FMI baixa previsão de crescimento na zona euro para 1,2% em 2023

Com os bancos centrais a ter de responder à inflação, Fundo está preocupado com a possibilidade de se virem a repetir os episódios de recessão e desemprego elevado do passado.

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Fundo projecta agora uma variação do PIB mundial de 3,2% em 2022 e de 2,9% em 2023 Yuri Gripas

A inflação mais persistente do que o previsto, e a política monetária mais apertada que será necessária para contê-la, fez o Fundo Monetário Internacional rever fortemente em baixa as suas previsões de crescimento para a economia mundial no próximo ano, deixando um aviso: se os bancos centrais medirem mal o impacto das suas medidas contra a inflação, o risco de uma recessão em 2023 é particularmente elevado.

Num relatório publicado alguns dias a seguir à decisão do Banco Central Europeu (BCE) de subir taxas de juro pela primeira vez em 11 anos e no dia anterior ao final de mais uma reunião da Reserva Federal em que se prevê nova subida das taxas, os responsáveis do Fundo mostraram uma visão mais sombria do rumo que deverá ser seguido, durante este ano e especialmente no próximo, pela economia mundial.

Na actualização do relatório World Economic Outlook que tinha sido apresentado em Abril, o FMI apresentou novas previsões para o crescimento e para a inflação das principais economias mundiais (para Portugal não não divulgados novos valores) e nas várias regiões do globo o resultado foi o mesmo: o Fundo prevê agora um crescimento mais lento.

Se em Abril, apontava para taxas de crescimento de 3,6%, tanto este ano como no próximo, agora projecta uma variação do PIB mundial de 3,2% em 2022 e de 2,9% em 2023.

As explicações são várias e aplicam-se de forma diferente nos diversos pontos do globo. “Vários choques atingiram uma economia mundial já enfraquecida: inflação acima do esperado em todo o mundo especialmente nos Estados Unidos e nas maiores economias europeias desencadeando a imposição de condições financeiras mais apertadas; um abrandamento pior do que o antecipado na China, reflectindo os surtos de covid-19 e os confinamentos; e novos contágios negativos da guerra na Ucrânia”, explicam os responsáveis do FMI no relatório agora publicado.

No entanto, o factor decisivo para a evolução da economia mundial está mesmo naquilo que está a acontecer na inflação. Com os preços a disparar durante este ano o FMI prevê uma inflação este ano de 6,6% nas economias avançadas e de 9,5% nos mercados emergentes e nos países em desenvolvimento , a política monetária vai tornar-se muito menos amiga do crescimento, com subidas de taxas de juro que tornam as condições financeiras menos favoráveis. E o resultado será menos crescimento do que o previsto em 2023.

Isto é especialmente verdadeiro para a zona euro, economia para a qual o FMI reduziu a sua previsão de crescimento este ano de 2,8% para 2,6%, cortando de forma ainda mais acentuada a projecção para 2023, de 2,3% para apenas 1,2%. “Isto reflecte os contágios da guerra na Ucrânia, assim como a assumpção de condições financeiras mais apertadas”, diz o Fundo.

"Uma tarefa difícil"

O FMI mostra estar particularmente preocupado com o risco de as medidas, já tomadas e ainda a adoptar pelos bancos centrais no combate à recessão, poderem vir a resultar numa recessão profunda das economias.

O Fundo defende que a prioridade das autoridades monetárias deve estar no combate à inflação, mas teme os efeitos que isso pode ter na economia. “Os principais bancos centrais mundiais responderam à inflação elevada subindo as taxas de juro. Mas saber qual é o montante exacto de aperto na política monetária que é necessário para baixar a inflação sem induzir uma recessão é uma tarefa difícil”, diz o Fundo, avisando que episódios passados de redução da inflação pelos bancos centrais tiveram custos elevados, “com o desemprego elevado a ser o preço de dominar a inflação”.

Para o Fundo, será crucial que os bancos centrais sejam capazes de ler bem a evolução de indicadores como os das expectativas de inflação ou dos salários, antecipando também o impacto de mudanças na política orçamental. Se os bancos centrais não interpretarem bem estes dados, “o ajustamento desinflacionista que aí vem pode tornar-se mais disruptivo do que o esperado”, diz o banco, alertando que, no actual cenário, “o risco de uma recessão é particularmente proeminente em 2023”, ano para o qual já se esperam logo à partida, taxas de crescimento baixas.

Neste momento, os principais bancos centrais estão, de forma acelerada, a subir as taxas de juro para tentar conter a inflação. O Banco Central Europeu decidiu, na passada quinta-feira, subir as suas principais taxas de juro de referência em 0,5 pontos percentuais, o primeiro aumento dos últimos 11 anos.

Já a Reserva Federal norte-americana, que começou a subir taxas em Março e que em Junho as elevou em mais 0,75 pontos percentuais, deverá anunciar esta quarta-feira uma nova subida da mesma dimensão.

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