Morreu Paul Sorvino, o durão sensível do cinema e da televisão

Entre muitos outros papéis, foi Paulie Cicero em Tudo Bons Rapazes, fez parte do elenco de Lei & Ordem e, fora do estereótipo de durão, apareceu em filmes como Reds ou Nixon. Tinha 83 anos.

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Actor Paul Sorvino, o Paulie Cicero em Tudo Bons Rapazes, tinha 83 anos PHIL MCCARTEN/Reuters

Paul Sorvino, que fazia frequentemente de mafioso e polícia no cinema e televisão, mesmo que tentasse mostrar o seu lado mais sensível, morreu esta segunda-feira, aos 83 anos, em Jacksonville, na Florida. Com uma carreira de mais de 50 anos, era daqueles rostos que muitas pessoas atentas ao cinema e à televisão dos últimos anos reconheceriam, ainda que não lhe soubessem o nome.

Foi, por exemplo, o Paulie Cicero, o mafioso baseado em Paul Vario, um gangster da vida real, para quem Ray Liotta trabalhava em Tudo Bons Rapazes (Goodfellas, no original) de Martin Scorsese, mais calmo do que algumas das outras personagens, mas também assustador. Como explica Anita Gates no obituário para o New York Times, fazia de “homem calmo e frequentemente calado mas perigoso”. A causa da morte, segundo o jornal, não é ainda conhecida, mas sabe-se que o actor sofria de problemas de saúde há alguns anos.

Sorvino era também cantor de ópera, dedicava-se à escultura e parecia não apreciar ser associado apenas a papéis de durão. Chegou a querer abandonar o filme de Scorsese por lhe ser difícil relacionar-se com a personagem. Ainda assim, quando começou, com a sua filha Amanda, um santuário para resgate de cães, chamou-lhe “DogFellas” (também começaram um para cavalos). Amanda é argumentista, sendo que a sua outra filha, Mira, ganhou um Óscar em 1996. Foi um prémio que agradeceu ao pai, por, disse, lhe ter ensinado tudo o que sabia sobre representação. Na plateia, Paul Sorvino chorou. É também pai do actor Michael Sorvino.

Do palco ao grande ecrã

Nascido em Bensonhurst, Brooklyn, Nova Iorque, em 1939, Sorvino começou a ter aulas de canto aos oito anos e queria seguir a carreira. Fez parte do coro em espectáculos como South Pacific, e depois decidiu virar-se para o drama, tendo estudado na American Musical and Dramatic Academy. Fez algumas peças, mas ​trabalhou noutras áreas para poder pagar as contas. No início dos anos 1970, acabou por ser nomeado para um Tony pela peça That Championship Season, de Jason Miller, na Broadway. O próprio Miller, que Sorvino homenageou com uma escultura sua após a morte, adaptou-a ao cinema no início dos anos 1980, e Sorvino foi o único actor que transitou do palco para o grande ecrã.

Antes disso, estreou-se no cinema em 1970, numa comédia de Carl Reiner, Where's Poppa?, com quem trabalharia também no final dessa década em Oh, God!. Fez Made for Each Other, de Robert B. Bean, um cliente de uma prostituta que era roubado em Pânico em Needle Park, de Jerry Schatzberg, Um Toque de Classe, de Melvin Frank, com quem voltou a trabalhar em Perdido e Achado, ou Operação Golfinho, de Mike Nichols. Em nenhum destes papéis era o polícia ou o mafioso com os quais a sua carreira ficaria associada. Ainda nessa década, num raro papel de protagonista, fez par romântico com Anne Ditchburn em Um Amor em Nova Yorque, de John G. Avildsen. Também em 1978, foi mafioso em A Estrada do Amanhã, de Robert Mulligan, e um de vários ladrões em A Grande Jogada, de William Friedkin. Já como polícia, Friedkin dirigiu-o em A Caça, com Al Pacino, em 1980.

Nos anos 1980, foi Louis Freina, fundador do Partido Comunista Americano, em Reds, o épico de Warren Beatty sobre John Reed, o jornalista americano que cobriu a revolução russa. Voltaria a trabalhar várias vezes com Beatty, como por exemplo em Dick Tracy, de 1990, já como criminoso, ou Bulworth, de 1998, como agente de uma seguradora que quer influenciar um senador.

Fez também de advogado em Melanie, de Rex Bromfield, de mafioso para Blake Edwards em Uma Tremenda Confusão e foi protagonista de Vasectomy: A Delicate Matter​, malograda comédia de Robert Bruge. Nessa década, encabeçou a série de polícias The Oldest Rookie, que durou uma temporada, entre 1987 e 1988.

Mas o seu grande papel televisivo veio depois, também desse lado da lei, na segunda e terceira temporadas de Lei & Ordem, de Dick Wolf, no início dos anos 1990. Na mesma década, fez de mafioso em As Aventuras de Rocketeer, filme Disney de Joe Johnston, de Henry Kissinger, o político, diplomata e especialista em geopolítica e guerras, em Nixon, de Oliver Stone, do pai Capuleto em Romeu + Julieta, de Baz Luhrmann.

Continuou a trabalhar até ao fim, em inúmeros filmes um pouco menos mediáticos, bem como em séries como The Godfather of Harlem, onde fez do mafioso da vida real Frank Costello, ou a canadiana Bad Blood, também de mafiosos.

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