INEM garante que faltam 365 técnicos de emergência, sindicato diz que são 500

Presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar contabilizou 500 técnicos em falta. No último concurso só foram preenchidas 49 das 178 vagas. INEM diz que, a 1 de Agosto, irá arrancar um novo reforço do dispositivo de meios.

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A 18 de Julho uma mulher caiu esperou cerca de hora e meia pelo INEM e acabou por morrer no hospital Manuel Roberto

Faltam 365 técnicos de emergência pré-hospitalar no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). O INEM confirmou ao PÚBLICO que este é o défice registado e que se tem verificado uma redução do número de candidatos aos concursos de recrutamento para esta área. Nos três últimos concursos abertos para contratação destes técnicos, o INEM recebeu 1633, 986 e 950 candidaturas para 100, 125 e 178 vagas, respectivamente, e no último só foram preenchidas 49 vagas, esclareceu.

Já o presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, Rui Lázaro, citado na edição do Correio da Manhã desta segunda-feira, diz que faltam 500 destes profissionais, e confirmou-o ao PÚBLICO. Explicou que o plano estratégico do INEM previa 1400 técnicos mas que só há pouco mais de 900. Por seu turno, o INEM responde que os planos estratégicos são previsões depois ajustadas e que para este ano estavam apenas previstas 1297 vagas.

Para Rui Lázaro a lacuna de técnicos justifica-se com a falta de atractividade de uma carreira que tem “um salário baixo, próximo do ordenado mínimo”. Segundo afirmou, o vencimento base é de 750 euros, com subsídio de turno de 187 euros.

O presidente do sindicato considera que a falta de técnicos é o principal factor que justifica a indisponibilidade de ambulâncias para as diversas emergências e exemplifica que em Junho “várias ambulâncias de Coimbra, Lisboa e Algarve estiveram mais de metade dos turnos paradas por causa de falta de técnicos”, dados que obteve através da consulta de escalas de ambulância, afirmou ao PÚBLICO.

Mas aponta ainda como outro factor o INEM ter adoptado “como política o transporte de praticamente quase todos os doentes, mesmo não urgentes”. “Se consumimos as ambulâncias em situações não urgentes, depois não há ambulâncias”.

No dia 18 de Julho uma mulher de 83 anos caiu num passeio em Campolide, Lisboa, esperou cerca de hora e meia pelo INEM, que não tinha ambulâncias disponíveis e acabou por morrer no hospital. Segundo o INEM disse na altura, todas as ambulâncias que foram contactadas, num total de 29 entidades, estavam ocupadas noutras missões de emergência.

Novo reforço de meios

Agora ao PÚBLICO o gabinete de imprensa do INEM afirma que, a 1 de Agosto, irá arrancar um novo reforço do dispositivo de meios, com mais dez ambulâncias que irão funcionar nas zonas que têm tido maior procura dos serviços de emergência médica. Desde o início de Junho que foi reforçado o dispositivo de meios para o Verão, acrescenta, operados pelos parceiros do INEM, com um acréscimo de 23 meios no país, com mais quatro ambulâncias a reforçar a área metropolitana de Lisboa.

Segundo o INEM, há uma avaliação da triagem efectuada pelo CODU e da triagem dos serviços de urgência, “com vista a melhorar a adequação da resposta aos pedidos de socorro” e que isso “permite aferir se a triagem realizada nos CODU do INEM consegue priorizar correctamente as ocorrências": em 2021, apenas em 2,4% das situações triadas nos CODU do INEM como ocorrência de vítima emergente que carece de intervenção imediata “poderá não ter sido necessário o envio de meios diferenciados, dado que no serviço de urgência a vítima foi classificada como pouco urgente/não urgente”, justifica.

Defende que “os fluxos de triagem em utilização nos CODU são protocolos médicos” que “aplicam um conjunto de perguntas aos contactantes, baseados em algoritmos de avaliação clínica, e que permitem averiguar a gravidade da situação clínica dos utentes e qual o meio de emergência médica pré-hospitalar que melhor se adequa a essa situação” - algoritmos estes que foram criados e validados por médicos em conjunto com a Ordem dos Médicos.

O INEM refere que “a indisponibilidade momentânea de meios no sistema é uma situação pontual, alheia à vontade de todos os intervenientes”. No caso da senhora que morreu, o INEM refere que juntamente com os parceiros do sistema “não se pouparam a esforços para concretizar o envio de uma ambulância o mais rapidamente possível, não conseguindo, infelizmente, fazê-lo num menor espaço de tempo”.

Entretanto, este organismo anunciou a abertura de um inquérito para apurar as circunstâncias que motivaram o atraso na assistência pré-hospitalar àquela mulher. Referiu que nesse dia foram recebidas 4715 chamadas de emergência no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), mais 952 do que em igual período de 2021. “Concretamente em relação à cidade de Lisboa, nos primeiros seis meses de 2022 há registo de 48.410 ocorrências, um acréscimo de 23% comparativamente a 2021”, precisa o INEM.

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