Justiça brasileira acusa três homens pelo homicídio de Bruno Pereira e Dom Phillips

Ministério Público acredita que assassinato ocorreu quando especialista em assuntos indígena pediu ao jornalista britânico que fotografasse o barco que os suspeitos usavam para fazer pesca ilegal.

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Os corpos de Phillips e Pereira foram encontrados a meio de Junho depois de os suspeitos confessarem o crime BRUNO KELLY/Reuters

Os três suspeitos de matarem Bruno Pereira e Dom Phillips numa zona remota da Amazónia, em Junho, foram formalmente acusados dos crimes de homicídio qualificado e ocultação de cadáveres e vão ser levados a julgamento. O Ministério Público brasileiro denunciou os três homens perante um juiz federal, que aceitou a acusação.

Amarildo da Costa Oliveira e Jefferson da Silva Lima confessaram os crimes à polícia depois de serem detidos, enquanto Oseney da Costa de Oliveira, irmão de Amarildo, foi acusado com base no relato de testemunhas.

O Ministério Público diz que Amarildo e Bruno Pereira, antropólogo especialista em assuntos indígenas, já se tinham desentendido várias vezes por causa de o primeiro fazer pesca ilegal em território indígena. Bruno pediu ao jornalista britânico Dom Phillips, com quem colaborava há muito, para fotografar o barco dos acusados – e terá sido esse o motivo para os homicídios, de acordo com o Ministério Público.

Bruno Pereira era o principal alvo do assassinato, acredita a procuradoria. Foi morto com três tiros, um deles pelas costas, segundo o G1, portal noticioso da TV Globo. Dom Phillips foi morto por estar com Pereira. Amarildo e Oseney são acusados de terem depois esquartejado os corpos e pegado fogo aos seus restos mortais.

Pereira e Phillips estavam a investigar várias práticas ilegais no Vale do Javari, uma zona remota da Amazónia com uma área superior à da Áustria, onde habitam 26 povos indígenas e onde a exploração de recursos naturais está proibida em resultado da demarcação oficial criada em 2001. Cabe às populações indígenas zelar pela gestão e preservação das terras com o apoio de institutos públicos, como a Fundação Nacional do Índio (Funai), para a qual Pereira trabalhou. Ainda assim, o tráfico de droga, o abate de árvores por madeireiros, o garimpo, a pesca e a caça são práticas habituais naquela região, onde a insegurança tem aumentado nos últimos anos.

Desde que tomou posse como Presidente do Brasil, em 2019, Jair Bolsonaro não criou nenhuma nova terra indígena e este ano gabou-se mesmo desse facto. Bolsonaro é desde há muito crítico da demarcação de terras para gestão indígena. O chefe de Estado foi acusado por activistas de não prestar a devida atenção ao desaparecimento de Pereira e Phillips.

Além dos três homens agora acusados, e que se mantêm na prisão, a Polícia Federal deteve ainda uma quarta pessoa, Rubens Villar, sobre o qual o Ministério Público ainda não se pronunciou. As autoridades estão a investigar se terá sido ele o mandante do crime.

Dom Phillips vivia no Brasil há mais de 15 anos e estava a escrever um livro sobre a floresta amazónica. Ele e Pereira estavam a viajar de barco pelo rio Itaquaí quando desapareceram. O seu destino era Atalaia do Norte, onde o rio Amazonas faz fronteira com o Peru, mas nunca lá chegaram.

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