Kiev diz que Lula promove propaganda russa

Kiev acusa o ex-Presidente brasileiro de divulgar notícias falsas em prol da Rússia, dizendo, por exemplo, que a Rússia “deve liderar a nova ordem mundial”. Segundo a imprensa brasileira, Lula nunca proferiu tais declarações.

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Kiev acusa Lula de ter declarado que a Rússia “deve liderar a nova ordem mundial” Carlos Ezequiel Vannoni/EPA

O Centro de Combate à Desinformação, que integra o Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia, colocou o ex-Presidente brasileiro Lula da Silva numa lista de personalidades que as autoridades ucranianas acusam de promoverem propaganda russa.

Segundo a imprensa brasileira, que cita o documento, o ex-Presidente brasileiro e candidato às eleições presidenciais de Outubro é o único brasileiro nesta lista de 78 pessoas, que Kiev considera que praticam desinformação e notícias falsas em prol da Rússia.

“Fico vendo o Presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Essa cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado”, disse o ex-Presidente Lula da Silva, numa entrevista no início de Maio à revista norte-americana Time.

Esta é uma das razões para que Lula tenha sido integrado na lista ucraniana. Ainda assim, na mesma entrevista, Lula afirma que “[o Presidente da Rússia, Vladimir] Putin não deveria ter invadido a Ucrânia”, mas que “não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia”.

“Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a NATO”, declarou. A segunda justificação para o ex-Presidente brasileiro ser incluído nesta lista é que, segundo Kiev, Lula teria declarado que a Rússia “deve liderar a nova ordem mundial”.

Citado pela CNN Brasil, a assessoria de Lula afirma que esta frase nunca foi proferida pelo ex-Presidente brasileiro e defendeu que a primeira razão está descontextualizada. Segundo a imprensa brasileira, Lula nunca proferiu essas declarações.

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, reagiu esta terça-feira à inclusão do seu opositor à presidência: “Você viu a Ucrânia botando o Lula no rol dos desinformadores sobre a guerra? Não é por [sugerir] tomar cerveja para resolver o conflito. É outro problema”, afirmou Bolsonaro numa provocação a Lula da Silva que, em Abril, num comício, afirmou que a guerra “seria resolvida aqui no Brasil numa mesa tomando cerveja”.

Na semana passada, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro, tiveram uma conversa telefónica, a primeira desde que a Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de Fevereiro. Nesta conversa, segundo Kiev, Zelensky terá pedido a Bolsonaro a adesão do país às sanções impostas à Rússia.

Desde o início da guerra, Bolsonaro tem evitado condenar os ataques russos em território ucraniano e mantém uma posição “neutra” e “equilibrada” em relação ao conflito. Também tem criticado as sanções económicas que o Ocidente adoptou contra a Rússia, às quais o Brasil, a maior economia da América Latina, não aderiu.

De facto, enquanto o Ocidente tentava isolar a Rússia, Bolsonaro reforçou a sua cooperação com a administração de Putin, que visitou em Fevereiro, na véspera do início da guerra, para garantir o fornecimento de fertilizantes aos produtores agrícolas brasileiros.

Há duas semanas, o ministro das Relações Exteriores do Brasil disse que o país quer comprar o máximo de gasóleo à Rússia, com quem está a finalizar um acordo para adquirir este tipo de combustível a um preço mais barato.

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