, responsáveis por milhões de vítimas e de inimagináveis atrocidades perpetradas sobre quem não fosse do seu agrado. Também estamos certos, tendo em conta a maldade humana, que tal malvadez não está somente localizada na Federação Russa, mas, neste momento de destruição e morte, é lá que se localiza o epicentro de todo o mal, o qual urge sanar quanto antes.
José Amaral, Vila Nova de Gaia
Temos um Estado de direito?
A nossa Constituição diz que sim. E até diz mais. Diz que “Portugal preconiza (…) a dissolução dos blocos político-militares e um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos”.
A OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, também designada por NATO, é um bloco político-militar; é mesmo o maior bloco hoje existente no planeta. Perante isto, e tendo em conta que a nossa Constituição foi promulgada em 1976, pergunto: algum português deu conta de que o nosso país, isto é, os seus governos, tenham promovido, ao longo dos últimos 46 anos, qualquer iniciativa no sentido de conduzir à dissolução da OTAN, ou à criação de um sistema de segurança colectiva, para se atingir uma ordem internacional capaz de assegurar a paz? Eu não dei. E Portugal até é membro fundador da organização. Mais grave ainda, porém, é que, de 1976 para cá, já outros países entraram para a OTAN, e mais outros candidatos agora se anunciam, aparentemente com grande satisfação dos nossos governantes.
Em suma: os governos, não só não laboram para a dissolução deste bloco político-militar, de acordo com o que a Constituição lhes impõe, como festejam o seu reforço! Não será isto atentar contra a Constituição, agindo determinadamente contra ela? Ou serão a Constituição, e o Estado de direito, simples adornos do Estado português?
António Reis, Vila do Conde
Uma visão assolapada da vida política
Uma recente crónica do jornalista João Miguel Tavares (J.M.T.) é bem o espelho da triste realidade da nossa vida político-partidária. A cultura que por cá prolifera é a de que um partido da oposição tem obrigatoriamente de destruir tudo o que o partido do governo pretenda fazer, mesmo em decisões que nada têm de ideológico, como a escolha de um aeroporto. É evidente que em questões que impliquem opções ideológicas, tal fará todo o sentido, uma solução proposta por um partido de esquerda terá a oposição de um de direita, e vice-versa. Lamentavelmente, os nossos quadros partidários estão preparados para a confrontação e nada dispostos à cooperação. No dizer do J.M.T., isso é ser “muleta” ou “bastão”…
Esta mentalidade tacanha apareceu agora na questão do aeroporto. O PSD não dará qualquer opinião sobre a solução que defende, para estar de mãos livres para deitar abaixo qualquer que seja a proposta do PS, pois isso é que é fazer oposição a sério. Compromissos e consensos para resolver os problemas do país? Que horror! Viva o bota-abaixismo!
José Carlos Pereira, Lisboa
Loas a quem as merece
Loas a quem as merece. Tal vem a propósito do vosso jornal, um bálsamo na nossa imprensa diária. Apraz-me realçar as vossas edições de domingo, onde procuro de imediato os artigos de Frei Bento Domingues e Carmen Garcia. A leitura dos seus textos permite-nos minutos de reflexão, que nos levam a acreditar e a lutar por um mundo melhor. Aos do dia 24 de julho juntou-se, também, o artigo de António Marujo, “O fascismo anticristão do Chega, a Igreja e os jornalistas”.
O artigo de Frei Bento, “Não é Deus que precisa das nossas orações”, permite-nos saber o que é a oração, mesmo para aqueles que se dizem sem religião. Carmen Garcia traz-nos mais uma situação de vivência solidária, que emerge de um grupo de jovens, que denunciam a Câmara do Porto, sobre um caso social, que fere a sensibilidade de qualquer cidadão. António Marujo delata o silêncio da Igreja portuguesa, perante o discurso antievangélico do Chega e a instrumentalização que esse partido faz da mesma. As suas refletidas leituras deram para encher o dia, a alma e apagar outros fogos.
João António Gomes Ferro, Estremoz
Cristãos no PÚBLICO
Começarei por dizer que não sou crente em nenhuma religião, mas leio com interesse os habituais artigos de Frei Bento Domingues e dou-os a ler a uma amiga católica praticante que não compra jornais. Venho agora de ler o excelente artigo do jornalista António Marujo, que tão poucas vezes vejo publicado no único jornal diário que leio. A ambos saúdo pelas lições de história bíblica com que nos presenteiam e que se adequam aos tempos que vivemos.
Domicília Costa, Vila Nova de Gaia